"Já fui um cervejólatra, hoje sou um cervejólogo"

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14 anos 3 meses atrás #19148 por Pedro Fraga
Respondido por Pedro Fraga no tópico Re:
Por isso mesmo não curto o termo.

Assim como ando tentando evitar o "especiais" também, porque já cansei desse papo de cerveja rara para ocasiões especiais.
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14 anos 3 meses atrás #19149 por David Brun
Realmente, o termo em si eu também nunca curti realmente... mas é o termo que as pessoas mais usam, pelo menos é o que eu vejo que mais se usa e é um jeito de abreviar um pouco tudo o que significa mostrar a outras pessoas sobre a cultura cervejeira. Por isso depois de um tempo sem aceitar usá-lo, acabei usando-o também, fica mais fácil pois abrevia todas as características de um único "movimento" (ASPAS) com uma palavras só. Se surgir outra palavra menos "contundente", começarei a usá-la. (Também não gosto do termo "cervejas especiais", nem "gourmet", nem "premium"... mas, o que usar então?)

Eu acho, Marcussi, que vc está certo dizendo que há um perigo ali, quando alguns se vêem na posição de ditadores de regras sobre outros supostamente com menos conhecimento. Mas é uma parte pequena (ou menor pelo menos) e acho que vc está exagerando e generalizando um pouco ao dizer: "A cada dia que passa, tenho visto menos valor e importância em coisas como "cervangelização" e outros rótulos que presspõem uma divisão dos aprenciadores de cerveja entre os "mais qualificados" e os "menos qualificados"."
Acho isso porque o movimento de "cervangelização" (com o perdão de uma palavra que eu sei que tem várias pessoas que não gostam, inclusive eu) NÃO É um movimento de separação e sim de união e de compartilhamento. Há sim pessoas dentro dele que procuram uma elitização ou, até sem querer, o levam a isso, mas esse, que eu saiba não é o objetivo da "cervangelização". Da maneira que vc generalizou, parece que o movimento inteiro de beerevanlização/cervangelização/ou como quiser chamar, por si só é algo que segrega (quando vc falou que "presspõem uma divisão dos aprenciadores de cerveja"), quando na realidade o que segrega não é o movimento em si, mas uma - arrisco a dizer, pequena - parte das pessoas que fazem parte de tal.
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14 anos 3 meses atrás #19150 por Alexandre Almeida Marcussi
Respondido por Alexandre Almeida Marcussi no tópico Re:
David Brun escreveu:

o movimento de "cervangelização" (...) NÃO É um movimento de separação e sim de união e de compartilhamento.

Eu também já enxerguei dessa forma, David, mas ultimamente tenho tido um ponto de vista um pouco diferente. Se, por um lado, existe união, como vc disse, entre aqueles que compartilham um certo gosto e um certo padrão de consumo cervejeiro, por outro lado, esse grupo frequentemente se entende como separado daqueles que não desenvolveram esse gosto. Existe união, mas existe também uma separação que é a contraparte e que demarca a fronteira entre os que estão "dentro do movimento" e "fora" dele. Toda forma de identidade cultural pressupõe, ao mesmo tempo, uma união interna e uma fronteira com o mundo exterior - no caso da "tribo cervejeira", acho que não é diferente.

O imperativo da "cervangelização" pressupõe, pela lógica, que os que estão "do lado de lá" ainda não foram capazes de ver a verdade, mas que, quando isso ocorrer, passarão a ter o mesmo gosto e o mesmo padrão de consumo que nós. Evangelizar é sempre falar àquele que pode ser "convertido". Acho isso perigoso. E o que eu vejo, na prática, é essa atitude num número bastante considerável de pessoas que se julgam "beerevangelizadas" (o que nem sempre corresponde a ter um conhecimento de verdade sobre cervejas). Pode ser que nossas amostras sejam diferentes, e eu conheça mais apreciadores de cerveja esnobes do que vc, ou pode ser simplesmente que estejamos olhando a mesma coisa por um viés um pouco diferente.

