Concurso Brasileiro de Cerveja 2015

Abri o tópico para comentarmos e discutirmos os resultados do campeonato brasileiro deste ano. Para quem ainda não viu a lista completa, segue o link .

Não vou comentar esse ou aquele estilo específico, mas me chamou atenção uma coisa mais geral, um problema estrutural do concurso: o número de categorias e o número de rótulos disputando cada categorias. Gente, tivemos medalha na categoria "Grodziskie", sendo que a vencedora (a Bodebrown Grätz Polska) é a única cerveja do estilo produzida no Brasil! Qual a pertinência de abrir uma categoria em que só existe um rótulo disputando? Outra: por que tivemos tantos rótulos disputando a categoria "Australian-style pale ale" (foram 3 medalhas!), será que os lúpulos australianos são tão importantes assim na nossa produção nacional? A impressão que dá é que os organizadores simplesmente abriram todas as categorias do guia do BA, sem se preocupar com a representatividade. Diante disso, qual o valor dessas medalhas?

Desconfio que o sentido de tantas medalhas é meramente mercadológico. Cada vencedor poderá, de agora em diante, imprimir uma medalhinha no rótulo pra ajudar nas vendas.

Quem foi ouro do Imperial or Double India Pale Ale ?

Desde o ano passado, quando a mediana Stout Açaí da Amazon ganhou melhor cerveja (dentre outros resultados estranhos) venho pensando o seguinte:

O Festival de Blumenau é feito por profissionais brasileiros da cerveja para premiar cervejas feitas por profissionais brasileiros da cerveja. Todos são colegas e, no geral, todos são "brothers". Há um legítimo interesse comum na autopromoção - fato compreensível - afinal é preciso fomentar o mercado nacional.

Assim o que vemos é uma "jogação" de confete mútua no melhor estilo "chupa o meu que eu chupo o seu".

_Isso é bom do ponto de vista técnico? Provavelmente não. Do ponto de vista técnico talvez fosse melhor contratar jurados imparciais de outros países.

_ Isso é bom para o marketing da cena cervejeira nacional? Sim.

_ Se eu estivesse envolvido em algum lugar do processo ( sendo jurado ou cervejeiro) eu faria o mesmo? Provabelmente sim, pois o que importa é a publicidade e, consequentemente, o $$$$.

Mais uma vez reitero: é compreensível. Mas não dá pra levar a sério tal concurso. Assim como não dá pra levar a sério o fato de que a Stout Açaí seja sequer a melhor Stout, quanto mais a melhor cerveja.

Odimi Toge escreveu: O Festival de Blumenau é feito por profissionais brasileiros da cerveja para premiar cervejas feitas por profissionais brasileiros da cerveja. Todos são colegas e, no geral, todos são "brothers". Há um legítimo interesse comum na autopromoção - fato compreensível - afinal é preciso fomentar o mercado nacional.

Mas é preciso considerar que as amostras são julgadas às cegas, sem que o produtor tenha a possibilidade de julgar sua própria cerveja. Acho que isso minimiza, se não inviabiliza em muitos casos, a possibilidade de qualquer jogo de cartas marcadas.

Pelo que entendi, este ano a escolha da melhor cerveja foi feita sem pontuação, usando um sistema de avaliação de um painel composto pelas ganhadoras do ouro. Ou seja, dentre um painel de cervejas, a Seasons BasiliCow foi realmente escolhida como a melhor da mesa, não foi só a que pontuou melhor dentro da sua categoria. Em teoria, isso evita distorções como a do ano passado, em que a Açaí Stout ganhou por pontuação, sem comparação direta com as demais medalhistas. Agora, é engraçado que, na escolha das melhores de 2015, o ouro e a prata tenham ficado com witbiers. Acredito que deve ter havido uma orientação ou consenso na mesa para valorizar o estilo.

Minha intenção não foi sugerir cartas categoricamente marcadas. Mas isso não impede que algum dos jurados, mesmo às cegas, tenha a habilidade de identificar, com razoável chance de acerto, determinada cerveja após algum treino.

Claro - posso (e espero) estar totalmente equivocado. Porém, frente os resultados, não é difícil imaginar a existência de alguns "direcionamentos" prévios.