Leonardo Russo escreveu:..."Não sou dessas brejas chiques... curto mais as 'pobres'."
O episódio aqui compartilhado pelo confrade Leonardo vai além da semântica em si, do que vem a ser chique questão muito bem definida pelo confrade Mauro.
Preço, raridade, qualidade e sofisticação combinam-se para proporcionar o "chique" clássico.
Mas existe o chique sublinhar. Quando seu amigo desdenha as "chiques" e exalta as "pobres" ele não está falando de cerveja, está falando de vc e de si.
A imagem popular que se faz do chique é frequentemente negativa e associada a arrogância, pretensão e frivolidade. Em conta-partida, exalta-se a qualidade pretensamente superior do que é pobre como sendo autêntico, intenso e melhor. Então vc vê nos filmes, nas novelas, nos livros: o rico é infeliz, fútil e esnobe. O pobre é divertido, autêntico e feliz.
A distorção social que isso traz é a utilização - como recurso de auto-afirmação - da exaltação do "pobre" querendo dizer simples e autêntico, inferindo essas virtudes ao declarante que não raramente é vazio e superficial.
É verdade que em produtos e serviços mais caros ocorra mais que frequentemente uma exageração do preço de venda e que opções mais modestas possam concorrer em qualidade. Mas o mercado regula esses antagonismos. E nem é esse o ponto aqui.
O ponto é que o desdém contra o novo e eventualmente, mais caro vem muito mais de problemas de auto-afirmação que de um posicionamento legítimo e consciente em relação a duas coisas.
É com orgulho que muitos exaltam a própria "simplicidade": gosto de cerveja barata, gosto de buteco copo sujo (pé sujo em SP), compro roupa no quilo, ando de ônibus, não ligo para bens materiais... Claro, isso tudo pode ser verdadeiro e até admirável. Mas tem sido dito levianamente muitas vezes.
"Não sou dessas brejas chiques...curto mais as pobres". Pobre e chique são atributos das pessoas, não das cervejas. Esnobar o rico não melhora o pobre. Esse desdém é mais que tudo uma fuga, um jeito de dizer "não preciso do que vc está oferecendo, já encontrei coisa melhor" ou "não preciso me exibir, sou simples e autêntico". Isso não pode ser correto dito por alguém que só conhece uma das opções.