Colorado estaria em negociação com Ambev

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10 anos 1 mês atrás #61936 por Claudinei  

Odimi Toge escreveu: O Márcio Beck, em sua coluna, já falou sobre um estudo que estimou a perda de 40% do amargor em cervejas industrializadas nos últimos 20 anos.

oglobo.globo.com/economia/cervejas-indus...ponta-estudo-8480998


Tá aí... não falei? :laugh:
 
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10 anos 1 mês atrás - 10 anos 1 mês atrás #61939 por Alexandre Almeida Marcussi
Do meu ponto de vista, o discurso que opõe as "micros" às "macros" se baseia excessivamente em uma fé na chamada "revolução artesanal", mais especificamente, em uma crença ingênua de que as microcervejarias não estariam pautadas pela busca do lucro e pelo anseio de crescimento do market share. Os consumidores me parecem muito prontos para engolir o papinho de que os microcervejeiros fazem tudo por "paixão" e "inovação", e de que são fundamentalmente diferentes dos executivos de uma grande empresa como a Ab-InBev. Eu fico me perguntando o quanto disso não é mera retórica, encobrindo práticas capitalistas simples e diretas com uma aura de "revolucionarismo" e "altruísmo" para vender para um nicho de mercado que busca se diferenciar dos consumidores "de massa". Não questiono a paixão dos microcervejeiros pelo seu produto, mas me questiono o quanto eles podem ignorar as exigências do mercado e abandonar a busca pelo lucro só por causa dessa paixão.

Os princípios não diferem tanto assim se compararmos uma AB-InBev de uma Colorado: o que difere é mais a escala. E, à medida que as micros crescem e se capitalizam, parece natural que elas comecem a atender demandas econômicas na escala do grande capital. Isso me parece um tipo de desenvolvimento natural, que pertence à lógica do mercado de capitais, e não especificamente à Ambev. Acho que estamos vendo os desdobramentos de uma Wäls ou uma (possível) Colorado atrelados a um capital de dimensões maiores do que antes. O fato de ser AB-InBev ou não, isso diz muito pouco para mim.

As pessoas têm falado em inovação. Ora, será que as nossas microcervejarias brasileiras são tão inovadoras assim quanto elas gostariam de nos fazer acreditar? Quantas delas realmente investiram em produtos que não tinham nenhuma demanda no mercado? Não é verdade que a maioria das micros de repente começou a produzir estilos americanos quando o mercado pediu isso? Não é verdade que várias se aventuraram na maturação em madeira somente quando o mercado já se habituara às wood-aged importadas? Não é verdade que as novas sour ales que estão saindo esperaram por um momento propício em que o mercado artesanal começou a demandar por elas? Claro que havia um cálculo de mercado por trás disso tudo, em nenhum momento se tratou apenas de "inovação" e de um investimento "às cegas". Pode até ser o caso lá no mercado norte-americano nos idos dos anos 1990, mas certamente não tem sido o caso do mercado artesanal brasileiro.

Por mim, uma micro permanecer independente ou integrar a Ab-InBev muda muito pouco de realmente importante no cenário.

ocrueomaltado.blogspot.com
Porque cervejas são boas para beber, mas também são boas para pensar
Ultima edição: 10 anos 1 mês atrás por Alexandre Almeida Marcussi.
Os seguintes usuário(s) disseram Obrigado: Odimi Toge, David Ortiz
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Marcussi, concordo plenamente que acreditar que o binômio "busca" vs. "não busca" pelo lucro é extremamente ingênuo. No entanto, a ideia de que "Por mim, uma micro permanecer independente ou integrar a Ab-InBev muda muito pouco de realmente importante no cenário." parece-me complicada.
Claro que quando uma mega empresa do setor compra literalmente apenas uma ou duas micros há pouco impacto num primeiro momento. No entanto, se a compra de uma ou duas micros (ainda que com razoável peso simbólico, como Wals e Colorado) indicar o início de um processo de avanço sobre o setor, temos objetivamente o aumento do poder de mercado da já imensa empresa, contribuindo para maior concentração nesse mercado.
O aumento do poder da Ab-InBev aumenta, como disse anteriormente, seu poder de "pautar" esse mercado; algo deletério em qualquer setor: comunicação, medicamentos, soja, etc. Ninguém sabe o tamanho do interesse da Ab-InBev em adquirir as micros nacionais, mas não dá para negar que qualquer avanço sobre as micros implica em maior concentração no mercado, levando a maior poder para impor regras, práticas e preços nesse setor. Estamos no início de um processo a ser observado atentamente.
Os seguintes usuário(s) disseram Obrigado: Diogo Olivares
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10 anos 1 mês atrás #61942 por Pedro Fraga
Assinando embaixo do Marcussi :)

Esse papo de revolução já deu, né? Agora tem revolução do queijo, food revolution. Resolveram o problema da fome e acesso a alimentação? Ah, ainda estamos falando de produtos 'gourmet' para um nicho de mercado ...
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10 anos 1 mês atrás #61945 por Gabriel Lucas Scardini Barros

Odimi Toge escreveu: Porém eu acho que o intuito das grandes comprarem as artesanais é justamente abocanhar uma fatia do mercado de quem "entende" de cerveja boa e por isso não faria sentido abrirem mão da qualidade. Por isso, na minha opinião (após considerar todos os argumentos dos confrades), a maior preocupação acaba sendo apenas a questão da canibalização do mercado.


Concordo.

Para mim o único problema (o que inclusive já acontece nos EUA e de certa forma aqui mas no mercado das SAL) é que com uma linha grande e variada, a AmBev vai tentar tomar todos os pontos de vendas possíveis e ter exclusividade sobre eles.

Do ponto de vista de um comerciante normal, ele terá uma boa carta, não precisará tratar com vários fornecedores e ainda há questões de vantagens não muito honestas.

Abraços,

Gabriel Lucas
factoide.com.br
Os seguintes usuário(s) disseram Obrigado: Diogo Olivares
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10 anos 1 mês atrás #61946 por Luan Ferre
Adicionando três pontos nessa discussão:

1- A principal característica do consumidor de cervejas especiais é a "infidelidade". Nós gostamos de experimentar novas cervejas e poucas vezes tomamos mais de uma ou duas vezes o mesmo rótulo, a não ser que esse seja muito agradável e/ou tenho um custo x benefício muito bom. Se a Ambev conseguir colocar no mercado uma cerveja honesta a preço bom (na minha opinião, já fez com a linha de especiais a R$6,50 a LN nos mercados), vai ser a cerveja do dia a dia, mas não vai impedir ninguém de tomar as demais.
2 - Os principais pontos de vendas de cervejas especiais (ao menos em SP), vivem justamente desse anseio de novidades. Para esse locais, quanto maior a variedade, melhor (quantos lugares se orgulham de ter XX rótulos!). Esses lugares com certeza não serão pontos exclusivos da Ambev.
3 - Por interesse de ambas as partes, a Ambev não vai comprar todo mundo, ou seja, ainda teremos 99% dos rótulos disponíveis "off-ambev".

Em suma, ainda teremos rótulos variados nos pontos que sempre vamos, o mundo não vai acabar pra gente...

Pra mim, a real preocupação é política, não tenho dúvidas que existe pressão sob o governo para debilitar as micros, mas isso independe de comprar cervejarias ou não. Quem entrou nesse ramo já deveria ter ciência desse concorrente como maior "threat" do seu ramo. A Ambev já é gigante, comprar uma ou duas cervejarias não faz ela mais ou menos ameaçadora...
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