David Brun escreveu:Tenho uma dúvida: Será que dar uma parada com isso de pagar caro por cervejas ajudaria ou simplesmente faria que as importações parassem? O que vocês acham?
Pode ter certeza de que uma mudança estrutural do padrão de consumo (o que eu não acho que uma discussão num fórum consiga produzir) alteraria estruturalmente o padrão de oferta de rótulos. Acredito que diminuiria sim a variedade de rótulos caros à disposição do mercado, e possivelmente haveria um maior cuidado na composição de portfolios estruturados em torno de um número mais restrito de rótulos de maior saída, visando custo-benefício. Mais ou menos como o trabalho que a BrazilWays faz com as Brooklyn, por exemplo.
Isso é ruim? Não sei, não, talvez seja um passo para um mercado mais consistente, embora menos variado. Porque essa variedade toda é enganadora, nada garante que um rótulo que chegou hoje a R$ 60 a garrafa tem condições de ser vendido reiteradamente, lote após lote, dentro da validade.
David Brun escreveu:No curso de beer sommelier que estou fazendo, na ultima aula rolou um papo sobre as bière brut, entramos bastante no assunto de preço, falamos da DeuS e tal... Uma pena o Marcussi - que também faz o curso - não ter expressado lá sua opinião frente à Cilene Saorin para saber a opinião dela.
Engano seu, David. Tive a oportunidade de ter uma conversa bastante esclarecedora com a Tatiana e a Cilene durante o intervalo. Só não quis ocupar espaço de uma aula que estava com o horário bem apertado, e na qual este não era o assunto em pauta.
David Brun escreveu:Não sei vocês, mas eu bebo porque eu gosto, não para ser parte de nenhum clubinho.
É claro que nem todo mundo bebe para "entrar para o clube" (e mesmo quem faz isso jamais admitiria ou encararia dessa maneira literalmente), mas o que quero dizer é que existe em certos meios um desdém direcionado contra aqueles que conhecem menos rótulos prestigiados, como se isso os desqualificasse de alguma maneira. Assim como existe um número muito grande de pessoas (aqui inclusive) que gostam de se vangloriar das cervejas caras, raras e exclusivas que beberam. Ignorar isso seria um hipocrisia, na minha opinião. Não estou dizendo que é errado, só não dá para fechar os olhos.
David Brun escreveu:Por ISSO que eu acho que esse forum ta um saco. Porque o pessoal prefere ficar discutindo PREÇOS do que falar de cerveja em si.
Eu diria que não tenho mais muito assunto com o pessoal daqui não porque as pessoas só queiram falar de preço (isso é natural num mercado elitista), mas porque as pessoas estão prioritariamente interessadas em produtos exclusivos, o que para mim tira todo o tesão da coisa. Mais ou menos como o Pedro colocou: não estou interessado nessas cervejas nesse momento, então não comento nada. Eu procuro um sentido de encantamento em todas as coisas que faço, em
todas as cervejas que bebo. Essa é a busca que me dá tesão: é saber encontrar o deslumbramento numa Eisenbahn Kölsch, como ocorreu comigo na semana passada. Essa é a minha estrada.
David Brun escreveu:Eu raramente espero por comemorações especiais para abrir uma cerveja mais cara.
Eu espero, não porque ache que elas só podem ser bebidas comemorativamente, mas porque não tenho condições de bancá-las a não ser como gastos extravagantes em ocasiões especiais. Mas aí vai de consumidor para consumidor. O fato é que esses produtos (pelo menos as bière brut) são normalmente vendidas sob esse pretexto.
David Brun escreveu:Tenho minhas dúvidas sobre o pessoal realmente parar de consumir se o preço for mais elevado,
Não vão parar de consumir, nem por causa do preço mais alto (pois num mercado de luxo isso é atrativo, e não desvantagem) e nem por qualquer tipo de "patrulha ideológica". O que acontece é que produtos desse tipo criam um outro padrão de consumo, focam outro tipo de mercado, outros consumidores, têm outra demanda etc. Não atendem o mesmo público nem trabalham com os mesmos volumes, mas continuam comercialmente viáveis. Há espaço para rótulos baratos e caros num mercado sadio, sem que um exclua ou roube o espaço do outro. Mas não sei se o mercado brasileiro de cervejas já é um mercado sadio e adulto. Isso os produtores e vendedores é que podem dizer.
O que me cansa, na verdade, é a tendência a glorificar esse "nicho de prestígio" como se fosse a única ou a maior fonte de satisfação pessoal com as cervejas.
