Incrível dark strong ale belga, muito marcante e elegante, com uma imensa complexidade de aromas de levedura amparadas por uma sóbria profundidade de maltes. Servida na pressão, apresentou uma bonita cor marrom escura com reflexos avermelhados e opacidade razoável, devido talvez ao fato de ser um dos últimos copos tirados do barril. O creme mostrou-se marrom claro, com ótima densidade e permanência. O aroma é um império de notas produzidas pela poderosa levedura da casa: destacam-se aromas incrivelmente vívidos de uvas Niágara frescas e suco de uva integral, acompanhadas de uvas passas, um caramelado do malte, vinho tinto, fenóis picantes lembrando pimenta do reino e, ao fundo, um toque de banana. Cortesia dos álcoois superiores, notam-se aromas florais e, com o tempo, toques de mel ou xarope que arredondam o conjunto com uma certa licorosidade. No sabor, o malte revela um perfil sóbrio e generoso: é possível sentir sabores destacados de caramelo, nozes, chocolate, um amadeirado e uma suave torrefação, tudo isso amparado a mesma complexidade de aromas de levedura, que voltam a se apresentar na boca, com destaque para uvas frescas e passas, vinho tinto, leve floral e, com o tempo, uma presença licorosa marcante de mel ou xarope. No paladar, doçura e amargor se equilibram com intensidade; a entrada é adocicada, acompanhada por um leve salgado, evoluindo para um longo final mais amargo, com doçura licorosa de segundo plano e retrogosto que traz madeira, chocolate, mel e um residual terroso. Poderia talvez ser um tiquinho mais vívido, em especial considerando-se se tratar de um chope. Ela é encorpada, com textura aveludada, e possui uma perigosa drinkability, descendo bem devido à sensação alcoólica incrivelmente bem ocultada - os 10,5% de álcool desaparecem na boca. No conjunto, uma cerveja sóbria e elegante, mas ainda assim incrivelmente complexa e marcante, sem afetações nem excessos. Conjuga uma ótima profundidade de maltes com um conjunto invejável de ésteres, fenóis e álcoois superiores para atingir um resultado virtuoso.
Coloração marrom turva, com creme bege de média duração. Aroma complexo, toffee, frutado, uva e vinho do porto. No sabor, malte, uva, caramelo e ameixa. Agradável final seco e amargo. Álcool bem inserido no conjunto. Deliciosa.
Ambar marron, turvo e escuro, creme bege escuro. Sim, saborosa, e aqui faço um parênteses. Evitando a França em época de dificuldade no relacionamento clero e estado no início do século 20, abades franceses fundaram na cidade belga de Watou o que viria a ser o refúgio de Notre Dame di St Bernardus, uma fazenda que produzia principalmente queijo para manutenção da Abadia. Em 1934 as coisas melhoraram na França, resolveram retornar passando o empreendimento a um investidor local, Evarist Deconinck, que deu continuidade as atividades produtivas. Eis que ao final da II Grande Guerra um certo mosteiro belga decidiu terceirizar suas atividades cervejeiras, fechando com Evarist uma acordo para produção da sua trappista. O mosteiro era nada menos que o mitológico Mosteiro trappista de St. SIXTUS, hoje produtor da famosa Wesvleteren.
E foi assim, até o ano de 1992 quando a última prorrogação do acordo se encerrou que a St. Bernardus produziu as cervejas de St. Sixtus, as famosas Westvleteren. Nesse ano as remanescentes ordens trapistas, 5 na Bélgica e 1 na Holanda, estabeleceram que somente poderia ser chamada trapista a cerveja produzida na propriedade do mosteiro, quanto então a Westvleteren retornou para dentro dos muros monásticos.
A St Bernardus então lançou sua marca própria, que não por mera coincidência segue de certa forma o mix da St. Sixtus.
As comparaçoes param aí. Se na bae do paladar a ABT 12 poderia guardar alguma semelhança com a Westvleteren, o resultado nem chega perto em termo de equilíbrio. Na St. Bernardus o alccol é evidente, agressivo até, seco.
Muito boa cerveja, de qualquer forma. Nessa faixa, me considero melhor atendido com uma Rochefort 10.