Flying Dog - Rótulos

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15 anos 3 semanas atrás - 15 anos 3 semanas atrás #10050 por Alexandre Almeida Marcussi
Mauro Renzi Ferreira escreveu:

o que existe de "tradição" numa cerveja trapista pode também ter sido uma idéia criada através do marketing (nem que esse "marketing", paradoxalmente, seja de fato um "contra-marketing" ou um "não-marketing").

Tenho convicção de que se trata de marketing consciente em alguns casos. Em várias das cervejas de abadia e mesmo em algumas trapistas, como a La Trappe, existe uma evocação bastante consciente dos signos da tradição nos anúncios, rótulos etc. Vale lembrar que, embora essas cervejas sejam produzidas sob supervisão ou licença dos clérigos, elas possuem um departamento de marketing leigo. :laugh: O próprio "selo trapista" é uma forma de marketing que se assenta numa suposta tradição milenar de cervejas eclesiásticas (embora as cervejas vendidas sob esse selo sejam, na maior parte dos casos, receitas recentes). O mesmo acontece nos rótulos de muitas cervejas inglesas e alemãs. Reforçando o que o Mauro disse sobre essa perspectiva histórica da coisa, nós historiadores frequentemente indicamos como certas tradições que parecem imemoriais na verdade são produtos muito recentes de ideologias modernas.

Não acho que seja "contra-marketing", acho só que é um marketing que apela para um público diferente do marketing moderno e descontraído que outras cervejarias adotam. Aproxima-se do tipo de status normalmente atribuído a outras bebidas como o vinho ou o uísque, em que a tradição é valorizada. Quem busca inovação e algo diferente do que já conhece, vai se sentir atraído por esse tipo de design mais moderno. Quem busca um sentido de tradição e de experimentação solidificada, vai talvez se atrair pelos rótulos mais "quadrados". E essa cara mais jovem e descontraída não é exclusividade das cervejas do Novo Mundo: a Delirium Tremens é um exemplo belga de rótulo divertido e descontraído, desapegado da tradição (ainda que não tenha a mesma competência de design e marketing profissional que pode ser vista por trás da Flying Dog).

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Porque cervejas são boas para beber, mas também são boas para pensar
Ultima edição: 15 anos 3 semanas atrás por Alexandre Almeida Marcussi.
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15 anos 3 semanas atrás - 15 anos 3 semanas atrás #10058 por tiago lucas
Respondido por tiago lucas no tópico Re:Flying Dog - Rótulos
Não discordo que sejam distintas estratégias de "marketing". Mas concordo com o Mauro de que ,de certa forma, se trate de um marketing um tanto 'paradoxal'. Afinal mosteiros trapistas e escritores não é exatamente algo que você queira vinculado a imagem de uma bebida que é consumida em larga medida por jovens.

Acaba por ser um marketing direcionado ao número substancialmente menor de indivíduos que buscam em cervejas um "sentido de tradição". Não dá para pensar em uma Brahma ou Heineken trapista, certo?

Pessoalmente vejo muita graça no paradoxo da imagem do padre ou monge cervejeiro. Tipo o rótulo da Franziskaner, acho que há algo de subversivo nele, é uma imagem inesperada hoje. A idéia de moral e descontração em uma mesma imagem.


Marcussi, acho que pensar a tradição da Europa aqui não significa necesseriamente apontar que as receitas são antigas, mas apontar para o fato destas escolas estarem elaborando receitas há séculos. Mesmo que as receitas sejam diferentes a origem de muitas delas (como as rauchbiers na alemanha, a IPA na inglaterra e tantas outras) vieram da tradição. A tradição fornece as idéias. Se em algum ponto os alemães não fossem obrigados a defumar o malte talvez hoje não tivessemos rauschbiers. Se os ingleses não precisassem conservar as cervejas em viagens talvez não tivessemos IPAs.