De qualquer modo, por esses motivos, não gosto de encarar a coisa como uma espécie de "doutrina" ou "movimento". Prefiro simplesmente pensar que existe uma grande variedade de cervejas (não "especiais" ou "gourmet", mas simplesmente cervejas de vários estilos) e que, se a pessoa tem interesse em conhecer coisas novas e acha que o gasto vale a pena, ela irá fatalmente provar algumas diferentes. Talvez goste de algumas, talvez prefira aquelas com as quais já estava acostumada. Se quiser uma indicação da minha parte, dou com o maior prazer (como sempre fiz, inclusive aqui no fórum). Mas eu prefiro encarar como uma processo orgânico do que como um "movimento" ou "missão".

ocrueomaltado.blogspot.com
Porque cervejas são boas para beber, mas também são boas para pensar
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14 anos 3 meses atrás #19151 por Sergio Pimentel
A grande sacada de tudo isso é respeitar e ser respeitado. Todos temos gostos e opiniões diversas, mas que devem ser ouvidas e respeitadas, por mais controversas que sejam aos ouvidos dos outros.
Todos estão corretos nas suas colocações...mas uma coisa importante que não foi dita é que (salvo alguns mais, digamos assim, abonados) todos começamos com as benditas (ou malditas, :huh: ) cervejas de massa!
Estava eu lendo o que os estimados escreveram e pensando...quantas vezes eu e meus amigos não deixamos de ir a algum bar por não ter a "nossa" Antartica ou Kaiser ou ainda a Malt 90 (alguém lembra dessa?? :lol: ).
O que eu acho é que, apesar de termos apurado nosso conhecimento e paladar, não podemos esqueçer o passado, donde viemos e o que bebemos...(filosófico não?!?!?!? :lol: :P :lol: :P ).
Abraços e saúde a todos.
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14 anos 3 meses atrás - 14 anos 3 meses atrás #19152 por Milu Lessa
Nossa, a coisa aqui tá ficando acadêmica, hein? ;)

De um modo geral, me vejo mais inclinada a concordar com o confrade Marcussi. Se de fato ocorre uma união entre as pessoas beervangelizadas, concomitantemente ocorre uma separação das não beerevangelizadas, que ainda não viram a "luz". Eu mesma estava caindo nisso, até voltar da Europa e começar a me questionar se vale mesmo a pena pagar 50 pilas numa garrafa de 750 ml, seja ela qual for. No começo desse anos comprei algumas cervejas bem caras, mas se fosse agora não repetiria. Antes estava torcendo a cara pros meus amigos que bebem BCB, mas comecei a ver um certo sentido em gastar menos de R$ 20,00 e beber 12 latinhas, do que R$ 20,00 pra beber uma única e solitária long neck. Comecei então a me limitar a indicar cervejas pra um casal de amigos que começou a se interessar mais por diferentes estilos e sugerir que meus amigos brahmeiros gastem R$ 0,50 a mais por latinha e comprem uma cerveja que tenha lúpulo e malte mesmo, como Gold ou Heineken. Assim bebem uma cerveja de melhor qualidade e continuam gastando pouco.

Quando eu paro e penso, tenho achado difícil justificar pros outros (e pra mim mesma), que uma cerveja custe de 20 pilas pra cima. A Blauw é mesmo uma excelente cerveja, mas no país de origem custa 7 dinheiros deles; isso ela vale com certeza, já 60 dinheiros nossos, não sei dizer, mas sinto que não. Por outro lado, a Eisenbahn custa em média 4 paus e tem ótimos rótulos. Quando meu estoque acabar, provavelmente viverei de Eisenbahn, Bamberg, Leffe e as que estiverem baratas no Makro. Numa ocasião especial, umas mais caras e olhe lá. Como já disseram antes em outro tópico, fica dicífil chamar de boa nova, quando a boa nova é em média de 5 a 10 vezes mais cara que a cerveja que o cara bebe no dia-a-dia. :S
Ultima edição: 14 anos 3 meses atrás por Milu Lessa.
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14 anos 3 meses atrás #19153 por Marcio Rossi
Agradeço aos colegas que me dedicaram gentilezas, valeu!

Sobre a questão, concordo com a denominação que o Marcussi enunciou: apreciador interessado; é um jeito mais simpático que os neologismos sugeridos.

É valido também o alerta sobre o cuidado com o posicionamento, postura e abordagem em relação à cerveja, uma vigilância constante para evitar o pedantismo, a soberba e afetação típicos de outras áreas da gastronomia.

Esse é o décimo mandamento da cerveja artesanal( brookstonbeerbulletin.com/craft-beers-10-commandments/ ):

"X - Não seja um "pé no saco"; o mais importante, não imponha seu conhecimento aos outros - seja sempre positivo, acolhedor e amigável quando falar de cerveja"

A brincadeira tem seu sentido.

Prefiro falar em divulgação da cultura cervejeira, nao gosto do termo "evangelismo" porque remete a essa coisa do "eu sei, vc não sabe, aprenda comigo" que é, em certa medida, meio arrogante.

E sobre preço, bom, descamba sempre pra preço o tópico, acho que já foi dito e repetido tudo que se possa comentar sobre o argumento.
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