Cachorros Voando Bem Longe de Mim

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14 anos 7 meses atrás #12435 por Marcio Rossi
Sejam bem-vindos ao capitalismo; não é um regime perfeito, mas é o que tem funcionado melhor até hj (socialistas e comunistas, contenham-se!).

Preço é uma coisa mais complicada do que pode parecer. Falar em custo + impostos + margem = preço é uma simplificação perigosa. O item custo costuma envolver mais que o valor de aquisição daquilo que será vendido, seja produto ou serviço; nele incluem-se todas as despesas indiretas do negócio, despesas de funcionamento, estrutura, perdas, riscos, etc.. coisas que pouca gente considera quando especula sobre as margens do comerciante.

Parece uma festa o que bares e lojas fazem. Devem estar todos ficando riquíssimos. Ao invés disso, entretanto, o que se vê mais de perto é uma luta diária pela sobrevivência com margens apertadas.

Claro que alguns negócios são mais rentáveis. Depende de exclusividade (monopólio é uma benção), disponibilidade (raro = caro) e visão de valor, que pode ser (é) influenciada pela publicidade, modismos e outras ocorrências catalisadoras que podem ou não desaparecer.

Nenhum preço se sustenta sem mercado. Não importa que contas faça o dono do negócio, se não vender, ele perde. De uma forma geral, o mercado possui a força para regular os preços porque a demanda vai influenciá-los diretamente. E há mercados e mercados. Há produtos mais caros que vão ter pouca demanda e margens melhores, mais baratos com mais demanda, margens menores e ganhos de escala. O mercado vai decidir quem vive e quem morre.

No caso da cerveja não é diferente. Haverá as exclusivas, vendidas às unidades, as especiais acima, as populares arrebentando. O consumidor escolhe.

A maioria de nós pode e paga caro em cerveja. E mede cada centavinho gasto pela recompensa em termos de sabor e satisfação; qdo o balanço é bom, a gente repete, qdo é ruim, encerra o consumo. Tem aquelas deliciosas e caras que a gente vai se permitir ocasionalmente. Tem o bom custo benefício para o nosso bolso que vai encher nossos copos na maioria das vezes. Com a expansão do mercado, mais e mais gente fazendo isso, há de consolidar um cenário estável que pode ser melhor, com mais opções e preços validados pela demanda. O consumo por status tende a ser menos importante na cerveja que no vinho, felizmente.

E cada um faz suas escolhas. Há cervejas que eu poderia, com sacrifício, experimentar e me recuso. Mas eu não sou o mercado. Elas não estariam nas prateleiras se fossem todos como eu sou. A questão é: por quanto tempo elas continuarão nas prateleiras?

O bar que vende Flying Dog a R$ 40 deve ter feito suas contas e ter sua estratégia; volte lá daqui a um ano, se ele continuar vendendo FD a R$ 40 significa que seja lá que conta tenha sido feita, a coisa funcionou. Se vc voltar e encontrar a casa fechada/falida, poderá suspirar triunfalmente equanto contempla o castigo imposto pela avareza. Mas acredite, há mais coisas entre consumidores e fornecedores do que pode crer nossa vã filosofia.

Recado final: não adianta indignar-se, esbravejar. Pode e quer, compra. Pode e não quer ou quer e não pode, não compre; o resto se ajeita.
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14 anos 7 meses atrás #12440 por Pedro Fraga
Vamos lá, Márcio! :)

Deixando de lado a parte do capitalismo (não só não é perfeito como também não funciona lá muito bem pra grande maioria da população mundial), concordo muito com o que disse em relação a preço e eu mesmo já havia levantado essa bola: eu não sei "precificar" todos os custos envolvidos em uma operação de importação, distribuição nem venda de cerveja.

O que eu faço é comparar produtos da mesma ordem de qualidade e preço que passam pelas mesmas condições (importação, tributação, distribuição, revenda, etc) e que tem valores de venda final bastante diferentes.

E concordo plenamente que cada um faz suas escolhas. Os importadores escolhem cobrar mais por uma cerveja que não é tão levinha quanto a do concorrente, escolhem cobrar pela exclusividade, escolhem cobrar mais por esta ser a melhor lager do mundo (vocês se lembram da Urquell em lata de 45 reais?), escolhem a postura deles em relação a um mercado que não está com uma saúde realmente estável - o que eu canso de ver no RJ é supermercados parando de trabalhar com determinados rótulos pq estão encalhando nas prateleiras.

Eu não compro, meu dinheiro não cai de árvore mesmo e com 40 reais eu pago IPTU do apartamento (todos nós também pagamos impostos, não são só eles rs). Mas também não fico calado - talvez se o sistema/regime fosse comunista e/ou ditatorial eu não tivesse liberdade pra ser um mala - mas como tenho esse direito, eles aturem o meu #mimimi :).

Porque se ficarmos sem falar nada, qual é o feedback que eles e os seus revendedores tem? De que não há interesse do público por esse produto, que o mercado esfriou ou deu o último suspiro.

Prefiro falar: pra mim, o seu produto não vale 40 reais. So sorry.
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14 anos 7 meses atrás #12443 por Marcio Rossi
Pedro Fraga escreveu:

Porque se ficarmos sem falar nada, qual é o feedback que eles e os seus revendedores tem? De que não há interesse do público por esse produto, que o mercado esfriou ou deu o último suspiro.

