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Bem, eu realmente devo ter escrito o post muito mal se deixei entender que acho que é definitivamente modinha. Vou até reler e editar, se for o caso. Sério.
Mas por agora, fica o comentário: não acredito que seja modinha - se o fosse, não estaríamos aqui em um fórum sobre cervejas.
Só acho que parte do mercado que consome é influenciada por moda e não sei dizer exatamente se é uma parte significativa ou não.
Agora vai! (e só escrevi um terço do que foi originalmente ... rs)
Eis a parte que discordo. Tem sim. Aqui em sampa no mínimo, o Xavier vive lotado e o Melograno também. As pessoas tem cada vez mais grana, e se não tem, fingem ter (e fingem muito bem, diga-se). O consumo de cervejas especiais cresceu 5% e bom, digamos que 5% é muita coisa, a nível nacional. Isso sem falar de outras estatísticas
de consumo que estão bombando graças a 'classes emergentes'. Logo logo eles também vão começar a fomentar essa cultura.
Que remete justamente ao que disse, concordo que daqui a um tempo, as importações vão cair em uma estabilidade ou decrescimento porque estarão, por n-fatores, saturadas no seu consumo.
Primeiro, só pra tirar uma dúvida: você sabe se esses 5% são em relação ao consumo total de cerveja ou se é um crescimento específico para o setor de especiais? Se for específico, até acho baixo e na real o crescimento deve ter sido bem maior. Se for no geral; infelizmente tem muita Bavária Premium e Bohemia diluída nesse número
Mas vamos lá, já que sei que eu não me expliquei direito no meu post anterior.
É claro que existe quem paga: não é à toa que tem importadora trazendo agora uma cerveja italiana que custa R$150 a garrafa de 500ml. A questão é se esse mercado vai existir para sempre ou se não é fruto de um modismo talvez temporário.
Sabemos que o consumo de certos produtos é cíclico. Todos os exemplos que eu vou dar são do Rio de Janeiro, que é onde moro. Não sou maluco e sei muito bem que isso aqui é uma província e que não reflete mercado de porra nenhuma em âmbito nacional, onde se há um espelho, este é São Paulo (se SP não for, de fato, o mercado per se).
Volta e meia no Rio surge uma nova moda: comida mexicana, produtos naturais, temakis, iogurtes, kebabs, agora a moda é fast-food tailandesa. O que geralmente acontece é que, após o surgimento do primeiro empreendimento bem-sucedido, vem aquela avalanche de semi-clones para aproveitar o sucesso. O original costumeiramente é comprado por um grupo de maior poder e experiência e acaba sobrevivendo aos 2 anos de vida média da moda no balneário. Os outros têm um fim agonizante e lento (quando o dono não é rápido o suficiente pra trocar sua loja de konis de peixe cru pra uma loja de pizza em cone, etc).
Em termos de lojas que trabalham com cerveja diferenciada (vou chamar assim sempre que me referir a importadas/artesanais), o Rio começou mais lentamente (e acho que ainda continua assim). Acho que todo mundo entende o Leblon como um bairro de gente com muita grana, não? Não precisa nem morar por aqui, basta ter visto a um pedaço de novela do Manoel Carlos rs.
Um dos "primeiros" bares a trabalhar com uma carta de cervejas abriu numa rua de bares, no Leblon. Chamava-se Welt Bier e eu nunca vi encher (passei por lá um par de vezes e estava sempre vazio) e não tinha um preço muito acima do estabelecimento irmão (que abriu um pouco antes, com carta bem parecido até pela pouca variedade de oferta na época) que era o Herr Brauer.
O Xavier teve um restaurante/bar bem grande que ocupava uma esquina privilegiada de um 'shopping' na Barra da Tijuca, outro foco de poder aquisitivo no Rio. Teve que fechar lá e se transportou para um pequeno empório em Ipanema, num espaço de 30m2 num canto escondido do segundo andar de uma galeria de lojas e cabelereiros.
Será que a moda passou? Pelo contrário, eu acho que a "moda" do consumo cervejeiro é agora. O Xavier, pro bem ou pro mal, foi pioneiro nisso e talvez tenha encarado uma crise que não podia bancar. O Welt Bier eu acho que surgiu quando o assunto começava a fomentar e não teve como se bancar num ponto privilegiado até o momento onde poderia estar dando muita grana (ou não, afinal hoje no mesmo lugar funciona o Gattopardo que, se nas primeiras vezes que fui estava sempre bem cheio, hoje em dia anda meio vazio...). A rotatividade de opções é sempre algo perceptível no Rio.
E em SP? O que aconteceria se as revistas de gastronomia, as matérias sobre consumo de bebidas alcóolicas, todas, do nada, começarem a trabalhar com a idéia de que a onda do momento é craft pisco? Se você começar a achar somente páginas e mais páginas sobre mixólogos treinados em workshops caríssimos nos arredores de Machu Picchu? Grandes especialistas da análise sensorial do destilado de uva peruano?
Será que o mercado permanece o mesmo? Será que temos realmente uma cultura cervejeira fomentada ou temos também um volume grande de consumo de ostentação ou curiosidade, mesmo que com algum conhecimento e interesse?
