Cervejas hypadas

Creio que me enganei quanto ao fato de ser o único que gosta bastante da "Golden Ale". Dei uma olhada nas resenhas aqui e a segunda melhor nota dada a ela (a mais alta é minha rs.) é justamente do Alexandre Marcussi - aliás, uma resenha muito cuidadosa e bem escrita!

tiago lucas garcia escreveu:

Isto [o uso de adjuntos] seria para mascarar os off-flavours ("dis-aromas"?? hehe) do malte antes da maturação?

O uso de adjuntos tem dois principais objetivos na indústria cervejeira quando falamos no estilo American lager: o primeiro é atenuar o corpo e afinar a textura, já que o milho e o arroz possuem poucas proteínas. Isso pode ser observado de forma muito clara nas Japanese rice lagers, como a Sapporo, que se tornam mais secas e leves devido ao uso abundante do arroz. O segundo é diminuir os custos de produção, tendo em vista que esses ingredientes são mais baratos que o malte de cevada. Evidentemente, como esses ingredientes são menos aromáticos do que o malte de cevada, o resultado final também é uma cerveja com menos aroma e sabor de malte. Ou seja, o uso dos adjuntos tende a atenuar as características da cerveja. Como uma American lager não deve ter nenhum aroma muito pronunciado (é uma característica do estilo), o uso de adjuntos é admitido pelas características do estilo. Uma American lager pode ser puro-malte (como a Heineken), mas não precisa sê-lo. Agora, não chega a mascarar os off-flavors do mosto, não. É muito comum sentir DMS nas nossas industriais.

Quanto à questão da propaganda, acho que existe, sim, uma propaganda pesadíssima em cima da Heineken e, principalmente, da Guinness. Não na televisão, mas em mídias que têm como alvo um público de maior poder aquisitivo. A propaganda dessas marcas nos próprios bares, por exemplo, é muito grande. Na minha visão, essas duas marcas ficaram associadas a uma cultura jovem, cosmopolita, moderna e exigente - essa é a imagem que o marketing das empresas tenta passar, e acho que com sucesso.

Sobre a Baden Baden Golden, eu a acho uma cerveja interessante. Já peguei exemplares excessivamente puxados na canela e outros um pouco mais suaves (talvez porque tenham maturado um pouco mais na garrafa, não saberia dizer), e certamente é uma cerveja adocicada, mas acho uma receita interessante e inovadora. Não estupenda, mas interessante, e que cumpre um papel no mercado. No mais, eu acredito que uma cerveja boa tenha necessariamente de ser puxada no amargor; encaro o amargor como um dos elementos do equilíbrio de uma cerveja, mas não como o elemento que deve sempre ser protagonista. Sobre a minha avaliação, agradeço o elogio, Tiago!

Claudinei   escreveu:

Gustavo,
 
Eu, siceramente, não vejo quase nenhuma propaganda de nenhuma das marcas que vc citou. Pelo menos não aqui no Brasil. No máximo, algo bem discreto, como um luminoso em um bar, ou um freezer personalizado dentro de um supermercado, mas nada que se compare com as pirotecnias televisivas das grandes marcas (Ambev, Petrópolis, Schin, etc), essas sim grandes "marketeiras".
 
Eu disse "quase" acima porque na transmissão de jogos da UEFA, a Heineken é patrocinadora, e aparece na televisão (RedeTV, se não me engano), mas não é algo que deva ter muito alcance, creio eu...
 
Em suma, quem bebe Heineken, Guinness ou Baden Baden, é porque realmente gosta, e não por influência de propaganda.

Concordo com você, Claudinei. Como alguém também mencionou, a propaganda destas marcas não alcança nem de longe a propaganda das 'corn beers' (aqui e lá fora). Essa propaganda a que me refiro é entre os apreciadores e pessoas que querem um pouco mais de qualidade fora das 'corn beers'. Se for perguntado com a Stout mais conhecida no mundo provavelmente a reposta será Guinness, e uma parte dessas resposta será em função da marca Guinness que é forte (principalmente na Europa). Mas é um parte, não siginifica que todos bebedores de Guinness seguem esta linha.

Enfim, não quero provocar polêmica, mesmo porque minha cerveja do dia-a-dia é a Heineken, que somados todos custos e benefícios continua sendo a que vale mais a pena pra mim.

Vou abrir um parênteses dentro deste assunto, que tem um pouco a ver: por que é tão difícil encontrar cervejas americanas no Brasil? Belgas, Alemãs, Inglesas... cadê as Americanas?

