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Alexandre Almeida Marcussi escreveu: Do meu ponto de vista, o discurso que opõe as "micros" às "macros" se baseia excessivamente em uma fé na chamada "revolução artesanal", mais especificamente, em uma crença ingênua de que as microcervejarias não estariam pautadas pela busca do lucro e pelo anseio de crescimento do market share. Os consumidores me parecem muito prontos para engolir o papinho de que os microcervejeiros fazem tudo por "paixão" e "inovação", e de que são fundamentalmente diferentes dos executivos de uma grande empresa como a Ab-InBev. Eu fico me perguntando o quanto disso não é mera retórica, encobrindo práticas capitalistas simples e diretas com uma aura de "revolucionarismo" e "altruísmo" para vender para um nicho de mercado que busca se diferenciar dos consumidores "de massa". Não questiono a paixão dos microcervejeiros pelo seu produto, mas me questiono o quanto eles podem ignorar as exigências do mercado e abandonar a busca pelo lucro só por causa dessa paixão.
Eduardo Guimarães escreveu: Marcussi, concordo plenamente que acreditar que o binômio "busca" vs. "não busca" pelo lucro é extremamente ingênuo. No entanto, a ideia de que "Por mim, uma micro permanecer independente ou integrar a Ab-InBev muda muito pouco de realmente importante no cenário." parece-me complicada.
Claro que quando uma mega empresa do setor compra literalmente apenas uma ou duas micros há pouco impacto num primeiro momento. No entanto, se a compra de uma ou duas micros (ainda que com razoável peso simbólico, como Wals e Colorado) indicar o início de um processo de avanço sobre o setor, temos objetivamente o aumento do poder de mercado da já imensa empresa, contribuindo para maior concentração nesse mercado.
O aumento do poder da Ab-InBev aumenta, como disse anteriormente, seu poder de "pautar" esse mercado; algo deletério em qualquer setor: comunicação, medicamentos, soja, etc. Ninguém sabe o tamanho do interesse da Ab-InBev em adquirir as micros nacionais, mas não dá para negar que qualquer avanço sobre as micros implica em maior concentração no mercado, levando a maior poder para impor regras, práticas e preços nesse setor. Estamos no início de um processo a ser observado atentamente.
Claudinei escreveu: Pergunte pra um Alexandre Bazzo e depois para um grande investidor da AB-Ibev até que ponto ele estaria disposto a sacrificar a qualidade e originalidade de seus produtos visando um lucro maior. Será que as respostas seriam idênticas? Creio que não.
Alexandre Almeida Marcussi escreveu: Se a AmBev um dia viesse a comprar a Bamberg e adulterasse as receitas, o público cativo do Bazzo migraria para outra cervejaria que não está disposta a fazer essa concessão. É como o Luan Ferre disse: enquanto houver público para as independentes, elas continuarão existindo. Se a AmBev quiser atingir esse público, vai ter de manter o padrão de qualidade das suas cervejas artesanais (como eu acho que irá fazer com a Wäls por muito tempo).
Alexandre Almeida Marcussi escreveu: Mas é por isso mesmo que o público do Alexandre Bazzo não é o público da AmBev. Enquanto houver gente disposta a comprar a cerveja pela receita e pelo respeito à tradição, haverá Alexandres Bazzos no mercado. Se a AmBev um dia viesse a comprar a Bamberg e adulterasse as receitas, o público cativo do Bazzo migraria para outra cervejaria que não está disposta a fazer essa concessão. É como o Luan Ferre disse: enquanto houver público para as independentes, elas continuarão existindo. Se a AmBev quiser atingir esse público, vai ter de manter o padrão de qualidade das suas cervejas artesanais (como eu acho que irá fazer com a Wäls por muito tempo).
Alexandre Almeida Marcussi escreveu: Olhem para o mercado de vinhos, em que esse processo está mais consolidado com grandes grupos como a Miolo ou a Concha y Toro. Aposto que a dinâmica do mercado cervejeiro caminha mais nesse sentido do que no sentido de transformar todas as artesanais em Devassas Bem Loiras.
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