Ajuda com degustação

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14 anos 1 mês atrás #21326 por Mauro Renzi Ferreira
Deve ser cacuete de professor, mas ultimamente venho me questionando sobre uma coisa a respeito das degustações: A percepção do público, ou seja, como o público da sua degustação percebeu, de fato, as cervejas propostas.

Quero dizer que, muitas vezes, quando uma cerveja mais "extrema" ou diferente das nossas Lagers comuns é colocada numa mesa, as pessoas até gostam delas, acham diferentes, curiosas mas... E é ai que vem a minha questão... Será que elas REALMENTE percebem que aquilo que acabaram de beber foi uma cerveja? Será que a "ficha" REALMENTE cai? Ou será que o seu (nosso) esforço irá por "água abaixo" uma vez que aqueles líquidos serão enquadrados (na percepção do seu público) como bebidas boas, curiosas mas que não tem nada a ver com a "verdadeira" cerveja, que pra eles continuará sendo a Lager ali do boteco? (local o qual, aliás, eles irão correndo após o término daquela entediante degustação à francesa).

Enfim, pode ser apenas mais uma "viagem" minha, mas venho tendo essa certa "preocupação pedagógica" com relação a isso.

Sendo assim, tenho pensado que, para um público realmente leigo, que nunca provou NADA além do convencional, eu não iria muito além de umas Premium Lagers ou Pilsners mais lupuladas, Pales e Blond Ales e Weizens e Witbiers... E talvez uma cerveja escura, como a Oatmeal Stout da Anderson Valley, bem sedosa (e, contudo, leve) para uma sobremesa.

Porém... Se a sua degustação for para pessoas que já tem algum conhecimento e, principalmente, INTERESSE próprio em provar coisas novas e diferentes, aí sim eu poderia apresentar-lhes um leque mais ousado de opções e sabores.

Enfim, tentei contribuir com a discussão, mas pode ter se tratado apenas de um surto de "masturbação mental" minha... :laugh:
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14 anos 1 mês atrás #21327 por Leonardo Russo
Respondido por Leonardo Russo no tópico Re:Ajuda com degustação
Mauro Renzi Ferreira escreveu:

Deve ser cacuete de professor, mas ultimamente venho me questionando sobre uma coisa a respeito das degustações: A percepção do público, ou seja, como o público da sua degustação percebeu, de fato, as cervejas propostas.


É algo que sempre pensei. Acho que até postei em outro tópico daqui.

Sou da mesma opinião, se vamos lidar com Brahmeiros, vamos com calma. "Você pode dar diamantes a um porco, mas ele ainda será um porco". Eu sei que há adeptos aqui do Joga-o-que-tem-de-melhor, mas ainda prefiro a cautela.


Hoje é provavel que vou sair com um colega que nem sei se heineken já provou, nada mais justo do que oferecer o pilsen da bamberg, creio. Pra quem não está acostumado a tomar muita coisa diferente - e não só em termos de cerveja, mas vinho, cachaça e whisky ou drinks em geral tbm - jogar uma Gueuze, como disseram aqui, vai assustar. Ou até uma 5 am Saint assustaria - ou cairia nessa de "bebida boa mas não é cerveja".

Talvez a grande questão da 'iniciação' seja esse feedback eficaz.

www.cervezando.wordpress.com

\\\"We\\\'re certain of two things in life: We\\\'re all gonna die one day and that we\\\'ll be drinking beer all the way.\\\" £

\\\"Women and beer: the cause and solution to all our troubles.\\\" £
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14 anos 1 mês atrás #21328 por Alexandre Almeida Marcussi
O que eu acho que nem sempre cai a ficha do pessoal é que nem todo mundo vai passar a gostar de cervejas especiais quando for apresentado "da maneira correta" a boas cervejas. Muitas pessoas vão saber reconhecer que se trata de uma bebida de boa qualidade, mas simplesmente não vão incorporar isso ao seu cotidiano. Vão continuar preferindo (sim, preferindo) beber a Brahma de sempre no boteco de sempre. Eu não vejo um problema nisso.

Nem todo mundo tem perfil para degustar. Assim como nem todo mundo tem um perfil gourmet, de querer comer coisas novas. Algumas pessoas se sentem instigadas por experiências do paladar, outras não se sentem. Existem até (não poucas) pessoas que possuem distúrbios mais ou menos sérios de alimentação e que se sentem desconfortáveis em explorar seu paladar.

Por que estou dizendo isso? Sim, acho que algumas pessoas bebem cervejas especiais marcantes e enquadram isso, mentalmente, em uma categoria diferente de "cerveja". Um casal de amigos que eu introduzi à cultura cervejeira me disse, na primeira vez que bebemos juntos, que se aquilo que estávamos bebendo possui o nome de "cerveja", então Brahma e Skol chamam outra coisa. Isso não os impediu de gostar das especiais e de voltar a beber conosco de vez em quando, e tampouco os impediu de continuar frequentando o boteco para beber aquilo que deveria ter outro nome que não cerveja, e que eles continuavam gostando. Na cabeça deles, eram dois mundos separados, mas isso não era um problema.

