O meio cervejeiro é "machista"?

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9 anos 11 meses atrás - 9 anos 11 meses atrás #58804 por Eduardo Guimarães Insta @cervascomedu

Jota Fanchin Queiroz escreveu:

Eduardo Guimarães escreveu: Eu particularmente achei as 200 páginas de discussão muito profícuas, pois vi a olho nu algumas fortes contradições de discursos ditos libertários acusando indivíduos (homens ou mulheres) que colocam na esfera pública suas indignações (concordemos ou não) de "censura" ou "chatice". Censura é silêncio e medo, confrades. Barulho, discussão, discordância e embate de argumentos na esfera pública é democracia e liberdade.


Ora. Você está sendo no mínimo contraditório. Exercer o direito de dizer que discurso Y é chatice é exercer a mesma liberdade de expressão de quem proferiu o discurso Y, independente do que seja. Silêncio (e até o medo), desde que não coagido, é também direito de expressão, no caso de não expressar-se.
O problema é que o discurso politicamente correto não admite oposição.

Mas voltando ao tópico e eu sinceramente gostaria de que provassem que eu estou errado para poder capitular.
Alguém tem algum caso concreto de atitude machista com vítima e algoz? Vamos lá, tentar pelo menos três. Sem retórica, casos concretos. Fatos.


Jota, quando algum indivíduo isolado (Aranha no caso do racismo, uma mulher no caso do rótulo da Evil Twin) ou através de um coletivo democraticamente organizado é taxado de "chato" ou "censurador" ao se colocarem na esfera pública contra um fato concreto que eles acreditam atingir sua dignidade (Aranha, contra uma das analogias racistas mais antigas da humanidade; movimentos feministas contra o rótulo que acreditam ser a reprodução da boa e velha redução do corpo feminino a um objeto de desejo masculino) isso tem um impacto concreto: ele/ela está sendo desqualificado como um sujeito que tem o direito de se indignar e questionar democraticamente uma iniciativa qualquer. Eu particularmente não acredito que o discurso politicamente correto não admita oposição, mas gostaria de entender os motivos pelos quais você acredita que não exista. Nesses embates que recaem sobre o "politicamente incorreto" há empresas que bancam suas campanhas publicitárias e outras recuam; talvez devido a um cálculo pragmático, a incompetência da leitura do público alvo, porque não tem fôlego para argumentar ou porque perceberam que podem ter feito um discurso realmente difícil de sustentar. Se o "politicamente correto" não admitisse oposição, Bolsonaro não teria tido a avalanche de votos que recebeu no Estado do Rio de Janeiro (foi disparado o mais votado); gostem dele ou não, ele tem o mérito de não ser nada ambíguo em seu discurso, o que o torna uma figura claramente "politicamente incorreta". Sobre os fatos concretos eu realmente só acompanhei o caso da Evil Twin, pois não atuo no mercado cervejeiro apenas bebo e leio blogs. (aliás, parabéns por seu blog, sempre é uma fonte rica de consulta) Ali eu acho que eles deram muito mole, pois reproduziram um estereótipo muito batido e antigo sobre a imagem da mulher brasileira (vide postagem Marcussi anterior) e não sacaram que poderia pegar bem mal por aqui explorar essa quase caduca estratégia publicitária, já que essa construção da imagem da mulher brasileira / latina é alvo de debates há muito tempo na academia e em coletivos feministas.
Ultima edição: 9 anos 11 meses atrás por Eduardo Guimarães Insta @cervascomedu.
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9 anos 11 meses atrás #58806 por Alexandre Almeida Marcussi

Jota Fanchin Queiroz escreveu: Duzentas páginas de discussão e nenhum único exemplo de caso onde as mulheres tenham sido denegridas ou tenham tido sua dignidade ferida. [...] caso concreto que é bom nenhum.


Jota, se você quiser casos concretos de violência física contra a mulher, procure nas delegacias de polícia. Não é disso que estamos falando aqui, então não adianta você demandar esse tipo de coisa. Machismo não se reduz a isso, esse é apenas o caso extremo da barbaridade do machismo. Estamos falando em representações e em discursos - portanto, no plano simbólico - que podem causar constrangimento às mulheres, reforçar papeis e expectativas que elas não querem cumprir. Quando reclamações femininas são respondidas com "falta rola", acho que podemos dizer que existe uma hostilidade muito aberta e agressiva, sim.

A propósito: qual é o seu trauma em relação à FFLCH/USP? :P

ocrueomaltado.blogspot.com
Porque cervejas são boas para beber, mas também são boas para pensar
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9 anos 11 meses atrás #58807 por Milu Lessa
Respondido por Milu Lessa no tópico O meio cervejeiro é "machista"?

Gbrl Qrz escreveu: Depois de ver o post da CN no face, e ler mais sobre essa bagunça da imperial brazilian wax (rs) chego a concluir que o pior fato cervejeiro de 2014 foi a intromissão das feminazis!
:woohoo:


