Cachorros Voando Bem Longe de Mim

Mais
15 anos 7 meses atrás - 15 anos 7 meses atrás #12676 por Tom Adamenas
Eu tava dando uma olhada naquele conglomerado Londrino de supermercados e reparei que, em média, os preços das brejas aqui no Brasil são iguais aos de lá, mas com a vírgula uma casa ao lado e o £ convertido em R$. Uma FD, lá a £1,62, aqui sai a uns R$16,00. Vi a mesma coisa com Duvel, Guinness e mesmo a DeuS. Acho no mínimo perturbadora uma variação de 350% no preço da cerveja.
Ultima edição: 15 anos 7 meses atrás por Tom Adamenas.
Mais
15 anos 7 meses atrás #12699 por Renato .
TOM FALOU BONITO AGORA

Podemos achar mil e um motivos para uma garrafa de 350 ml valer 50 reais, mas naum sig que esse motivos sejam justos ou logicos.

O mercado de cerveja artesanal jah eh reduzindo ainda ficam elitizando, nessa eu dou braço a torcer para a AMBEV, que em muitos outros casos eu concidero vilã, nessa ela colabora com alguns bons rotulos a preços bem em conta.
Mais
15 anos 7 meses atrás #12707 por Marcio Rossi
Tom Adamenas escreveu:

...Márcio, você diz que nenhum preço se sustenta sem mercado. Concordo plenamente com essa colocação. Perfeita. Mas acontece que o mercado somos nós e, cá estamos (mesmo com opiniões divergentes, este fórum é um catalizador), defendendo esse lógica. Não considero em nada natural um sujeito aceitar um abuso como este. ...


Tom, vc concorda, perfeito, mas, tem sempre um "mas".

"O mercado somos nós". Certo. Aí reside sua força, na demanda, no consumo. O protesto válido é o boicote, o não-consumo.

Deitar falação, esbravejar, e bradar impropérios ajudam a descarregar a indignação. O efeito prático, se algum, é pequeno, embora seja excelente pra animar o Fórum e mesa de buteco.

Já cantava Toquinho a sabedoria etílica de Vinícius:

Aos sábados em casa tomo um porre
E sonho soluções fenomenais
Mas quando o sono vem e a noite morre
O dia conta histórias sempre iguais

Cerveja boa é pra quem quer. Existem milhares de opções, todos os preços. Cada um decide quanto pagar e em que condições. E quem vende decide o mesmo.

Há pessoas com visões diferentes. Há mais complexidade em um comércio do que pode parecer superficialmente. Por isso acredito que o mérito da questão esteja no consumidor e não no fornecedor.

Eu particularmente me abstive de consumir cervejas que me interessam (pra citar algumas, Colorado Vintage, Urquell e Deus) porque na minha visão faltava equilíbrio entre preço e benefício. Não compro, pronto. Mas respeito quem compra e quem vende; não acho que quem compra é um endinherado fútil ou quem vende um pilantra ganancioso; essa seria uma visão leviana. Aliás, fico feliz que continuem sendo oferecidas de modo que eu possa a qualquer momento mudar de idéia e ter a possibilidade de consumí-las se assim desejar.

Não acho que a oferta de cerveja deva acompanhar meu desejo, bolso ou prioridade, mas sei que certamente será regulada pelos desejo, bolso ou prioridade da maioria. As vezes estou junto com a maioria, as vezes não. Neste caso - até parece que não depois de tudo que ouvi aqui - estou com aqueles que se recusariam a pagar os R$ 40 numa FD se visitasse o Alfarrabi. Mas não tenho a pretensão de ser absoluto, nem a arrogância de achar que quem pensa diferente, se houver alguém, seja um imbecil e por fim, não ouso classificar de abusivo, extorsivo, obsceno e absurdo (pra usar alguns dos adjetivos dos confrades) um preço cuja composição e estratégia desconheço.