Aliás, quando a pessoa entende que existem cervejas extremamente diferentes daquilo que ela se acostumou a perceber como cerveja, quando ela coloca numa categoria mental à parte, isso a ajuda a entender por que é legítimo que uma cerveja dessas custe o dobro, o triplo de uma normal. "Não é cerveja, é outra coisa, por isso o preço também é outro." Se a pessoa acha que é tudo mais ou menos parecido, não entende por que teria de gastar o triplo para beber mais ou menos a mesma coisa. Eu não entenderia.

Para ser bem sincero, Brahma e cerveja artesanal também meio que são bebidas separadas na cabeça de boa parte das pessoas que frequentam o fórum. Quantas vezes a gente não lê declarações do tipo "Brahma não é cerveja"? O famigerado apelido de "corn beer" não é outra coisa senão uma forma de colocar as American lagers industriais numa categoria mental diferente de "cerveja". Ou seja, essa "cisão", essa "separação" não está só na cabeça dos iniciantes, está na dos iniciados também.

Sim, muitas pessoas que se depararem com uma lambic ou uma Belgian dark strong ale não vão categorizar aquilo como uma cerveja. E sim, podem até gostar da experiência, mas vão voltar ao boteco. Eu volto ao boteco também, qual é o problema? Algumas pessoas vão achar aquilo afetado e sem sentido e não irão querer provar de novo. Mas a minha questão é: será que essas pessoas estariam inclinadas a gostar de cervejas marcantes? Será que, "começando pelas mais parecidas", um dia elas iriam "chegar à iluminação" e gostar de cervejas marcantes? Sinto que nem sempre. Algumas pessoas oferecem resistência a cervejas diferentes como elas oferecem resistência a vinho - ou a comida tailandesa. Essas pessoas talvez simplesmente não tenham o perfil de quem vá se apaixonar por cervejas marcantes, não importa o quanto elas "comecem" com uma American lager artesanal ou com uma pilsner.

Meus dois centavos.

ocrueomaltado.blogspot.com
Porque cervejas são boas para beber, mas também são boas para pensar
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14 anos 1 mês atrás - 14 anos 1 mês atrás #21329 por Alexandre Almeida Marcussi
O post saiu repetido.

ocrueomaltado.blogspot.com
Porque cervejas são boas para beber, mas também são boas para pensar
Ultima edição: 14 anos 1 mês atrás por Alexandre Almeida Marcussi.
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14 anos 1 mês atrás #21332 por João Gabriel Margutti Amstalden
Eu concordo com o Marcussi, acho que não deveríamos ver problema nisso, eu ainda vou muito ao boteco, é claro que não tomo mais como antigamente, aquela maneira de "beber por beber", uma coisa que as cervejas me ajudaram de uma forma muito legal, foi a degustar e a analisar melhor todo tipo de alimenmto que eu consumo.

Gastronomia com cerveja > www.panelademalte.blogspot.com
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14 anos 1 mês atrás - 14 anos 1 mês atrás #21355 por Mauro Renzi Ferreira
:woohoo: ... Bom, vejo que ao menos ajudei a polemizar o tópico novamente.

Então, me explicando melhor, quero deixar claro que também não tenho nenhum problema em "voltar ao boteco". Aliás, os que já me conhecem há mais tempo sabem que é mais fácil me encontrar no boteco da esquina do que num bar especializado em cervejas "diferenciadas" (exceto o EAP, claro, pois eu moro lá). E tive momentos de vida muito felizes nesses botecos da esquina. Portanto, ponto.

Contudo, acho que temos (ou eu tenho, enfim...) uma tendência em querer fazer com que as pessoas ao nosso redor tenham a mesma percepção das coisas que nós mesmos temos. Então, tentamos transportar as nossas categorias mentais de divisão e classificação pra elas também. Mas é claro que não existe nehum "problema sério" no fato delas verem a "realidade" por um outro viés.

E por fim, tenho que concordar MUITO com algo alertado pelo Marcussi. Muitas vezes, até mesmo sem querer (ou para seguir o padrão de comportamento dos demais canfrades) manifestamos uma aversão severa demais contras as nossas SAL. Como sempre frisa a mestra Cilene, elas não devem ser consideradas nem melhores e nem piores, apenas cervejas com uma proposta diferente, para situações diferentes.

Mais um centavo. ;)
Ultima edição: 14 anos 1 mês atrás por Mauro Renzi Ferreira.
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