O meio cervejeiro é "machista"?

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10 anos 1 semana atrás #58874 por ERITON SOARES
Eu não conheço a história dessas cervejas, mas acho de longe o nome das cervejas da Urbana mais agressivo do que o rótulo da ET, a criatividade (ou falta dela) desta cervejaria está no nível máximo, o que acham?
Lembrando que tem uma cerveja da EvilTwin (BIKINI BEER) que está a venda no Brasil que acredito ter o mesmo apelo sexista da Brazilian WAX.
Rótulos Urbana: PRIMA PODE , GORDELICIA, PISCADINHA (o pior nome e rótulo que já vi, a falta de criatividade desta Urbana me desanima), SPORRO,
REFRESCADO DE SAFADEZA
Anexos:
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10 anos 1 semana atrás #58875 por André Bueno
É machista sim, infelizmente. Que cada um que reconhece isso comece fazendo a sua revolução! Reclamando das brejas que exploram esse apelo sexista e deixando de ser tão idiota ao fazer seus comentários sacanas quando vê um grupo de mulheres sozinhas numa mesa de bar tomando cerveja. É isso aí!
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10 anos 1 semana atrás #58912 por Milu Lessa
Respondido por Milu Lessa no tópico O meio cervejeiro é "machista"?
Boa tarde, só passei aqui rapidamente pra dizer ao Jota que estou enrolada com questões pessoais, esse fds viajo pro Rio, antes disso vou receber uma amiga de outra cidade aqui em casa, então só terei tempo de responder na semana que vem, mas não esqueci nem desisti de fornecer exemplos concretos. Word is bond. ;)
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10 anos 1 semana atrás - 10 anos 1 semana atrás #58913 por Mauricio Beltramelli
Estive nesse final de semana num Bar Brejas lotado de amigos -- e amigas. Aproveitei e resolvi colocar em prática o mesmo teste que o Marcussi colocou na casa dele (mostrou o rótulo e 3 mulheres se indignaram ao vê-lo). Claro que, em ambos os casos, tratam-se de testes sem qualquer validade estatística. Mas servem pra medir o sentimento geral do grupo de pessoas que nos cercam.

Assim, apresentei a imagem do rótulo Brazilian Wax (que estava no meu celular) pra 12 meninas, das mais diversas idades (não perguntei pra não ser invasivo, mas creio que de 23 a 50 anos, e uma delas com quase 60). Todas amigas ou conhecidas, pelo que sei que são pensamentos heterogêneos, formas de pensar totalmente diferentes. Nenhuma feminista (não que se declarasse como tal).

Pra, digamos, "validar" a experiência, mostrei o rótulo em diversos momentos. Na mesa, pra várias meninas ao mesmo tempo (dando, portanto, razão para que conversassem entre si) ou pra uma ou outra em particular. Pra me sentir mais seguro ainda, não esbocei NENHUMA reação anterior, nenhum conceito predefinido. Simplesmente mostrei e perguntei, sem inflexão depreciativa ou irônica na minha voz, se elas achavam "machista" aquele rótulo. Quase todas elas leram o conteúdo descritivo. As que não liam inglês, eu dei uma ajuda. Mas sem qualquer inflexão de voz.

Resultado: 11 a meio. Só UMA das meninas entendeu que, pensando bem e procurando bastante, o rótulo se parecia com uma mulher morena de biquíni. Mesmo assim, não entendeu que aquilo poderia incitar comportamentos machistas.

Mas nenhuma delas, nenhuma, relacionou o rótulo a turismo sexual, obrigação da mulher em se depilar, associação estreita entre o Brasil e a sexualidade feminina, reforço da representação da mulher brasileira como sexualmente disponível para o deleite dos homens estrangeiros, racismo, necessidade de busca da perfeição com dor e submissão a padrões que não são totalmente volitivos, ou nada que remetesse à análise semiótica do Marcussi, feita à página 13 deste tópico.

Pra um grupo delas, que questionou a razão da minha pergunta, mostrei esse tópico pra colocar lenha no papo, sobretudo a análise já comentada. Todas elas, TODAS, se referiam ao caso com termos do tipo "absurdo", ou outros que prefiro aqui não transcrever pra não ofender.