O que alguns de vcs disseram, eu escuto com frequência - igualzinho - diante das gôndolas de cerveja especial no supermercado, gente indignada perguntando-se que louco ou endinherado paga R$10, R$ 20, R$ 30 em uma cerveja com tantas opções "excelentes" a R$ 2, R$ 3. A mesmíssima coisa é escutada diante do preço das artesanais caseiras "por esse preço eu compro importada...!" E por aí vai. Por isso tudo recomendo cautela nesse tipo de avaliação. Não defendo a usura ou o capitalismo ou seja lá o que for; defendo a coerência e sobretudo, justiça.





.
Mais
15 anos 7 meses atrás #12709 por Alexandre Almeida Marcussi
Eu também não ia comentar nada neste tópico, mas a carne é fraca. Tem-se dito aqui que, a médio e longo prazo, o mercado irá regular esses preços para níveis mais racionais. O problema com esse raciocínio, a meu ver, é que ele ignora uma parte importante da história: o mercado já está regulando esses preços dentro da sua própria racionalidade. Como o Márcio colocou (e tem sido interpretado de forma equivocada), esses preços que nós achamos abusivos - permito-me usar o termo, no sentido de que é um abuso em relação ao bom-senso - são preços plenamente adequados à lógica de mercado, na maior parte dos casos. Ao contrário do que acreditava Adam Smith ou a bobajada neoliberal, o mercado não se regula em direção a um bem comum.

Uma coisa que o Guima vem colocando há tempos nesse fórum, e eu acho correto, é que bebidas são encaradas, no Brasil, não como alimento, mas como bens do mercado de luxo, pautado pela lógica do status e da ostentação. Diante disso, existe sim mercado para cervejas cada vez mais caras, cada vez mais exclusivas. Eu não acho que esses preços tendam a abaixar - pelo contrário, a cada nova leva de importadas que vemos chegando ao Brasil, a cada novo importador que entra no jogo, os preços estão aumentando na medida em que esse mercado de luxo vai se consolidando. Estão se estabelecendo patamares de preço crescentes: há uns dois anos, apenas as cervejas mais caras custavam cerca de R$ 20 a long neck. Hoje em dia, é prática comum, é uma espécie de "preço-base" para as novas importadas.

Sem contar que, num mercado regido pela lógica do status e da ostentação, um produto dá satisfação proporcional ao quanto ele custa, e não proporcional a alguma espécie de "qualidade intrínseca" que ele possua. Se vc pagou caro por um produto de luxo, vai estar predisposto a gostar muito dele a fim de justificar o seu "investimento". Vou dar um exemplo pessoal: neste reveillón, fiz a besteira de me permitir comprar uma cerveja extravagantemente cara para comemorar: Lust Prestige. Cenzão a garrafa. Pois bem, quando eu a abri, meu primeiro impulso foi achá-la sensacional, que delicadeza!, que frescor!, que vivacidade! Uns dois ou três goles depois, porém, comecei a perceber defeitos nela. A despeito deles, essa continua sendo uma cerveja que impressiona as pessoas, e que é consistentemente incluída entre as melhores do Brasil e mesmo do mundo. Eu mesmo talvez nunca tivesse percebido os defeitos se tivesse continuado na empolgação, se estivesse em meio a uma festa com amigos, sei lá. E, analisando friamente, qual a porcentagem de consumidores de cervejas especiais capazes de reconhecer ácido caprílico numa cerveja? Quantos estão realmente aptos a diferenciar a qualidade das cervejas com base em critérios técnicos? Aqui no Brejas a gente atenta para isso, mas as pessoas que se interessam por isso formamos uma parcela pequena, quase irrelevante, do mercado.

