A edição de 2009/2010 do Veja Comer&Beber traz uma coluna de Walcyr Carrasco falando sobre os "gastrochatos" e a mania de harmonizações que, por vezes, assume irritantes tons de pedantismo e cientificidade. Em resumo, ele acha que algumas pessoas estão dando mais atenção aos cardápios do que às companhias junto das quais comemos. Ele fala dos enólogos, dos gastrônomos, dos cafés e azeites e tira sarro do hermético vocabulário usado pelos especialistas e sommeliers. Só esqueceu de falar da última moda gastronômica: as cervejas, claro!
Claro que, quando o autor ao debocha do vocabulário sensorial de degustação, como se fosse tudo marketing e mistificação, revela uma boa dose de ignorância. Ou então ele está dando uma de João-sem-braço. Não só aquelas sensações que ele desqualifica (frutado, amadeirado, persistente etc.) existem de fato, como é preciso ter alguma familiaridade com o assunto para começar a apreciá-las de verdade, além de uma saudável dose de humildade para reconhecer que o seu paladar ainda pode vir a "aprender" a detectar coisas às quais vc ainda não presta atenção. O artigo acaba apoiando uma vaga sensibilidade meio rude, ignorante, de que vale mais a percepção do leigo do que a do "chato"; de que a opinião do chato seria mero esnobismo vazio, enquanto o gosto do leigo estaria mais próximo de uma verdade autêntica.
Porém, isso não invalida o questionamento de fundo que o artigo dele levanta: a insistência nessas coisas não estaria pondo mais importância ao paladar do que às companhias e às pessoas na hora de comer e beber? Não existem alguns "gastrochatos" que usam seu conhecimento gustativo para excluir ou desqualificar as outras pessoas? Como vcs acham que isso afeta o universo das cervejas especiais? Existem também os "cervochatos"? Que tipo de comportamento poderia ser associado a eles? Isso mais ajuda ou atrapalhar no processo de tentar mostrar às pessoas a riqueza do mundo cervejeiro?