Todos os dias, turistas e aventureiros desbravam a pé o percurso que liga as cidades fluminenses de Petrópolis e Teresópolis. A trilha, que cruza o Parque Nacional da Serra dos Órgãos, coração da mata atlântica, tem aproximadamente 33 Km e dura cerca de três dias. Foi inspirada nessa travessia que as cervejarias Bohemia (Ambev) e Therezópolis (Sankt Gallen) deram nome ao primeiro rótulo colaborativo da chamada "Rota Cervejeira do Rio de Janeiro".
Sob o comando do mestre cervejeiro Gabriel Di Martino, a receita propõe uma 'Belgian Tripel' com adição de cascas e folhas secas de ponkan. Vale ressaltar que Teresópolis é a maior produtora de ponkan do estado do Rio de janeiro e possui um festival local de celebração à fruta. Os ingredientes incluem também adjuntos como trigo cru, aveia defumada, açúcar e extrato de coentro. De acordo com os envolvidos, novas parcerias virão entre as duas cervejarias.
Líquido amarelo escuro, translúcido, refletindo tons alaranjados. Na taça forma dois dedos de colarinho branco de média retenção.
O aroma evoca traços cítricos, condimentados e leve acidez - tudo envolto pela presença marcante da levedura. Reminiscências de compota de laranja, damasco seco e coentro surgem com facilidade.
Na boca, corpo alto, textura aveludada e carbonatação mediana. Uma doçura pra lá de indulgente solapa logo de cara mostrando que os açúcares residuais não estão pra brincadeira. Algumas nuances de compota de laranja estão ali; certa picância do coentro, também. Mas fica a sensação frustrante de que ambos estão comprimidos dentro do pouco espaço que lhes resta no plano gustativo. O final segue assim melado, o que não estimula um próximo gole.
Talvez seja pertinente a ressalva de que o gosto em si não é necesseriamente ruim. Trata-se apenas um docinho "safado", daqueles que conquistam fácil o paladar de qualquer criança. Mas para uma 'Belgian Tripel' isso é muito pouco - pra não dizer inadequado - confirmando que há alguns percalços no caminho desta travessia.
Aparência: bela garrafa, belo rótulo; líquido turvo ambarino; espuma quase ausente gelada, mas vai engrossando ao esquentar, no momento do serviço. Aroma: malte, adocicada e, à medida que vai esquentando, fica mais cítrica. Sabor: típico de tripel, com aquela sensação de muito malte, adocicando-a; a tal folha de mexerica não senti, a não ser o algo diferente que, de vez em quando, aparecia bem sutil. Bom custo-benefício, mas acho que não atinge as 4 ou 5 estrelas do gênero, ao se comparar com uma artesanal fresca ou as trapistas.