Odimi Toge escreveu: Estava vendo o rótulo de uma Mariage Parfait, que guardo aqui em casa, e vi que ela tem açúcar na composição. Você saberia me responder se esse açúcar foi adicionado pra gerar álcool ou apenas amenizar a acidez?
Odimi, essa questão é meio misteriosa. Se você olhar o rótulo do importador (Bier&Wein), vai ver que consta "açúcar" entre os ingredientes. Agora, se você olhar o rótulo original, por baixo, não há nenhuma menção a "açúcar". A Boon Kriek, essa sim, leva adoçante e açúcar, então é possível que tenha sido um erro de rotulagem do importador. Não sei dizer.
Agora, tem um detalhe interessante sobre a Mariage Parfait, porque ela é uma gueuze um pouco "diferente". O blend dela é composto por 95% de uma cerveja forte e maturada por 3 anos em tonéis, e apenas 5% de lambic jovem. Pesquisei bastante sobre ela quando escrevi o dossiê sobre cervejas selvagens e não encontrei nenhuma menção a açúcar nem no site do fabricante (que descreve o processo de blendagem de forma bem minuciosa), nem na minha bibliografia (o livro "Geuze & Kriek" é bem específico quanto a esses detalhes). Segundo o fabricante, os 5% da lambic jovem são suficientes para fornecer os açúcares residuais para a refermentação na garrafa. Mas, se o rótulo da Bier&Wein estiver correto, é possível que eles adicionem um pouquinho de açúcar para fazer a refermentação. A Cantillon faz isso com a sua linha especial Lou Pepe, que não leva lambic jovem. Esse açúcar é todo consumido pelas Brettanomyces na fermentação na garrafa e não sobra nada na cerveja.
O que ameniza a acidez da Mariage Parfait é a longa maturação de pelo menos 3 anos da maior parte do blend. Lambics plenamente maduras (3+ anos de maturação) tendem a ser um pouco menos ácidas e mais macias do que as de 1 ou 2 anos de idade. Algumas até chegam a desenvolver uma certa doçura frutada e abaunilhada (vide a Cantillon Grand Cru Bruocsella).