Cachorros Voando Bem Longe de Mim

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14 anos 7 meses atrás - 14 anos 7 meses atrás #12713 por Mauro Renzi Ferreira
Bem, vamos lá. Também não ia postar aqui, mas acabei lendo o post do Marcussi e resolvi participar. É uma questão difícil essa dos preços elevados.

Eu penso que existem casos em que o mercado se regula sim, pela lógica da oferta e da procura, e já existem exemplos de cervejas cujos preços estão baixando a cada nova compra que os bares fazem. Em outros casos, concordo com o texto acima, existem cervejas que se auto-regulam, como que estipulando quem pode ou "merece" compra-las.

É fato, porém, que existe um mercado de luxo, baseado nesta mesma idéia do "fetiche da mercadoria", que nunca entra em crise. São pessoas dispostas a pagar muito caro por uma garrafa de vinho, cognac, champagne, cerveja etc. e que, apesar de representarem uma parcela muito pequena da população, estão em número suficiente para darem conta de uma determinada oferta.

E também é fato de que, a maior parte dessas pessoas, apesar de terem muito dinheiro, nem sempre tem o conhecimento proporcional sobre o produto que estão adquirindo. Muitas vezes são os mais ignorantes e podem ser facilmente enganados por falsos sommeliers ou beer-sommeliers.

No meu caso, o preço elevado das nossas queridas "cervejas especiais" ajuda a regular também a minha saúde física, isso porque sou um bebedor mais compulsivo do que o confrade Marcussi. Por outro lado, minha saúde financeira não tem andado tão bem assim. De todo modo, acho difícil acharmos os "culpados" por essa prática mais abusiva.

Não se trata apenas dos impostos ou encargos. Existe muito mais por trás de uma estrutura de um bar ou restaurante. Uma determinada localização com um IPTU mais elevado, uma brigada mais especializada que precisa ser melhor remunerada entre outros detalhes ainda mais pormenorizados. Uma conversa com o Edu Passarelli, por ocasião de um encontro da CCP no Melograno, me elucidou algumas dessas questões.

No Brasil, existe também o fator cultural, é claro. Uma cerveja especial ainda é um artigo de luxo, enquanto "macho que é macho" vai de Brahma mesmo, sem frescuras. Isso demora um bom tempo para mudar. Enquanto isso, continuarão acontecendo fatos que validam os dois exemplos que eu citei acima. Veremos preços baixando e algumas cervejas chegando muito acima do preço que precisariam ter.

Do mesmo modo, sempre haverá pessoas que, apesar de tudo, vão preferir beber as nossas "cervejas de sempre", assim como sempre tem aqueles que bebem os vinhos mais baratos. Pois existem aqueles que bebem por prazer, para degustar, e aqueles que bebem por beber, para se embebedar.
Ultima edição: 14 anos 7 meses atrás por Mauro Renzi Ferreira.
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14 anos 7 meses atrás #12718 por Alexandre Almeida Marcussi
Mauro Renzi Ferreira escreveu:

sempre haverá pessoas que, apesar de tudo, vão preferir beber as nossas "cervejas de sempre", assim como sempre tem aqueles que bebem os vinhos mais baratos. Pois existem aqueles que bebem por prazer, para degustar, e aqueles que bebem por beber, para se embebedar.

Lembrando que é possível obter prazer gastando reativamente pouco. Há excelentes rótulos por aí custando até R$ 5, mesmo no Brasil (e nem falo dos mercados estrangeiros, em que não custa mais caro beber uma trapista), e bons rótulos custando menos de R$ 2, a exemplo da nossa querida Kaiser Bock. Não é preciso se embebedar se vc não quer gastar muito dinheiro; é perfeitamente possível beber bem e degustar sem pagar extorsivos R$ 20 numa long neck. Enquanto as pessoas continuarem achando que precisam pagar R$ 20 se quiserem beber algo decente, esses preços continuarão sendo a base de cálculo.

ocrueomaltado.blogspot.com
Porque cervejas são boas para beber, mas também são boas para pensar
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14 anos 7 meses atrás #12726 por Marcio Rossi
Mauro Renzi Ferreira escreveu:

...Pois existem aqueles que bebem por prazer, para degustar, e aqueles que bebem por beber, para se embebedar.


Seria injusto separar os consumidores de cerveja entre degustadores e bêbados.