Depois não entendem por que mulher não comenta aqui. Desculpa, Maurício, mas assim juro que fica difícil... Olha o tanto de coisas machistas que se pode depreender dessa única frase. Intromissão? Então as mulheres não podem participar do mundo cervejeiro, que não é o ambiente delas, é reservado aos homens, precisamos pedir a permissão de vcs para participar? Ok, then. As feministas são, via de regra, chamadas de feminazis, ad hominem utilizado ad nauseam contra as feministas quando os homens julgam que elas estão enchendo o saco deles, porque nada no mundo é mais grave que encher o saco dos homens, que são o centro do universo. O problema da discussão da CN não foi a miríade de insultos e o jeito deplorável e ofensivo com que as mulheres foram tratadas pelos homens, mas a o auê que elas causaram. Parabéns, meu filho, acabou de mostrar de maneira exemplar que de fato não existe machismo no mundo cervejeiro artesanal. Igual a vc, infelizmente, pensam milhões de outros. Aposto que, se o fulano aí for se manifestar, vai: 1. recuar e recorrer ao surrado argumento de que estava apenas "brincando", eu que não tenho senso de humor, porque homem nunca é machista, está apenas brincando, as mulheres é que não tem nenhum senso de humor (detalhe, quem me conhece pessoalmente, sabe que eu tenho um ótimo senso de humor, adoro Seinfeld, Woody Allen, Monty Python, inclusive humor negro); 2. me chamar de feminazi e me mandar lavar louça ou algo igualmente maduro como o comentário inicial. Place your bets.

Quanto ao Jota, que tipo de caso específico vc quer? Posso narrar vários, com a permissão das mulheres do meu grupo feminista. Casos factuais, recentes. Na sua concepção, o que é as mulheres serem prejudicadas pelo machismo? Porque parece que nada se enquadra nisso, para vc tudo é mimimi e vitimismo. Vc parece ter uma visão bastante limitada de machismo, como se fosse um racismo, só que de gêneros e mesmo assim, um conceito de racismo bastante datado, coisa de meados do século XX. Se nenhuma mulher é impedida de entrar num lugar ou não deixam de comprar uma cerveja porque a mestre cervejeira é mulher, então não existe machismo, não é mesmo?

Claro que, como homem branco (e hétero e bom nível sócio- econômico, presumo) é mais complicado se identificar com o diferente e com as minorias sociais e exercer um pouquinho de empatia. Se vc não sofre machismo, por motivos óbvios, fica difícil acreditar que ele seja real e que as mulheres lidem com ele diariamente e sejam enormemente afetadas por ele, né?
Os seguintes usuário(s) disseram Obrigado: Clésio Gomes Mariano
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9 anos 11 meses atrás - 9 anos 11 meses atrás #58808 por Mauricio Beltramelli

Milu Lessa escreveu:

Gbrl Qrz escreveu: Depois de ver o post da CN no face, e ler mais sobre essa bagunça da imperial brazilian wax (rs) chego a concluir que o pior fato cervejeiro de 2014 foi a intromissão das feminazis!
:woohoo:


Depois não entendem por que mulher não comenta aqui. Desculpa, Maurício, mas assim juro que fica difícil...


Milu, é ótimo ter aqui a sua opinião, bem como das demais meninas! Uma postagem de um único troll não justifica ser "difícil" postar aqui. Trolls aparecem em todos os lugares -- por sinal, se essa discussão estivesse no Facebook, apareceriam bem mais, e se lá o assunto desenvolve, não vejo porque não desenvolver normalmente aqui também. Assim como tudo que é troll e hater, você sabe o que fazer: basta ignorá-los. Os(as) Outros(as) debatedores(as) aqui do Fórum também entenderão que essa opinião não pode ser levada em conta, pode acreditar.

Seu aparte foi bastante pertinente. Segue o barco da discussão!
Ultima edição: 9 anos 11 meses atrás por Mauricio Beltramelli.
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9 anos 11 meses atrás #58809 por Fernando Passos
Milu, você reclama do uso do termo feminazi, e aponta que ele é usado como ad nauseum, mas no final do seu comentário utiliza-se do mesmo recurso contra o "homem branco, heterossexual, de bom nível econômico´ (o grande vilão dos séculos XX e XXI, se for cristão e/ou conservador pior ainda). Homens brancos, de acordo com o IBGE somam 23% da população brasileira, se considerarmos só os de bom nível econômico penso que não passem de 10%, em que mundo isso é uma maioria?

Agora voltando ao tema em si, acho que o que o Jota quis apontar é que há uma subjetividade muito grande nestes casos citados em que foi apontado machismo (casos da Evil Twin e da Cervejaria Nacional, e.g.).

Recentemente o (péssimo) aplicativa iFood lançou duas propagandas igualmente idiotas em que um dos cônjuges reclama que não tem comida em casa e o outro usa o aplicativo. Numa o cônjuge ´tonto´ é homem e na outra mulher. Por algum motivo, que desconheço, retiraram a da mulher ´tonta´.
Pode ter quem se ofenda com isso e veja machismo, agora isso quer dizer que o mundo de quem pede comida em casa é machista?

Finalizando, pessoas que repercutem esteriótipos são machistas ou apenas idiotas? Eu acho que a maioria é só idiota mesmo...
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9 anos 11 meses atrás - 9 anos 11 meses atrás #58810 por André Rodrigues

Fernando Passos escreveu: Homens brancos, de acordo com o IBGE somam 23% da população brasileira, se considerarmos só os de bom nível econômico penso que não passem de 10%, em que mundo isso é uma maioria?

Fernando,
O conceito de "minorias" nesse caso, não necessariamente envolve quantidade de membros. Normalmente ele se refere-se ao "domínio" que esse grupo detêm sobre uma sociedade. Se você pegar as principais esferas de poder da sociedade (empresários, políticos, banqueiros, autoridades acadêmicas e muitas outras) ai você vai ver que esse perfil é "maioria".
Como esse grupo é quem "define as regras" da sociedade muitas vezes os outros grupos ficam marginalizados em suas demandas e necessidades. É nesse contexto que negros e mulheres, por exemplo, são chamados de minorias.

Abraços,
Ultima edição: 9 anos 11 meses atrás por André Rodrigues.
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