<strong>Felipe Menezes escreveu:</strong>
Interessante o ponto de vista de todos. E essa discussão é boa mesmo 
Pedro, muito bons seus comentários. Sim, os EUA são o berço do capitalismo e não seguimos eles nesse sentido, mas provavelmente pela realidade ser outra. Lá existe um mercado gigantesco, qualquer supermercado tem 20 vezes mais cervejas que temos aqui, muitas de altíssima qualidade e preços sempre justos. Isso faz com que o interesse por coisa cara seja baixo. Ou seja, não consigo afirmar que isso é cultural apenas, mas um reflexo da realidade atual deles. Na Bélgica eu vi isso, nas lojas as Wests ficam lá paradas e não há euforia em comprá-las, pois custam 11 euros – que perto de uma variedade gigantesca de cervejas a 2 ou 3 euros, são absurdas de caro. No Delirium Café pedi uma cerveja de 7 euros e o barman me alertou do preço: “Vc tem certeza que quer essa? Custa 7 euros”.
Enfim, também acho que os “contrabandistas” (eu me incluo nessa turma de vez em quando não influenciam tanto assim. Acho muito pior as cervejarias brasileiras vendendo cervejas a 40, 60, 100, 200 reais e o Lidador vendendo Abbaye Des Rocs a 30 reais, isso sim prejudica o mercado.
E outra coisa: Os impostos matam qualquer um de desgosto, mas essa é uma outra discussão...
Opa
Então, a questão é que no mercado americano as cervejarias, só agora depois de aproximadamente 30 anos de boom, resolveram investir em cervejas de luxo. Eles estão acostumados a pagar um pouco mais caro por cervejas de micros e só, o "problema preço" é topico constante em qualquer lançamento no forum do BA, por exemplo (coisas como "vao lançar uma RIS de 20 dolares? com 12 eu compro um 4-pack da Ten Fidy, caguei"). Em qualquer bar uma Bud custa 5 dolares e uma boa APA custa 6. O mercado brasileiro vai ficar estagnado e restrito a um grupo de pessoas disposto a abrir mão de grana pra beber melhor enquanto as cervejarias não brigarem, de verdade, por preços mais baixos em cervejas de dia-a-dia.
O grande problema, dizem, são os impostos. Eu acho que o buraco é muito mais embaixo: é falta de concorrência.
Conheço pouquissimos bares ou cervejarias que fecharam. Importadoras, então, nem se fala. Bebida alcóolica dá dinheiro (pode dar trabalho, pode dar aporrinhação, pode dar muitos problemas, mas também dá dinheiro. Mas é antipatico dizer que se ganha dinheiro, é melhor a hipocrisia de dizer que é entrega ou missão pessoal).
Mas nós temos um mercado consumidor que cresce mais que o mercado produtor/importador.
Dentro do Brasil, com as proporcoes fisicas do pais, aqui no RJ eu não teria que ter acesso a cervejas feitas em micros no Rio Grande do Sul. Não faz sentido em termos de custo de frete, de perda de qualidade da cerveja, de logística, do lucro de mais um atravessador no meio. Mas aqui nos temos hoje em dia um par de cervejarias e ficamos reféns, em termos de variedade, de cervejas de outros estados e países.
O grande entrave do Estado, aos meus olhos, é no excesso de lentidão e burocracia em liberar alvarás e permissões. A Cervejaria Fraga (que não tem nada a ver comigo) ainda sofre com isso, já estando pronta para operar comercialmente faz uns dois anos se não me engano. Imposto qualquer lugar no mundo tem, um pouco mais ou um pouco menos. Os do Brasil não são, de fato, os menores, mas também não são os maiores. Em qualquer lugar do mundo, o empresário vai reclamar dos impostos de onde estiver - mas vai existir e ainda assim, se tiver sucesso, vai ganhar bastante dinheiro.
Se tivessemos mais cervejarias pipocando por aí, elas teriam que competir (em qualidade, em distribuição própria, em preço...). E aí sim nós teriamos um mercado em formação.
Enquanto forem poucas e interessadas na produção de cervejas exclusivas (generalizando), ainda vamos ter que chamar de nicho.