Degustar é apenas um dos prazeres que o consumo de cerveja pode proporcionar. Beber despretensiosamente pode ser um deles; tira-gosto com skol geladíssima descem muito bem em um bate papo descontraído com amigos, num encontro familiar ou na praia. Isso pode ser feito com moderação e é feito por prazer, talvez pelo maior que a cerveja proporciona, o social.
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14 anos 7 meses atrás #12727 por Marcelo Vodovoz
imagino que houve aí uma confusão sobre o conceito de "degustar". ainda mais vindo do mauro que escrever aquele texto sobre a antártica em cananéia...
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14 anos 7 meses atrás #12728 por Tom Adamenas
Márcio, eu deveria, mas não vou me ofender com a sua colocação pois, de fato, este fórum pra mim tem um significado muito mais de "mesa de boteco", apesar da confessa carga de conhecimento que consegui obter aqui e em outros sites e blogs internet afora, inclusive o teu. Se tenho alguma pretensão prática mínima com as posições que exponho aqui, tomo elas pro meu dia-a-dia, não para o mundo virtual. Pra mim, este é um espaço de bate-papo mais tranquilo, onde não preciso, não pretendo e nem sei se conseguiria convencer alguém de meu ponto de vista político, o que não significa, de modo algum, que eu não consiga discernir isso da práxis necessária que me cabe.

O que eu não consigo, de forma alguma, é propor que as pessoas simplesmente acatem ao que está aí. Pontuar que "quem quer pagar, pague, quem não, não pague", pra mim, é insuficiente. Acredito que o objetivo de muitos aqui é o de divulgar e contribuir com a cultura cervejeira neste país. Fazemos isso com amigos, com familiares, com comentários ou propostas indiretas para alguns conhecidos, mas é um universo limitado, muitas vezes economicamente equiparado ao nosso. O Alexandre, o Mauro e tantos outros aqui já colocaram a situação delicada que é o comprometimento financeiro mensal a que nos sujeitamos para poder conhecer novos rótulos e mesmo novos bares. Mensalmente meu gasto com cerveja quase se equipara ao meu gasto com o aluguel que pago na minha república e, se pudesse, muito provavelmente que gastaria mais. É possível inclusive, que esse meu ponto de vista (e na oposição, a mesma coisa, mas não posso e nem tenho o direito de afirmar isso) seja alimentado pela minha "falta de grana", mas isso não invalida o argumento, pois é a situação posta.

Quando nos recusamos (eu, você e a maioria daqui) a pagar 40 reais numa long neck que está, evidentemente, superfaturada, estamos de fato nos juntando a maioria, só que o erro está em achar que é esta maioria que irá precificar esse mercado específico. Quem vai jogar os preços destas cervejas lá pra cima, ou o contrário, é uma minoria, ou estou sendo tolo em achar que a maioria das pessoas que bebe cerveja não está disposta a pagar 150 reais numa DeuS, até mesmo 12 numa Holandia e 16 numa Wäls?

Continuo seguro de que me contentar com a existente, porém limitada, boa carta de cervejas em conta que encontramos nos supermercados (Eisenbahn, Kaiser Gold e Bock, Heineken, Bamberg etc) seja insuficiente pra alicerçar uma cultura cervejeira realmente democrática. Beber bem, variada e despretenciosamente é um direito de todos. E continuo, do mesmo modo, acreditando que não é normalizando/naturalizando (aceitar, num limite prático, é isso) essa realidade, que iremos contribuir com esse esforço de tanta gente. Vou falar mal, adjetivar e esbravejar, de maneira pouco polida, de algumas posições que me coloco contra? Claro que vou! Este é o espaço para, além de outras coisas, fazer isso. Não tenho a intenção de fazer disso um artigo para públicar numa revista ciêntifica, e é por isso que gosto! Me considero trocando idéia aqui de igual pra igual com você e com os outros confrades, mesmo na completa, ou parcial, ou semi, ou um pouco menos, ou um pouco mais, ou qualquer coisa, oposição.

Um brinde à esta mesa!
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14 anos 7 meses atrás #12729 por Diego Leonardo Lopes
Uma pitadinha básica

Um amigo meu acabou de chegar de Zurique, e viu uma simples long neck brahma a meros 4 francos, ou seja, uns R$ 6.50, engraçado que aqui ela custa em mercado meros R$ 1,20, mais de 500% de diferença, claro a grosso modo.

Lá é como cá, coisa importada, não necessáriamente boa, é cara, mais cara que uma chimay que custa só 2,50 francos.
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