O aroma de "milho cozido" não tem nada a ver com o uso de milho como adjunto, mas sim com um composto sulfúrico denominado "dimetil-sulfeto" (DMS), que deriva do malte de cevada. Esse aroma é realmente parecido com o de suco ou creme de milho verde, e tem uma certa "untuosidade" meio oleosa. Pode ser encontrado em praticamente qualquer estilo de cerveja, mas é mais característico das lagers claras, devido à sua delicadeza de aromas, o que acaba deixando o DMS aparecer. Ele é frequentemente acompanhado de um outro composto sulfúrico chamado "dimetil trissulfeto" (também derivado do malte), que exala um aroma de cebola cozida ou alho. Os dois juntos frequentemente passam a impressão de "pamonha refogada" ou "legumes refogados". Mas isso não tem nada a ver com cereais não-maltados, que na verdade são usados justamente para atenuar o aroma do malte. Esse é mais um dos mitos cercando as cervejas puro-malte.
E a combinação desses dois compostos sulfúricos é justamente um dos maiores defeitos da Baden Baden Red Ale, na minha opinião. Todas as garrafas que tomei ultimamente exibiram esses dois aromas de uma maneira bem clara, que me incomodou. Entendo que faz parte da "rusticidade" do perfil da cerveja, que contribui para lhe dar um sabor bem marcante, mas eu não curto, e tecnicamente pode ser considerado como um problema. Acho que, se comparada a outras barleywines paradigmáticas (como a Thomas Hardy's Ale), a Baden Baden deixa bastante a desejar, e por isso entendo que há algo de "hype" na fama que ela tem. Diferente do que ocorre com a stout, que se sai muito bem do ponto de vista técnico se comparada às boas stouts do mercado.
Já a Heineken, entendo por que ela agrada muitas pessoas e reconheço suas virtudes, mas acho que ela é apenas mais uma entre outras American lagers razoáveis do mercado. Do ponto de vista estritamente técnico (isto é, ausência de off-flavors e adequação ao estilo), eu entendo que existe muito pouco motivo real para considerar a Heineken como uma cerveja universalmente acima de outras boas premiums do mercado. Como eu disse, entendo o que agrada às pessoas nela (principalmente o amargor do lúpulo, mais acentuado que em outras American lagers - mas leve-se em conta que esse não é um requisito do estilo), mas acho injustificado considerá-la obviamente melhor que outras concorrentes diretas. Mais uma vez, do ponto de vista puramente técnico, desconsiderando preferências pessoais. Por isso entendo que existe um "hype" em torno dela, um "mito" de que ela é a única cerveja decente do mercado. Em parte, acho que isso vem do maior amargor, e em parte do "fascínio" de ela ser puro-malte - o que, sozinho, não prova nada, pois existem excelente cervejas com adjuntos e vice-versa.