Colorado estaria em negociação com Ambev

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10 anos 1 mês atrás - 10 anos 1 mês atrás #61947 por Claudinei  

Alexandre Almeida Marcussi escreveu: Do meu ponto de vista, o discurso que opõe as "micros" às "macros" se baseia excessivamente em uma fé na chamada "revolução artesanal", mais especificamente, em uma crença ingênua de que as microcervejarias não estariam pautadas pela busca do lucro e pelo anseio de crescimento do market share. Os consumidores me parecem muito prontos para engolir o papinho de que os microcervejeiros fazem tudo por "paixão" e "inovação", e de que são fundamentalmente diferentes dos executivos de uma grande empresa como a Ab-InBev. Eu fico me perguntando o quanto disso não é mera retórica, encobrindo práticas capitalistas simples e diretas com uma aura de "revolucionarismo" e "altruísmo" para vender para um nicho de mercado que busca se diferenciar dos consumidores "de massa". Não questiono a paixão dos microcervejeiros pelo seu produto, mas me questiono o quanto eles podem ignorar as exigências do mercado e abandonar a busca pelo lucro só por causa dessa paixão.


Grande Marcussi! Opinião muito bem colocada, como sempre. Entretanto, supor que os demais consumidores acreditem que as microcervejarias vivam meramente de "paixão" e não objetivam lucros e crescimento é subestimar por demais a inteligência alheia. Por favor, não me ofenda dessa forma... :laugh:

Embora não seja empreendedor, creio que existam diferenças significativas entre a mentalidade de um dono/gestor de microcervejaria e investidores/controladores de uma megacorporação que atua em ramos diversos. Este segundo grupo certamente não teria nenhum tipo de escrúpulo em modificar uma determinada receita visando pura e simplesmente um aumento na lucratividade, até levando em conta que a maioria dos consumidores não é composta por "degustadores experientes". Pergunte pra um Alexandre Bazzo e depois para um grande investidor da AB-Inbev até que ponto ele estaria disposto a sacrificar a qualidade e originalidade de seus produtos visando um lucro maior. Será que as respostas seriam idênticas? Creio que não. Só avise antes o investidor mencionado de que ele não pode mentir! :laugh:
 
Ultima edição: 10 anos 1 mês atrás por Claudinei  . Razão: Correção erros de purtugays
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10 anos 1 mês atrás #61948 por Claudinei  

Eduardo Guimarães escreveu: Marcussi, concordo plenamente que acreditar que o binômio "busca" vs. "não busca" pelo lucro é extremamente ingênuo. No entanto, a ideia de que "Por mim, uma micro permanecer independente ou integrar a Ab-InBev muda muito pouco de realmente importante no cenário." parece-me complicada.
Claro que quando uma mega empresa do setor compra literalmente apenas uma ou duas micros há pouco impacto num primeiro momento. No entanto, se a compra de uma ou duas micros (ainda que com razoável peso simbólico, como Wals e Colorado) indicar o início de um processo de avanço sobre o setor, temos objetivamente o aumento do poder de mercado da já imensa empresa, contribuindo para maior concentração nesse mercado.
O aumento do poder da Ab-InBev aumenta, como disse anteriormente, seu poder de "pautar" esse mercado; algo deletério em qualquer setor: comunicação, medicamentos, soja, etc. Ninguém sabe o tamanho do interesse da Ab-InBev em adquirir as micros nacionais, mas não dá para negar que qualquer avanço sobre as micros implica em maior concentração no mercado, levando a maior poder para impor regras, práticas e preços nesse setor. Estamos no início de um processo a ser observado atentamente.


Muito bem exposto, Eduardo. Estou de acordo contigo.
 
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10 anos 1 mês atrás #61956 por Alexandre Almeida Marcussi

Claudinei   escreveu: Pergunte pra um Alexandre Bazzo e depois para um grande investidor da AB-Ibev até que ponto ele estaria disposto a sacrificar a qualidade e originalidade de seus produtos visando um lucro maior. Será que as respostas seriam idênticas? Creio que não. 


Mas é por isso mesmo que o público do Alexandre Bazzo não é o público da AmBev. Enquanto houver gente disposta a comprar a cerveja pela receita e pelo respeito à tradição, haverá Alexandres Bazzos no mercado. Se a AmBev um dia viesse a comprar a Bamberg e adulterasse as receitas, o público cativo do Bazzo migraria para outra cervejaria que não está disposta a fazer essa concessão. É como o Luan Ferre disse: enquanto houver público para as independentes, elas continuarão existindo. Se a AmBev quiser atingir esse público, vai ter de manter o padrão de qualidade das suas cervejas artesanais (como eu acho que irá fazer com a Wäls por muito tempo).

