O meio cervejeiro é "machista"?

Fernando Passos escreveu: Milu, você reclama do uso do termo feminazi, e aponta que ele é usado como ad nauseum, mas no final do seu comentário utiliza-se do mesmo recurso contra o "homem branco, heterossexual, de bom nível econômico´ (o grande vilão dos séculos XX e XXI, se for cristão e/ou conservador pior ainda). Homens brancos, de acordo com o IBGE somam 23% da população brasileira, se considerarmos só os de bom nível econômico penso que não passem de 10%, em que mundo isso é uma maioria?

Agora voltando ao tema em si, acho que o que o Jota quis apontar é que há uma subjetividade muito grande nestes casos citados em que foi apontado machismo (casos da Evil Twin e da Cervejaria Nacional, e.g.).

Recentemente o (péssimo) aplicativa iFood lançou duas propagandas igualmente idiotas em que um dos cônjuges reclama que não tem comida em casa e o outro usa o aplicativo. Numa o cônjuge ´tonto´ é homem e na outra mulher. Por algum motivo, que desconheço, retiraram a da mulher ´tonta´.
Pode ter quem se ofenda com isso e veja machismo, agora isso quer dizer que o mundo de quem pede comida em casa é machista?

Finalizando, pessoas que repercutem esteriótipos são machistas ou apenas idiotas? Eu acho que a maioria é só idiota mesmo...

Fernando, eu acredito que a diferenciação de "estereótipo machista x algo idiota" pode se dar nos seguintes termos: se uma determinada imagem ou discurso publicitário reforça o papel subalterno da mulher em relação ao homem (mulher como alguém que só sabe bater o carro ou estourar o limite do cartão de crédito, mulher como um ser incapaz de tomar decisões racionais, etc) geralmente defende-se que o estereótipo veiculado na estratégia publicitária da empresa x, y, ou z reforça o machismo na sociedade. Ou seja, ele não é apenas idiota, mas contribui para a construção cotidiana da imagem da mulher como um ser intelectualmente menos capaz do que o homem. No que tange a repercussão de estereótipos em campanhas publicitárias o debate tende a ir por aí, ainda que, obviamente, não haja pleno consenso de onde começa e onde termina um discurso machista nesses meios.

Milu, eu não usei o termo "feminazi" como sinônimo de feminista!
Pra mim são duas coisas bem diferentes. Feministas lutam por direitos e tem aspirações legítimas, e contra elas não tenho nada contra.
Feminazis são as que vêem machismo, etc em absolutamente TUDO e TODOS. O uso do termo foi nesse sentido, e apesar de sim, ter usado tom jocoso, não estava brincando...
p.s.: Aliás, no meu comentário inicial, incluiria, junto com as feminazis, a patrulha do politicamente correto.

Gbrl Qrz escreveu: Milu, eu não usei o termo "feminazi" como sinônimo de feminista!
Pra mim são duas coisas bem diferentes. Feministas lutam por direitos e tem aspirações legítimas, e contra elas não tenho nada contra.
Feminazis são as que vêem machismo, etc em absolutamente TUDO e TODOS.

O problema, Gabriel, é que é você quem está estabelecendo a fronteira entre o que seria "aspiração legítima" e o que seria achar pelo em ovo. Você está dizendo às mulheres com o que elas podem ou não se incomodar para serem "feministas legítimas" ou "feminazis". Ou seja, no limite, é como se você estivesse dizendo que feminazis são todas as feministas com as quais você não concorda. A sua opinião - e não a dos incomodados - é o parâmetro.

E, no fim das contas, se você perguntar às ativistas do movimento feminista, de todas as correntes e posições, é muito possível que você acabe considerando todas como "feminazis". Por exemplo, até hoje não ouvi nenhuma feminista que achasse que não tem nenhuma forma de machismo no rótulo da Evil Twin Imperial Brazilian Wax. Talvez você achasse que elas estão vendo machismo em tudo, e que portanto seriam "feminazis". Se é assim, então é verdade que, no seu discurso, você está (mesmo que sem querer), estabelecendo uma sinonímia entre "feminista" e "feminazi". (Estou me baseando na pressuposição de que você não vê nada de errado no rótulo da Evil Twin, mas corrija-me se eu estiver errado e se você achar que essa reclamação feminista é legítima)

P.S.: gente, se vocês querem ser levados a sério no diálogo com as feministas e seus simpatizantes, parem de usar o termo feminazi. Ele é pejorativo e não tem base conceitual nenhuma. Não existe aproximação conceitual possível entre feminismo (que é um discurso da diferença) e nazismo (que é um discurso da unidade), então procurem um termo conceitualmente mais adequado. "Feminazi" serve só para desqualificar o discurso do outro e será, corretamente, interpretado como um insulto.

Eu achei que no caso da Evil Twin foi uma tempestade num copo d´água, mas nas discussões relativas a essa cerveja quase não vi mulheres opinando.

Falei de feminazis mais em relação ao tópico da CN no face, da cerveja branca-morena.

