Rodrigo Pasti escreveu:Cervejas como a Fuller's Porter e IPA são muito marcantes pela sua elegância e equilíbrio de aromas e sabores, intensos, porém sutis, algo estranho de se definir.
Pois é, Rodrigo. Há cervejas que são claramente balanceadas, equilibradas, sutis, mas elas têm aquela "coisa" indecifrável que vc sabe que está lá, mas não sabe definir. Eu tenho me deliciado aprendendo a ouvir as mensagens dessas receitas que não chegam gritando em alto e bom som, mas que guardam segredos ditos apenas ao pé do ouvido. Justamente porque elas não chegam gritando, permitem que vc perceba coisas que teriam sido completamente mascaradas em outros contextos. São cervejas de atitude introspectiva, mas cujo silêncio hierático e limpo pode ser tão ensurdecedor e transbordar tanta autoridade e respeito quanto o som alto imponente de uma cerveja impactante e poderosa.
Engraçado vc mencionar a Fuller's London Porter, pois essa foi uma das cervejas que, revisitada em 2010, mais me impressionaram nesse sentido. Ela tem uma complexidade refinada de aromas de lúpulo que vão se abrindo como as pétalas de uma lótus, uma a uma, devagar e hipnoticamente. Mas não é só a escola inglesa: muitas belgas também trazem essa imensa complexidade "oculta" com a qual vc precisa primeiro se familiarizar para se dar conta de que ela está lá (a delicadeza das lambics, por exemplo - ah, sim, 2010 também revelou minha paixão pela fermentação esontânea). Sem contar os tradicionais lúpulos "nobres", do Velho Mundo, tão diferentes daquele caráter deliciosamente fragrante, aberto e franco dos lúpulos americanos, mas também muito intrigantes e elegantes quando se presta atenção.
Aprender a apreciar esse tipo de experiência foi um dos meus aprendizados cervejeiros de 2010. Mas isso não minimiza o enorme prazer das cervejas marcantes e impactantes. Poucas coisas são mais poderosas do que uma barley wine ou uma Belgian dark strong ale intensa no contexto correto.
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