Li num blog um texto muito bom (tentei encontrar novamente, mas, infelizmente, não achei) sobre esta questão da tradição x nova escola. E o ponto parecia ser a necessidade de não abondonar a tradição, não esquecer a história da cerveja. Dá para ser contra isto?
Ultima edição: 15 anos 3 semanas atrás por tiago lucas.
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15 anos 3 semanas atrás #10059 por Marcio Rossi
Respondido por Marcio Rossi no tópico Re:Flying Dog - Rótulos
Renato . escreveu:

Marcio Rossi escreveu:

Renato . escreveu:

marcio tenho que discordar

achei a tripel bem lupulada, BEM diferente das tripel belgas, com um herbacio bem aparente.
e a porter IDEM, naum conheço outra porter com tatas notas herbacias no mercado.


A Tripel Kerberos tem 27 IBU; o BJCP fala de 20 a 40 para o estilo
A Porter Road Dog tem 31; o BJCP fala de 18 a 35 para a Brown Porter


Marcio o faoto do ibu declarado estar dentro da faixa do BJCP naum significa que eles naum eh extramente aparente.
Lembra-se que podemos ter o IBU mais alto mas bem incerido e contra balanceado com maltes e fermento
Nem sempre ibu alto quer diser amargor em destaque, como no exemplo da imperial porter da FD que tem 85 IBU e o mesmo não eh agressivo.


"Agressividade" é uma coisa subjetiva.

O BJCP tem mais que números referenciais, tem a descrição do estilo. No caso de amrgor para Tripel:

"Bitterness is typically medium to high from a combination of hop bitterness and yeast-produced phenolics."

Por isso eu considero a cerveja comportada. Não pela impressão que me causa, mas pelo alinhamento com o que se prevê para o estilo.

Me parece que existe uma tendência das pessoas a acharem tudo que a Flying Dog faz extremo, o que não é o caso na verdade. Ousado sim, extremo, nem sempre.
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15 anos 3 semanas atrás - 15 anos 3 semanas atrás #10065 por Mauro Renzi Ferreira
tiago lucas escreveu:

Se em algum ponto os alemães não fossem obrigados a defumar o malte talvez hoje não tivessemos rauschbiers. Se os ingleses não precisassem conservar as cervejas em viagens talvez não tivessemos IPAs.


Pois é, a "necessidade é a mãe da invenção", né?
Ultima edição: 15 anos 3 semanas atrás por Mauro Renzi Ferreira.
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15 anos 3 semanas atrás #10074 por Alexandre Almeida Marcussi
tiago lucas escreveu:

Afinal mosteiros trapistas e escritores não é exatamente algo que você queira vinculado a imagem de uma bebida que é consumida em larga medida por jovens.

Pode ser assim ainda no Brasil, Tiago, mas não é na Inglaterra ou na Bélgica. Na Bélgica, por exemplo, a cerveja faz parte de uma requintada cultura gastronômica, e restaurantes cheios de estrelas pelo guia Michelin servem e/ou preparam seus pratos com cerveja. O público-alvo deles não é necessariamente jovem, e não se está buscando uma imagem de descontração e botequismo. Na Inglaterra, o mercado jovem tende a beber lager, enquanto as ales são mais aceitas entre os mais velhos.

Claro que a inovação das escolas cervejeiras do velho mundo está profundamente ancorada na tradição. Mas também é assim com a escola americana: os caras estão recriando e reinventando estilos clássicos, e não partindo do zero. E também algumas das características mais marcantes das cervejas americanas derivam de necessidades históricas, como o fato de que os lúpulos cultivados nos EUA possuem um perfil aromático distinto dos lúpulos europeus.

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15 anos 3 semanas atrás #10075 por Alexandre Almeida Marcussi
Marcio Rossi escreveu:

"Bitterness is typically medium to high from a combination of hop bitterness and yeast-produced phenolics."

Olha, eu não tomei a Kerberos, mas realmente as tripel, junto com as golden strong ales, estão entre os estilos mais lupulados da escola belga (tirando fora as Belgian IPAs, que surgiram para o mercado americano) - em parte porque foram elaborados para evocar as pilsners. Algumas tripel belgas, como a Chimay, puxam um amargor e uma secura pronunciados. Mas como não bebi a Kerberos, não vou dizer se ela destoa do estilo.

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