André Rodrigues escreveu:

Fernando Passos escreveu: Homens brancos, de acordo com o IBGE somam 23% da população brasileira, se considerarmos só os de bom nível econômico penso que não passem de 10%, em que mundo isso é uma maioria?

Fernando,
O conceito de "minorias" nesse caso, não necessariamente envolve quantidade de membros. Normalmente ele se refere-se ao "domínio" que esse grupo detêm sobre uma sociedade. Se você pegar as principais esferas de poder da sociedade (empresários, políticos, banqueiros, autoridades acadêmicas e muitas outras) ai você vai ver que esse perfil é "maioria".
Como esse grupo é quem "define as regras" da sociedade muitas vezes os outros grupos ficam marginalizados em suas demandas e necessidades. É nesse contexto que negros e mulheres, por exemplo, são chamados de minorias.

Abraços,

André, este é uma das estratégias mais velhas do movimento revolucionário: dar a uma palavra de ordem o sentido mais vago e mutável possível para que posse ser brandido como argumento em qualquer discussão, contra qualquer adversário.

Nem de longe me convence.

Abraço

Alexandre Almeida Marcussi escreveu:

Gbrl Qrz escreveu: Milu, eu não usei o termo "feminazi" como sinônimo de feminista!
Pra mim são duas coisas bem diferentes. Feministas lutam por direitos e tem aspirações legítimas, e contra elas não tenho nada contra.
Feminazis são as que vêem machismo, etc em absolutamente TUDO e TODOS.

O problema, Gabriel, é que é você quem está estabelecendo a fronteira entre o que seria "aspiração legítima" e o que seria achar pelo em ovo. Você está dizendo às mulheres com o que elas podem ou não se incomodar para serem "feministas legítimas" ou "feminazis". Ou seja, no limite, é como se você estivesse dizendo que feminazis são todas as feministas com as quais você não concorda. A sua opinião - e não a dos incomodados - é o parâmetro.

E, no fim das contas, se você perguntar às ativistas do movimento feminista, de todas as correntes e posições, é muito possível que você acabe considerando todas como "feminazis". Por exemplo, até hoje não ouvi nenhuma feminista que achasse que não tem nenhuma forma de machismo no rótulo da Evil Twin Imperial Brazilian Wax. Talvez você achasse que elas estão vendo machismo em tudo, e que portanto seriam "feminazis". Se é assim, então é verdade que, no seu discurso, você está (mesmo que sem querer), estabelecendo uma sinonímia entre "feminista" e "feminazi". (Estou me baseando na pressuposição de que você não vê nada de errado no rótulo da Evil Twin, mas corrija-me se eu estiver errado e se você achar que essa reclamação feminista é legítima)

P.S.: gente, se vocês querem ser levados a sério no diálogo com as feministas e seus simpatizantes, parem de usar o termo feminazi. Ele é pejorativo e não tem base conceitual nenhuma. Não existe aproximação conceitual possível entre feminismo (que é um discurso da diferença) e nazismo (que é um discurso da unidade), então procurem um termo conceitualmente mais adequado. "Feminazi" serve só para desqualificar o discurso do outro e será, corretamente, interpretado como um insulto.

Thor abençoe o Marcussi, que responde por mim, com a calma e didática que eu não teria. Gabriel, não existe isso de feministas, as mulheres que lutam por causas que VC julga legítimas e as feminazis, as mulheres que acham pêlo em ovo e fazem tempestade em copo d'água, segunda a SUA opinião. Não cabe a VC, um homem, dizer às mulheres pelo que elas devem lutar ou classificá-las de acordo com a pauta que vc acha ou não pertinente, é muita arrogância da sua parte. Quem sabe das questões femininas são as mulheres, não os homens, isso é elementar, mas parece que os homens se julgam tão sabedores de tudo, que querem saber mais sobre questões relevantes paras as mulheres do que as próprias mulheres, you gotta be kidding me. Isso não significa que os homens, entretanto, como alguns pensam, não são bem-vindos no movimento feminista. Só que o papel deles é apoiar o movimento e não protagonizá-lo, dizendo pelo que as mulheres devem lutar ou o que devem fazer e como fazer. O que eles podem fazer, então? O que o Marcussi está fazendo aqui por exemplo é extremamente útil. Ele está falando de feminismo de maneira clara, elucidativa e amigável. Só não entende quem não quer.

Sobre o bendito rótulo da Evil Twin, vou citar um artigo que um HOMEM escreveu, ou seja, não foi mulher achando pêlo em ovo.

oglobo.globo.com/blogs/doisdedosdecolari...rasileira-541399.asp

Engraçado que quando um homem acha algo sexista, os outros homens, se não estão de acordo, respeitosamente discordam, mas quando é uma mulher que reclama, logo ela é chamada de feminazi. E depois ainda se surpreendem quando apontam o machismo da cena cervejeira artesanal nacional. E detalhe: toda essa discussão só começou porque um homem apontou esse fato. Se uma mulher tivesse falado isso, seria tachada de louca, porque é assim que muitos homens normalmente se referem às mulheres das quais discordam: "Fulana é louca". Gaslighting contra mulheres é passatempo nacional.