Um brinde e abraços

Alexandre,
 
Creio que essa "propaganda pesadíssima" a que vc se refere não se aplique ao Brasil. Aqui, a cultura cervejeira ainda engatinha, e são pouquíssimos bares que servem o chopp Guinness (alguns bons pubs) ou mesmo a Heineken. Em muitos restaurantes e bares sofisticados e caros, o máximo que vc costuma encontrar é aquele letreiro do "Brahma Chopp", em meio a vinhos e scotchs de primeiro mundo. Pelo menos aqui em Sampa. Mesmo o público de maior poder aquisitivo (já evoluído culturalmente em relação ao vinho) ainda não está, em sua maioria, informado sobre a cultura cervejeira, os variados estilos e sabores e as amplas possibilidades de harmonização gastronômica com a cerveja. Pode apostar que existe muito "playboy" por aí que numa balada ou num evento social só sabe pedir uma Skol Beats, ou uma Itaipava que o valha. Até porque dificilmente oferecem coisa melhor! Duvido que os poucos que, como eu, botam uma caixa de Heineken no carrinho de supermercado o fazem por influência de alguma propaganda em bar ou qualquer outro meio, mas sim porque desenvolveram um paladar um pouco mais exigente que não se satisfaz mais com as insípidas lagers de massa. Essa é, pelo menos, minha visão, fique à vontade pra discordar...
 
Gustavo,
 
Parece que as americanas começaram a chegar agora. Eu tenho muita vontade de provar as da Samuel Adams, Anchor e Sierra Nevada. Quem sabe um dia estas chegam por aqui! E outra, não tenha medo de polemizar, somos todos amantes da boa cerveja e estamos aqui pra discutir (e aprender) mesmo!

Claudinei, eu penso que você e o Alexandre Marcussi não estão, necessariamente, discordando. Realmente não existe uma propaganda "pesada" em cima de marcas como a Guinness ou a Heinecken e tampouco os nossos "playboys", como você colocou, possuem uma vasta "cultura cervejeira". Agora, creio que o Marcussi esteja se referindo a algo mais indireto e subliminar... Explico: Exatamente porque a maioria destes "playboys" não possuem conhecimento algum sobre as cervejas "especiais", ao chegar num bar ou num pub mais "arrumadinho"... Ou ao assistir seu jogo de futebol americano na NET pra parecer mais "bacana" e, num destes dois momentos, ver uma propaganda ou um slogan (ou uma simples placa) das marcas supracitadas, ele logo vai tratar de associa-las a "cervejas de qualidade".

Também é obvio que, sem qualidade, a propaganda em si não se sustenta por muito tempo, mas que existe um toque de "marketing" num primeiro momento, isso existe.

Espero ter me feito compreender... Segue a discussão...

Mauro, acho que é bem por aí mesmo. Não dá para comparar o marketing da Heineken e da Brahma, são dois produtos com públicos-alvo completamente diferente e que, por isso, possuem estratégias de marketing também completamente diferentes. A Heineken possui marketing mais indireto e mais subliminar justamente porque o seu público alvo rejeitaria um tipo de propaganda direta como a da Brahma (pois acharia que virou "cerveja do povão", e portanto não é mais uma bebida moderna, antenada, cosmopolita e diferenciada). É mais um "clima" que se associa à marca devido à sua vinculação a certas mídias mais exclusivas (bares mais "descolados", programas de televisão estrangeiros, propaganda viral na net etc.). Mais ou menos o mesmo se aplica à Guinness. Veja, não estou dizendo que são marcas "de massa", mas a sua estratégia de marketing se baseia justamente em rejeitar uma ideia de "produto de massa". Mas é só comparar a propaganda da Heineken com suas concorrentes diretas (isto é, apenas as outras premium American lagers) e vc irá notar que apenas a Bohemia faz tanta propaganda quanto a Heineken nos seus pontos de venda (e ainda mais nas mídias).

Mas veja, não quero com isso implicar que não sejam boas cervejas. Quanto à Guinness, é uma dry stout de referência, com uma drinkability difícil de se superar dentro do estilo. Já a Heineken, como eu disse, está sem dúvida no grupo das melhores American lagers disponíveis no Brasil, e seu perfil é o que mais se adequa a um público que procura cervejas de amargor mais marcante. Só acho que existe, sim, um certo "hype" em torno delas que ofusca suas concorrentes.