Oi Claudinei,
Respondendo à sua pergunta: a cultura cervejeira vem não do consumo de cervejas, mas do paladar, beber, sentir, avaliar e decidir o que gosta ou não, se você pega o Brasil antes da abertura comercial, as únicas cervejas que se encontrava aqui eram as nacionais, esse era o nosso universo de cultura cervejeira, só cerveja de massa, mas elas não eram tão ruins como são as de hoje, e dentro da massa tínhamos mais variedade, nosso ponto de escolha estava no que havia, tinha Cerpa, Brahma extra, Serra Malte, que eram boas cervejas. Quando uma cerveja fica ruim cabe a você rejeitar, baseado na sua cultura, a lembrança do que era o sabor, não à fidelidade ao rótulo. Meu avô trabalhou na Brahma, mas por conta da perda de qualidade não tomava mais a Brahma chopp, só Antártica ou Brahama extra, e olha que ele recebia mensalmente cerveja Brahma quando ia pegar a complementação da aposentadoria que a Brahma dava aos ex-funcionários. Quando descobri um bar chamado Lo Spuntino foi que tomei conhecimento de outras cervejas, não cervejas “Especiais”, normais de outras partes do mundo, mas muito mais caras por serem importadas, minha noite começava com uma Urquell, que na época não tinha garrafa verde e depois ia para uma cerveja escura do Sul, boa e mais barata porque a carteira não é de ferro. Algumas vezes comprava uma destas cervejas para dividir com meu avô, ele era um apreciador de cerveja. Logo depois na abertura nossos supermercados ficaram cheios de cervejas importadas normais, não especiais: Orange Boom, Lowenbraw, Becks, Heineken que nada tinha a ver com a atual apesar da lata ainda ser idêntica, cervejas importadas em latas de alumínio, nacionais em lata de ferro, tinha também Budweisser, Milwaukees Best, Coors, as mesmas porcarias de hoje. Você podia beber e comparar, adquirir cultura, uma Becks custava o mesmo que uma Bud, ambas importadas e mais caras que as nacionais. Tudo isso para dizer que a nossa cultura depende do nosso paladar, da lembrança dos sabores e da escolha, dentro do universo que se tem. Quem gosta de cerveja experimenta mais do que quem não gosta, e, se lembra do gosto, tem suas preferências, desenvolve sua cultura, se com todas opções a pessoa fica escravizada ou fiel ao rótulo, não aos próprios sensos, não há cultura.
Alex B escreveu:
O negócio é que guias de estilo e Ambevs da vida estão na competição onde o prêmio somos nós...
O que quero dizer com meu comentário final é que nesta história de cervejas “massificadas” e “Especiais” há uma distorção comercial, há o lixo e as caríssimas, sem nenhuma justificar-se ao que é. Há cervejas boas e há cervejas ruins, a diferença de custo entre uma e outra não é tão grande, e no entanto as massificadas custam X e as especiais custam 10X ou mais, é uma questão comercial, não cultura cervejeira, e cada vez mais a cultura da cerveja fica de lado, a indústria de massa está no jogo de oferecer um produto cada vez mais barato para uma massa maior e assim auferir mais lucros, alguns gramas a menos de malte na receita, devido à altíssima produção significa economia de fortunas, vira uma indústria mesquinha, e ela investe na ignorância. Veja se na Alemanha as cervejas de massa são tão ruins como aqui? Não são, o consumidor de massa de lá rejeita. Ao outro lado o consumidor de cervejas especiais é extorquido, já que consome cervejas “especiais”, muita gente consome cervejas caras por status e não por gosto, é moda, é hype, é caro, mas também é ignorante, a maioria das cervejas especiais não vale o que cobram, algumas são ruins mesmo, mas são “especiais”, não boas cervejas, mas “diferenciadas”. Se você faz cerveja em casa e tem um pouco de conhecimento, faz cerveja que surra com facilidade todas as especiais mesmo pagando caríssimo por todos os insumos. Cevada é commodity, custa U$130 a tonelada, quem faz cerveja em casa aqui no Brasil paga R$15 o quilo de malte, em meio litro de cerveja muito boa vai 100gms de malte... De um lado há o hype das cervejas especiais, do outro o lixo das massificadas e nada no meio, cadê a cerveja boa e honesta? Quem não sabe o que é cerveja bebe lixo, quem sabe e quer beber uma boa cerveja é extorquido, nossa carteira é o prêmio em ambos os casos.
Alex