Não vou questionar aqui o preço da Lust Prestige (já fiz isso em outro tópico), eu sei lá quanto custa alugar a cave da vinícula San Michele para maturá-la (o que dá mais prestígio ao rótulo, sem dúvida), mas o que quero ressaltar é que, pelo fato de ser cara, ela acaba forçosamente agradando. Ela cria "retroativamente" a satisfação que justifica seu alto preço. Cervejas precificadas para atingirem mercados exclusivos acabam criando o seu próprio mercado um pouco a despeito da sua qualidade. Adorno comparava o fetiche da mercadoria ao canto da sereia. Reclamar não vai mudar essa realidade, como disse o Márcio. Mas é um movimento legítimo, porque pelo menos pode fazer com que as pessoas (incluindo nós mesmos) acordemos um pouco do encanto da sereia em que estamos imersos. Afinal de contas, quanto se quebra o encanto, é apenas cerveja.

Falamos aqui em DeuS, Colorado Vintage, Pilsner Urquell, esses são exemplos extremos. Mas, se formos analisar friamente, as cervejas que consumimos regularmente aos finais de semana são igualmente abusivas. Eu não tenho orgulho de gastar R$ 20 numa long neck - na verdade, tenho é vergonha mesmo. Considero que cervejas especiais são uma espécie de vício na minha vida, não porque eu as beba em quantidades abusivas para minha saúde, mas porque eu pago mais do que seria saudável para minha conta bancária. R$ 100-200 - que deve ser meu gasto mensal com cerveja ultimamente - fazem muita diferença para mim no final do mês, mas mesmo assim eu continuo comprando. Bebo em doses homeopáticas, costumo dividir long necks que custem acima de R$ 10, mas compro. Nesse sentido, coerente é a postura do Pedro, que afirma que nenhuma cerveja vale R$ 40 e que evita a todo custo consumir as importadas. Mas, mesmo nas nacionais, existe precificação para constituir mercados de luxo. Citei o caso da Lust Prestige, mas poderia citar a Wäls, cujo preço da linha especial subiu quase 100% em menos de um ano, equiparando-se ao preço das importadas do mesmo estilo. Alguém diria que essas cervejarias estão com uma estratégia equivocada ou que não estão sabendo ouvir o mercado?

ocrueomaltado.blogspot.com
Porque cervejas são boas para beber, mas também são boas para pensar
Mais
15 anos 7 meses atrás #12710 por Marcio Rossi
Alexandre Marcussi escreveu:

Ao contrário do que acreditava Adam Smith ou a bobajada neoliberal, o mercado não se regula em direção a um bem comum.


Observação importantíssima essa: o mercado se regula equilibrando oferta e demanda sem que isso signifique bem comum, pelo contrário: vai privilegiar o mais forte e interage com outras forças econômicas e sociais.

O Marcussi tocou em outro ponto essencial: ninguém acha que R$ 20 em uma long neck seja algo normal. Mas a gente paga, cada um com seus motivos. E isso dá às cervejas de R$ 20 um mercado que tem mantido sua oferta.

Ampliando esse mercado, a balança começa a favorecer o consumidor; a concorrência fica estimulada, a oferta aumenta, o preço cai. Isso aconteceu com o vinho, que apesar de manter exageros e fetiches, oferece opções muito interessantes a um custo acessível para a classe média.
Mais
15 anos 7 meses atrás - 15 anos 7 meses atrás #12711 por Pedro Fraga
Ainda bem que a carne é fraca; os seus comentários foram todos na mosca, meu caro!

Sobre o valor da cerveja, eu considero aquele o (meu) teto mesmo. Mas vou te falar que consigo contar nos dedos de uma mão quantas vezes eu passei dos 30 e muitos em uma garrafa, mesmo ela sendo de 750ml.

O que eu acho mesmo uma pena é que o mercado, do jeito que é, acaba refletindo mais hábitos de experimentação e não de consumo, levando a nossa máxima de "degustamos, não apenas bebemos" ao máximo ... rs
Ultima edição: 15 anos 7 meses atrás por Pedro Fraga.
Tempo para a criação da página:0.476 segundos