Olha, nos bares, restaurantes e reuniões com amigos eu evito ao máximo seguir rituais estranhos, sentir aromas com repetidas inalações curtas e longas (como conviria a uma degustação), usar técnicas degustativas como o arejamento da bebida na boca etc. Essas são coisas para degustação "a sério", o que eu deixo para fazer em casa, ou quando o propósito do programa é degustar com atenção (como num jantar de harmonizações, por exemplo). Acho que a concentração necessária para uma degustação rigorosa é incompatível com a informalidade e a descontração de uma reunião de amigos. Sério, se eu for degustar "a sério", vou precisar desligar um pouco da conversa. E aí já acho um pouco "cervocatice". Em casa, aí posso seguir o pacote completo se eu quiser.
Já para os copos eu não ligo tanto assim, não. Até porque os copos adequados a cada estilo nem sempre foram criados para potencializar a degustação, muitas vezes eles simplesmente se encaixam numa tradição, ou num jeito de beber cerveja. A caldereta é um bom exemplo de um copo tradicional, adotado por algumas marcas, mas que praticamente não oferece vantagem nenhuma para a degustação propriamente dita, por ser raso e com boca aberta. O que procuro fazer é usar um copo com geometria adequada à captação de aromas (ou seja, com estreitamento de boca). Normalmente, em casa, para degustar, uso uma taça do tipo "tulipa" (como a da Duvel, por exemplo). Para uma lager clara, às vezes vou de um copo lager. Uma taça de vinho também cumpre bem o papel.
E, claro, sigo um "ritual" de degustação: sirvo a cerveja até um terço do copo (normalmente até atingir a parte mais larga do copo), começo no aroma com inalações curtas, depois inalações longas, agito o líquido, mais inalações, depois passo à análise visual (cor, turbidez, creme), o primeiro gole para sentir os gostos básicos, o segundo e terceiro goles para sentir a textura e a permanência. Essa parte requer concentração, então às vezes eu não sigo a sequência à risca. Daí em diante vou aprofundando os aspectos que mais me intrigaram. Depois de uns 50-100 ml, normalmente já extraí tudo o que sou capaz, e ai curto a cerveja numa boa. Eventualmente aparecem novas características depois disso, a cerveja evolui, percebo alguma sensação que eu não tinha percebido antes etc.