Legal a discussão. Quero fazer alguns apontamentos:
1. A Westmalle não inventou o termo tripel, ela apenas produziu a primeira tripel clara (em vez de escura) e, com isso, determinou uma tendência de mercado seguida por outras cervejarias. Quando várias outras cervejarias aderiram, aí sim pode-se dizer que se criou um "estilo".
2. As definições do BJCP não são restritivas a ponto de apenas uma cerveja poder ser considerada como plenamente adequada ao estilo. Se lermos com atenção, notaremos que eles usam o tempo todo termos como "may be present", "optional" ou "sometimes", dando margem de manobra à criatividade do mestre-cervejeiro. Além disso, certos critérios são definidos de forma super ampla, como "ésteres frutados", que podem corresponder a uma ampla gama de aromas e combinações de aromas esterificados. Mesma coisa para os aromas de lúpulo: às vezes o BJCP indica que tipos de aroma lupulado podem ser esperados, mas às vezes não, e vai da criatividade do mestre-cervejeiro achar uma variedade de lúpulo que possa se encaixar bem ali. Duas cervejas bastante diferentes podem, ao mesmo tempo, estar perfeitamente enquadradas no estilo de acordo com o BJCP, e aí vão entrar quesitos como o equilíbrio, a harmonia (super subjetivo), a aspereza do gole, a drinkability etc. As grandes vencedoras de concurso não se destacam simplesmente por estarem adequadas, mas por oferecerem um conjunto interessante e marcante dentro dessa adequação.
3. Mesmo quando estamos nos guiando pelo BJCP (e ainda mais quando não estamos, como é o caso das specialty beers), é preciso saber identificar a proposta e o perfil da cerveja que vc está bebendo. Vc pode preferir uma IPA mais maltada e robusta, digamos, mas quando aparece uma mais seca e delicada, é preciso saber avaliá-la dentro dessa proposta e perfil. Para mim, um bom avaliador não apenas considera a adequação da cerveja ao estilo como avalia seu desempenho de acordo com as características daquele estilo que ela optou por enfatizar. Aí entra aquilo que o Marcelo colocou de avaliar conforme a proposta, e não apenas conforme o BJCP. Vc pode até não gostar da proposta, mas se quer uma avaliação bem-feita, precisa ao menos saber identificá-la.
4. O Brejas não é um campeonato de cerveja, e seu ranking não deveria ser levado tão a sério quanto algumas pessoas levam. É simplesmente um reflexo das preferências dos usuários a cada momento. É uma forma de confraternizar e trocar experiências. Realmente, deixemos os julgamentos mais sérios para os campeonatos compostos por jurados devidamente qualificados para isso!
5. Avaliações mais técnicas e rigorosas demandam um tipo de concentração e ambiente que, para mim, é incompatível com a desejável descontração de uma mesa de bar, como bem colocou o Renato. Eu evito colocar aqui avaliações de cervejas que degustei descompromissadamente, mas isso é uma característica minha, e não uma exigência do ranking. Se passarmos os olhos pelas avaliações, veremos que a maioria foi feita em ambientes mais descontraídos - que é, com efeito, o ambiente em que a maioria das pessoas consome cerveja, então nada de mal com isso também.