Prefiro falar: pra mim, o seu produto não vale 40 reais. So sorry.


O feedback que eles tem (e o principal que lhes interessa) é o consumo ou sua falta; é sobre essa base que decidem os comerciantes, é o que vai regular a oferta.

Sua última frase resume tudo "pra mim ... não vale". Se vc estiver no público alvo e sua opinião for compartilhada dentro dele, a demanda ficará abaixo do planejado e algo será feito. Senão, nada muda ou sabe-se lá, talvez até aumentem o preço. Se vc não for público alvo, de nada adianta sua indignação, o que importa é a venda.

Quantas vezes não dizemos: "mas quem compra tal coisa???" indignados com o aparente descolamento entre preço e valor de alguma coisa. Mas se existe mercado, a coisa vai adiante, prospera até, o fato é que não somos o público alvo daquilo que nos indignou; se formos, provocaremos a mudança secando a demanda mais que protestando.

Ontem mesmo me indignei com o preço da Canon 50D com lente 28-135 mm; são R$ 11 mil de até 12 x. Nos EUA, o mesmo produto custa U$ 1300 no cartão. Ou seja, fica mais barato ir até lá comprar, pagando passagem, estadia e todos os impostos. Pensei comigo, mas niguém compra isso na Fnac... Será? Talvez até mais do que eu imagino pois alguém que precisa do parcelamento, por qualquer motivo não pode viajar e tem urgência na aquisição comporia o perfil perfeito.

Tudo é mercado.
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14 anos 7 meses atrás - 14 anos 7 meses atrás #12447 por Pedro Fraga
Claro que compram a câmera, tem otário pra tudo. E malandro também.

E se eu, consumidor de cervejas especiais, não sou o público alvo de uma cerveja especial, tem algo bem errado no perfil que eles estão traçando. O público alvo pode ser "endinheirado que paga qualquer preço por qualquer coisa", aí são outros 500 mesmo.

Mas minha indignação me vale. Acho que essa política de ficar quieto e pensar "deixa pra lá, não é pro seu bico mesmo" é um dos motivos que deixa tudo correr solto.
Ultima edição: 14 anos 7 meses atrás por Pedro Fraga.
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14 anos 7 meses atrás - 14 anos 7 meses atrás #12449 por Christiano Galvani
Pedro Fraga escreveu:

(vocês se lembram da Urquell em lata de 45 reais?)


Pois é Pedro, esse valor foi tão absurdo que se tocaram e agora a Urquell vai custar entre R$ 15,00 e R$ 18,00 a garrafa de 500ml.
Na minha opinião ainda é caro, mas muito melhor pagar esse valor do que os R$ 45,00.

Creio que com a FD aconteça o mesmo no futuro.
Eu ainda não provei, mas andei lendo relatos de pessoas que esperavam mais delas.
As Brooklyns estão agradando muito mais. Provei a Brooklyn Lager e achei uma boa cerveja.
Ultima edição: 14 anos 7 meses atrás por Christiano Galvani.
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14 anos 7 meses atrás - 14 anos 7 meses atrás #12451 por Marcio Rossi
Pedro Fraga escreveu:

...E se eu, consumidor de cervejas especiais, não sou o público alvo de uma cerveja especial, tem algo bem errado no perfil que eles estão traçando. O público alvo pode ser "endinheirado que paga qualquer preço por qualquer coisa", aí são outros 500 mesmo.


Tanto mercado quanto público de cervejas especiais são imensamente diversificados e há nichos e nichos dentro desse mercado.

O Alfarabi não é uma casa de cerveja especiais, mas um misto de livraria sebo, bar e restaurante, é certo que a oferta de cerveja especiais vem a compor um portfólio de serviços que vão além do "cerveja especial pra consumidor de cerveja especial"; essa seria uma simplificação pífia.

O consumo, já comentado em outros tópicos, envolve uma combinação de atrativos, no caso da cerveja tem ambiente, gastronomia, serviços, etc. E a estratégia do local é traçada definindo em que aspectos se diferenciará e, dentro de uma variedade de públicos alvo, qual será priorizado, qual ficará interessado e qual será excluído.

Em contra-partida, o público decidirá premiar ou não a casa com seu consumo conforme seus critérios. E muitas vezes o público muda a estratégia do negócio. Aqui em BH temos o Frei Tuck que começou mirando em um setor e terminou migrando para tornar-se uma casa fundamentalmente dedicada à cerveja.

Vc decidiu que não vai ao Alfarabi tomar Flying Dog. Ótimo.Há muitos como vc, eu inclusive. É provável que sejam bem poucos os que vão até para tomar FD, até porque nem havia essa cerveja lá até outro dia e a casa funciona há anos no local. Da mesma forma, é provável que entre os frequentadores haja pessoas dispostas a experimentar ali uma Flying Dog, enquanto passeia entre livros ou aprecia a culinária, o que validaria a estratégia. O mercado, com tempo, dá sua resposta implacável.
Ultima edição: 14 anos 7 meses atrás por Marcio Rossi.
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