De forma que, após essas longas discussões, prefiro enaltecer um termo: SENSO COMUM. E aqui pinço algumas definições da expressão contidas na Wikipedia:

"O senso comum descreve as crenças e proposições que aparecem como normais, sem depender de uma investigação detalhada para alcançar verdades mais profundas como as científicas. (...) No senso comum não há análise profunda e sim uma espontaneidade de ações relativa aos limites do conhecimento do indivíduo que vão passando por gerações; o senso comum é o que as pessoas comuns usam no seu cotidiano, o que é natural e fácil de entender, o que elas pensam que seja verdade e que lhe traga resultados práticos herdados pelos costumes."

Nessa linha, questiono aqui alguns argumentos colocados pela amiga Milu Lessa na página 14:

DIZ MILU: "Para pessoas destreinadas ou que não estão familiarizadas com o assunto, muita coisa passa batida."
PERGUNTO EU: Pra se indignar com algo, é realmente preciso estar "treinado"? Será que esse "treino" não é um subterfúgio que sai do senso comum e adentra ao reino das suposições, dando certa razão para certas reclamações serem taxadas de "vitimistas"? Então quem não está devidamente "treinado" está cego? Seria esse "treino" uma espécie de doutrinação, se feito em níveis que fogem ao senso comum? Vou longe agora, mas alguns militantes muçulmanos estão "treinados" pra enxergarem ofensa nas imagens de Maomé, enquanto a imensa maioria dos adeptos dessa religião não vê problema nisso... Olha o problema...

DIZ MILU: "(...) talvez essas outras pessoas, por lidarem com questões dessa natureza diariamente e/ou há muito mais tempo, consigam ver coisas que elas não conseguem, assim como um degustador treinado consegue achar um monte de aromas e sabores "absurdos" numa cerveja, segundo o conhecimento de um leigo."
PERGUNTO EU: Precisa ser "profissional" pra ficar ofendido? Então não é ofensa! Como se falou de cerveja, respondo: pros juízes profissionais de cerveja, a análise de defeito só acontece quando estamos trabalhando (em concursos, dentro de fábricas, avaliando em pontos-de-venda etc). Quando estamos tomando cerveja recreativamente, só nos importamos com defeito de cerveja se ele é realmente grande, a ponto de prejudicar o nosso prazer. Entendemos que toda cerveja, se for buscar tem um defeitinho ou outro. Mas, na mesa do bar, usamos nosso senso comum pra não nos importar com ele. Um profissional de cervejas não é um caçador de defeitos, a impor suas próprias percepções a outras pessoas que não são treinadas. Se o cara do meu lado acha a cerveja que ele está tomando ótima, não sou eu, embora treinado, que vou contra o senso comum dele.

DIZ MILU: "E Maurício, ao contrário do que vc gosta de dizer, não foi uma reles meia dúzia que se ofendeu, não. Só na comunidade de que participo, esse rótulo gerou indignação coletiva e lá há mais de 100 mulheres."
PERGUNTO: A comunidade é de feministas, confere? Obviamente, todas treinadas, confere também?

DIZ MILU: "(...) porque uma coisa eu posso garantir: uma feminista SEMPRE conseguirá embasar todas as suas opiniões."
RESPONDO: Sim, uma feminista consegue, assim, como todos os demais seres do planeta que possuem discernimento. Feministas, embora algumas não enxerguem esse fato, são moralmente iguais a todos os outros humanos. Mas aí vai depender desse embasamento. Se for uma opinião vinda de alguém "treinado", claro que vai refletir a opinião geral daquele grupo humano. Se esse embasamento for contra o senso comum, vai gerar um natural estranhamento na maioria. O que não pode acontecer é essa opinião contrária ao senso comum ser enfiada goela abaixo de todo mundo. Feministas (ou qualquer outro movimento) têm o direito inequívoco de expressar suas opiniões livremente. Mas devem entender que devem também respeitar o direito de alguém se insurgir contra essas opiniões sem ser ofendido. Liberdade de pensamento não tem mão única.

Assim, respeitadas as opiniões contrárias, prefiro ficar com o senso comum. Pontualmente, não acho o rótulo comentado uma afronta à dignidade feminina.

