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Alexandre Almeida Marcussi escreveu: Já era praxe, antes das pale ales, que os fabricantes ingleses enviassem versões mais alcoólicas e lupuladas de suas cervejas (todas elas) para a Índia. Durante o século XVIII, era comum enviar à Índia uma cerveja forte e de longa maturação, que hoje nós identificaríamos com as barley wines ou old ales. Elas chegavam lá em estado perfeito, prontinhas para consumo. Também era comum lupular mais as porters enviadas à Índia. Da mesma maneira, existem registros de pale ales "comuns" e até de small beer (cerveja de mesa, o que hoje chamaríamos "session") que chegavam à Índia em condições suficientes para venda. O que a lenda implica é que nenhuma cerveja chegava bem à Índia antes das IPAs, e isso é claramente um mito. É provável que o sucesso da IPA não tenha se dado porque ela tinha maior viabilidade, mas porque era mais apreciada no clima quente da Índia.
Fernando Pires escreveu: E a lei de pureza, fora a possibilidade remota de que tenha sido motivada para controlar a demanda de trigo (a necessidade de diminuir a demanda pelo trigo era verdadeira, mas há o fato da cerveja de trigo não ter sido proibida),
Alexandre Almeida Marcussi escreveu: 1 - Quanto às IPAs e Russian imperial stouts, acho que a polêmica diz respeito aos "detalhes gloriosos" do mito, e não do seu sentido geral.
2 - Também era comum lupular mais as porters enviadas à Índia.
3 - Da mesma maneira, existem registros de pale ales "comuns" e até de small beer (cerveja de mesa, o que hoje chamaríamos "session") que chegavam à Índia em condições suficientes para venda. O que a lenda implica é que nenhuma cerveja chegava bem à Índia antes das IPAs, e isso é claramente um mito.
4 - É provável que o sucesso da IPA não tenha se dado porque ela tinha maior viabilidade, mas porque era mais apreciada no clima quente da Índia.
5 - No que diz respeito às Russian imperial stouts, vale lembrar que, no século XVIII, a palavra "porter" era usada para cervejas muito diferentes do estilo que conhecemos hoje: eram muito mais doces e menos torradas. O que é enganador sobre todas essas lendas cervejeiras é que elas dão a entender que os estilos que a gente bebe hoje já eram assim desde dois, três séculos atrás. Os russos bebiam uma cerveja escura e forte produzida pelos ingleses desde o século XVIII? Sim. Elas eram o que hoje conhecemos como "Russian imperial stouts"? Não.
6 - Quanto à Reinheitsgebot, Nos territórios alemães dominados pela Igreja católica, a Igreja detinha o monopólio de fornecimento do chamado "gruit", a mistura de ervas usada para aromatizar e equilibrar a cerveja antes do uso do lúpulo, e essa era uma importante fonte de renda fiscal para a Igreja. Quando a Reinheitsgebot foi promulgada, um dos objetivos provavelmente era privar a Igreja dessa fonte de renda, o que faz todo sentido se pensarmos no contexto das guerras religiosas e do surgimento do protestantismo no sul da Alemanha.
7 - A ideia de que a Reinheitsgebot era uma espécie de "decreto de qualidade" é muito inocente. E, vale lembrar: ela só valia para a Baviera, e não para a Alemanha inteira (que nem existia no século XVI). A Reinheitsgebot passou a valer para a Alemanha inteira apenas em 1906.
8 - Eu também acho um pouco estranho que vários formadores de opinião ainda reproduzam a mitologia referente a esses (e outros) assuntos quando já existe uma fonte confiável e de fácil acesso com as informações históricas corretas.
Claudinei escreveu: Marcussi, sei que cervejas mais pesadas (barleywines/old ales) demandam mais lúpulo por uma questão de equilíbrio, mas você entende que a necessidade de conservação das cervejas durante as longas viagens marítimas não foi o principal motivador para uma maior carga da sagrada flor na sua produção?
Fernando Pires escreveu: 2 - Pq era comum lupular mais as porters enviadas à India?
3 - Se cervejas mais "fracas" chegavam com qualidade satisfatória, desmistifica-se o fato da Ipa ter sido criada para "conservar" melhor a cerveja durante a viagem.
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