Acho positivo que o tema ética na divulgação de informação sobre cerveja seja levantado, e que os consumidores demonstrem espírito crítico. Mas é pena que, como de costume no mercado cervejeiro, o debate sobre conceitos e pontos de vista fique em segundo plano em relação aos ataques pessoais. Ainda mais que a discussão já comece com estes ataques.
Igualmente triste que, conforme a Amanda mencionou, não tenha havido qualquer contato direto com ela para os questionamentos ao conteúdo. Ou com a página do BBC no facebook - que também não é difícil de localizar (basta clicar na caixinha de "pesquisar"). Oferecer o direito ao contraditório também é uma questão ética.
Sou jornalista profissional há 13 anos, e blogueiro há 3 anos. Como redator da Carta de Intenções do BBC, que foi intensamente debatida pelos integrantes do grupo, creio que posso oferecer algumas considerações sobre o tema.
A definição do dicionário para "jabá", como toda definição de dicionário, não contempla toda a história do termo, bem como a evolução da prática ao longo das décadas. Justamente por saber da amplitude que essas definições podem ter, chegou-se à redação que está na carta, classificada de forma, na minha opinião, infeliz, de "retórica vazia".
Curioso que um comentarista anônimo lá no Mosto Crítico tenha captado a palavra-chave: "indevidas". Influências sempre existem. Isenção e imparcialidade são, na realidade, posições inalcançáveis, como sabe qualquer um que tenha estudado comunicação minimamente.
Os seres humanos são dotados dos mais diferentes vieses. O que o BBC se propõe é a tentar evitar as "influências indevidas" - pelo qual queremos dizer aquelas que derivam de acordos que não estão explícitos para o leitor, e portanto tolhem sua capacidade de julgar a credibilidade aquele conteúdo. Ou seja, se propõe a ampliar a transparência sobre as relações que podem surgir entre os blogueiros e os players – que, é importante ressaltar, não são necessariamente espúrias nem necessariamente afetam significativamente o que está sendo passado ao leitor.
A postura que se tem adotado quanto aos publieditoriais, como no caso das blogueiras de moda, é o da sinalização (flagging) do post como tal - assim como, nos jornais, os anúncios que são diagramados como reportagens pelos anunciantes recebem a etiqueta de "informe publicitário". O conteúdo que não for autoral deve ser marcado como tal.
O BBC e a carta são uma tentativa de, além de dar transparência a este processo, criar uma instância de autorregulação dos blogs. A adesão ao grupo é voluntária, e não se trata de uma organização formal ou reconhecida por lei, dotada de poder de punição. Não somos polícia do pensamento, nem se trata de uma iniciativa que deslegitime os que não aderem a ela, de forma alguma.
O documento é passível de aprimoramentos, sem dúvida, e estamos sim empenhados nesta discussão. Contribuições são bem vindas, e acho que tanto o Marcussi e o Pacheco – que frequentemente adotam posturas que admiro – poderiam contribuir, em vez de simplesmente não aderir. Mas é preciso entender que, quando se fala em um coletivo, é preciso harmonizar da melhor maneira visões divergentes.
Quem tiver reclamações concretas e específicas sobre a atuação de qualquer blogueiro signatário da Carta pode procurar o grupo para discutir o caso e propor alguma medida. Acusações genéricas e generalizadas, principalmente as que não oferecem ao acusado a oportunidade de se manifestar, porém, não são um caminho justo nem válido.
Paz e cerveja para todos.