Eu tenho minhas dúvidas. Quando frequento locais onde há oferta de cervejas muito caras (cada vez mais raro), eu vejo muita tiração de onda. Já teve um sujeito que veio de papinho pra cima de mim, dizendo para não tomar o chopp da Tripel Karmeliet porque era muito ruim e esse cerveja só vale a pena na garrafa de 750ml arrolhada que custava mais de cinco vezes o preço. E não vejo o tal consumo consciente não; é gente caindo de bêbada de cerveja caríssima.
Também me vejo na oposição aqui. Creio que nossos cervejeiros tem uma ótima percepção do que é o mercado cervejeiro e eles sim estão a inovar.
Acho que alguns tem, talvez até a maioria.
Mas precisamos enxergar uma coisa: no Brasil, não há (ainda, ao menos) como as micros brigarem pelo mercado com as grandes na base do preço, infelizmente. Mas essa briga continua ocorrendo, com as importadas. Quantas vezes já não ouvi, até aqui no forum, coisas como "se você paga 30 reais numa Chimay Bleu, porque não pagar 24 numa dubbel brasileira de altissimo nivel"?
É normal, dentro do capitalismo, trabalharmos com o diferencial de melhor oferta (ou seria, porque no Brasil me parece que os concorrentes combinam o preço mais alto pra tudo). Porque comprar um Fiat de 70 mil se podemos comprar um Honda de 65 mil, não é? É o mais "em conta" do mercado!
Não sou contra a inovação, muito pelo contrário. Mas vamos ter que inovar em idéias e não somente em produtos e embalagens. O que nos leva a ...
Aí sim, chegamos no ponto. O Governo. Isso é uma questão complexa, que não me arrisco a traçar nenhuma teoria. Acho que o governo é nada mais que um reflexo da grande maioria - salvas exceções, claro.
A redução de tributos é imperativa para que qualquer coisa se desenvolva com uma naturalidade maior. Mas vai sugerir reforma tributária... Não tenho pano pra essa manga, pessoalmente sim, mas aqui não me vejo fazer.
Pelo que parece, a Falke, Bamberg e Colorado estão se unindo para distribuir as cervejas uma das outras, não? Acho isso uma parada sensacional, porque no Brasil sempre há um intermediário louco para ganhar sua boa fatia de lucro entre o fabricante (que lucra menos) e o vendedor final (que lucra mais). É um absurdo as cervejas da Bamberg serem vendidas por 14 reais em um bar aqui no Rio de Janeiro e imagino que o Alexandre também deve achar isso.
Esse é um passo importante, ou talvez tenhamos que pensar no Brasil, com suas proporções continentais, em um agrupamento de mercados regionais (mais parecido com o modelo americano) e aí da pra ver que tem espaço pra muita gente começar o seu negócio ainda. Ou senão inventa uma máquina do tempo e vai até a década de 60 dar um pescotapa no Juscelino e manda um "vai fazer expansão da malha ferroviária sim, cacilda!".
Me lembro de quando eu entrei na lista das acervas havia uma conversa sobre donos de micros, cervejeiros caseiros e especialistas estarem se movimentando para levar a questão de falta de incentivos e excesso de tributos para o governo, mas não sei no que deu ou se foi um projeto abandonado.
É muito fácil culpar apenas o governo, por mais que ele seja realmente culpado. Temos é que parar de apontar o dedo pro bode expiatório e esperar que ele se torne uma mãe por conta própria, o que não vai acontecer MESMO. Acho interessante sempre falarem dessa questão sendo que todos nós somos taxados também, não somente os empresários - também ODEIO o desconto que eu tenho no meu salário, meus caros.
O meu medo é da alta tributação se tornar confortável (assim posso cobrar mais caro, continuo vendendo bem, estou ganhando bem, pra que mudar?)...
E que fique claro, só estou querendo contribuir com uma discussão que seja frutífera para a cultura brazuca cervejeira.
E aí moçada, o que pensam meus confrades?
Idem aqui
Eu só bato insistentemente nessa tecla por um motivo: acho que essa discussão é EXTREMAMENTE sadia e necessária. Nos falta um hábito de questionamento, somos seres passivos que aceitam tudo que nos é imposto com qualquer argumento. "Ah, é o capitalismo... aceite ou vá morar nas cavernas" é um papo que eu não engulo e, se vou pagar de "pobre" ou "chato", azar. O primeiro eu sei que sou, o segundo eu ainda tenho lá minhas dúvidas rs
Mas insisto que os países que tem tradição em cerveja (Inglaterra, Bélgica, Alemanha e República Tcheca) tem suas bases em cervejas de qualidade feitas para o povo - brigam pau a pau em preço com qualquer lager industrial da AMBEV. E o mercado que queremos tanto nos espelhar, que é o americano, não cresceu por conta de Samuel Adam's Utopias, Dogfish Head 120 Minutes IPA ou Three Floyds' Dark Lords da vida: se tornou o que é hoje em dia por causa de session beers de qualidade com preços acessíveis para o americano médio.
Não existe cultura cervejeira se ela é feita apenas para uma elite. Aí é nicho, que é outra coisa.
...ou a urina de um antílope chileno (que misturada com suco de clorofila fica uma delícia e é energético).
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