David Brun escreveu:o movimento de "cervangelização" (...) NÃO É um movimento de separação e sim de união e de compartilhamento.
Eu também já enxerguei dessa forma, David, mas ultimamente tenho tido um ponto de vista um pouco diferente. Se, por um lado, existe união, como vc disse, entre aqueles que compartilham um certo gosto e um certo padrão de consumo cervejeiro, por outro lado, esse grupo frequentemente se entende como separado daqueles que não desenvolveram esse gosto. Existe união, mas existe também uma separação que é a contraparte e que demarca a fronteira entre os que estão "dentro do movimento" e "fora" dele. Toda forma de identidade cultural pressupõe, ao mesmo tempo, uma união interna e uma fronteira com o mundo exterior - no caso da "tribo cervejeira", acho que não é diferente.
O imperativo da "cervangelização" pressupõe, pela lógica, que os que estão "do lado de lá" ainda não foram capazes de ver a verdade, mas que, quando isso ocorrer, passarão a ter o mesmo gosto e o mesmo padrão de consumo que nós. Evangelizar é sempre falar àquele que pode ser "convertido". Acho isso perigoso. E o que eu vejo, na prática, é essa atitude num número bastante considerável de pessoas que se julgam "beerevangelizadas" (o que nem sempre corresponde a ter um conhecimento de verdade sobre cervejas). Pode ser que nossas amostras sejam diferentes, e eu conheça mais apreciadores de cerveja esnobes do que vc, ou pode ser simplesmente que estejamos olhando a mesma coisa por um viés um pouco diferente.
De qualquer modo, por esses motivos, não gosto de encarar a coisa como uma espécie de "doutrina" ou "movimento". Prefiro simplesmente pensar que existe uma grande variedade de cervejas (não "especiais" ou "gourmet", mas simplesmente cervejas de vários estilos) e que, se a pessoa tem interesse em conhecer coisas novas e acha que o gasto vale a pena, ela irá fatalmente provar algumas diferentes. Talvez goste de algumas, talvez prefira aquelas com as quais já estava acostumada. Se quiser uma indicação da minha parte, dou com o maior prazer (como sempre fiz, inclusive aqui no fórum). Mas eu prefiro encarar como uma processo orgânico do que como um "movimento" ou "missão".