Não vou dizer, com isso, que não haja casos de machismo no meio cervejeiro artesanal. Viemos de uma cultura que ainda acha que cerveja é "coisa de macho", que beber à exaustão é sinônimo de macheza, e que mulher que bebe cerveja não é "feminina". Como profissionais do meio cervejeiro, trabalhamos duro pra combater esses estereótipos.

Mas me coloco ao lado daqueles que acham que, no meio cervejeiro artesanal, os casos são realmente raros e pontuais, muitíssimo menos recorrentes do que na área "mainstream" onde bundas e peitos ainda vendem cerveja.
Ultima edição: 10 anos 1 semana atrás por Mauricio Beltramelli.
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10 anos 6 dias atrás - 10 anos 6 dias atrás #58914 por Alexandre Almeida Marcussi

Mauricio Beltramelli escreveu: Mas nenhuma delas, nenhuma, relacionou o rótulo a turismo sexual, obrigação da mulher em se depilar, associação estreita entre o Brasil e a sexualidade feminina, reforço da representação da mulher brasileira como sexualmente disponível para o deleite dos homens estrangeiros, racismo, necessidade de busca da perfeição com dor e submissão a padrões que não são totalmente volitivos, ou nada que remetesse à análise semiótica do Marcussi, feita à página 13 deste tópico.


Maurício, entendo sua posição e sua argumentação. Mas, com todo respeito, acho que seu entendimento a respeito de questões ideológicas e da dinâmica discursiva é insuficiente. Nenhum dos conteúdos que são elencados em uma análise semiótica como aquela eu expus aqui são levados ao nível consciente do discurso - é por isso que você precisa de uma análise como essa para revelá-los. Procure se familiarizar um pouco com os estudos de teoria da comunicação aplicados à propaganda e à publicidade e você verá facilmente como as mais eficazes mensagens das propagandas são construídas nesse nível subconsciente do discurso. O receptor não precisa levar o subtexto ao consciente para ser afetado por ele.

O recurso ao senso comum não é válido como contra-argumento nesse caso, por alguns motivos. Em primeiro lugar, porque o senso comum não capacita ninguém a contradizer uma análise feita com metodologia científica. Quando o senso comum nos diz que um gato não pode estar morto e vivo ao mesmo tempo, isso não invalida a teoria quântica (quem não sabe do que estou falando pode dar um Google em "gato de Schrödinger"). Ela continua sendo válida a despeito de ser contrassensual. No campo das ciências humanas e da comunicação vale a mesma coisa. Infelizmente, todo mundo reconhece a necessidade do estudo para a compreensão das questões relativas às ciências naturais, mas acha que as questões de Humanidades não requerem estudo específico, bastando, para elas, usar o senso comum. Isso não é verdade - se fosse, não seria necessário estudar esses assuntos. Em segundo lugar, o problema de se recorrer ao senso comum, no caso de questões vinculados à ideologia (como o machismo), reside no fato de que o senso comum é justamente o nível do discurso onde os parâmetros fundamentais da ideologia são reproduzidos sem crítica. Portanto, é uma contradição em termos tentar fazer crítica ideológica apelando ao senso comum.

Veja, Maurício, existe uma enorme diferença entre doutrinação e metodologia científica. A doutrinação não admite contradita, porque ela se funda em imperativos morais e ontológicos. O ativismo social pode funcionar dessa maneira, e é evidente que o movimento feminista eventualmente pode funcionar assim também (como qualquer movimento social). Já a argumentação baseada em metodologia científica admite contradita, desde que ela se adeque conceitualmente ao registro da discussão. A falha do interlocutor em buscar adequação argumentativa ao registro científico não o torna doutrinário.

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Porque cervejas são boas para beber, mas também são boas para pensar
Ultima edição: 10 anos 6 dias atrás por Alexandre Almeida Marcussi.
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10 anos 6 dias atrás #58915 por Alexandre Almeida Marcussi

Mauricio Beltramelli escreveu: Resultado: 11 a meio. Só UMA das meninas entendeu que, pensando bem e procurando bastante, o rótulo se parecia com uma mulher morena de biquíni.


Como assim? Você quer dizer que as outras 11 não perceberam que o rótulo representa graficamente um bikini? Bom, então, nesse caso, elas simplesmente não entenderam o rótulo, então não dá nem para começar a discutir se o conteúdo é pernicioso ou não.

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