Olhem para o mercado de vinhos, em que esse processo está mais consolidado com grandes grupos como a Miolo ou a Concha y Toro. Aposto que a dinâmica do mercado cervejeiro caminha mais nesse sentido do que no sentido de transformar todas as artesanais em Devassas Bem Loiras.

ocrueomaltado.blogspot.com
Porque cervejas são boas para beber, mas também são boas para pensar
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10 anos 1 mês atrás #61957 por Claudinei  

Alexandre Almeida Marcussi escreveu: Se a AmBev um dia viesse a comprar a Bamberg e adulterasse as receitas, o público cativo do Bazzo migraria para outra cervejaria que não está disposta a fazer essa concessão. É como o Luan Ferre disse: enquanto houver público para as independentes, elas continuarão existindo. Se a AmBev quiser atingir esse público, vai ter de manter o padrão de qualidade das suas cervejas artesanais (como eu acho que irá fazer com a Wäls por muito tempo).


Tomara mesmo que o seu otimismo se concretize! Eu sempre fico com um pé atrás nessas aquisições pelos pensamentos já expostos em posts anteriores, muito embora temos os exemplos de Baden Baden e Eisenbahn que - ainda - mantém um bom nível de qualidade em minha modesta opinião.
 
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10 anos 1 mês atrás #61960 por Edson Marquezani Filho

Alexandre Almeida Marcussi escreveu: Mas é por isso mesmo que o público do Alexandre Bazzo não é o público da AmBev. Enquanto houver gente disposta a comprar a cerveja pela receita e pelo respeito à tradição, haverá Alexandres Bazzos no mercado. Se a AmBev um dia viesse a comprar a Bamberg e adulterasse as receitas, o público cativo do Bazzo migraria para outra cervejaria que não está disposta a fazer essa concessão. É como o Luan Ferre disse: enquanto houver público para as independentes, elas continuarão existindo. Se a AmBev quiser atingir esse público, vai ter de manter o padrão de qualidade das suas cervejas artesanais (como eu acho que irá fazer com a Wäls por muito tempo).


Já tive discussões infinitas com algumas pessoas sobre isso e acho que, no final das contas, cai um pouco numa questão de crença, porque não tem como dizer como as coisas seriam se o mundo fosse diferente. Alguns acham que o mercado dá conta de auto-regular tudo e garantir que todo mundo vai ter o que deseja. Eu, particularmente, não acho que as regras do Capital dão conta de resolver todos os problemas de forma tão simples assim como você diz. Isso porque a força das duas partes (consumidor X produtor) não são tão equalizadas assim. Como já foi mencionado por aqui, grandes empresas não simplesmente oferecem os produtos que queremos comprar, eles tentar determinar o que a gente gosta. E, embora eu tenha certeza de que sempre haverá Alexandres Bazzos por aí (alguém avisa ele que ele acabou de se tornar substantivo comum?) , não tenho tanta certeza que sempre haverá Bambergs, porque (e aí sim, entram as regras do Capital) uma empresa não consegue existir só pela vontade de alguém, e precisa se sustentar. E, dependendo das circunstâncias, o bom Alexandre se veja obrigado a fazer a cerveja em casa e compartilhar com os amigos só.

Eu concordo que a cena brasileira realmente é mais "oportunista", no sentido de que muita coisa já surgiu com uma perspectiva mais clara de negócio, diferente da cena americana original, que surgiu do homebrewing, com uma dose maior de "coração" na motivação.

Não é uma questão de ser ingênuo e achar que todo mundo é bonzinho e só quer me proporcionar felicidade. Mas, ainda assim, vejo os objetivos e modus operandi de uma Ambev e de uma artesanal separadas por anos luz de distância.
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10 anos 1 mês atrás #61961 por Filipe Sarmento

Alexandre Almeida Marcussi escreveu: Olhem para o mercado de vinhos, em que esse processo está mais consolidado com grandes grupos como a Miolo ou a Concha y Toro. Aposto que a dinâmica do mercado cervejeiro caminha mais nesse sentido do que no sentido de transformar todas as artesanais em Devassas Bem Loiras.


Já viu o documentário Mondovino? Em certa altura do filme aparece um funcionário de um grande grupo vinicultor revoltado, e diz que eles engarrafam o mesmo vinho com rótulos diferentes, cada um custando, é claro, valores bem diferentes...
Não tem jeito, grandes grupos não tem relação relação próxima com o produto produzido, e sem essa relação perde-se o respeito pelo que é produzido. Será que os grandes executivos da AB-Inbev, quando querem relaxar em casa, bebem Brahma, Skol ou Antárctica? É claro que há exceções, nem tudo de um grande grupo é ruim, assim como nem tudo que é "artesanal" é bom.
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