Gente, padronização no processo produtivo não significa que não exista variabilidade. Aliás, se não existisse variabilidade, não precisaria de uma estrutura tão complexa de controle como a que existe nas macrocervejarias. E não existiria o emprego de degustador. A cerveja chega a variar sensorialmente de tanque para tanque, dentro da mesma fábrica. Às vezes, é preciso até blendar ou diluir um tanque no outro para diminuir essa variação ao mínimo possível. Mas as diferenças mais gritantes costumam ser geradas depois que a cerveja já saiu da fábrica, no transporte e no acondicionamento. Não é de uma fábrica para a outra. Existem cervejarias que adaptam suas receitas para o mercado externo, e nesse caso a variação é proposital; mas eu não acho que seja o caso da Heineken. Como o Claudinei falou, é provavelmente a cerveja mais internacionalizada e global da história.
Agora, estamos falando de diferenças que, se a cervejaria fez bem o seu trabalho, serão imperceptíveis para o consumidor comum (como nós). Os bons degustadores profissionais são treinados para identificar positivamente aromas quase na concentração mínima que o corpo humano é biologicamente capaz de detectar. Um degustador amador jamais vai notar isso; ele precisaria de umas 3, 4 vezes essa concentração para poder identificar positivamente o mesmo aroma. Isso supondo um amador que conheça esse aroma, o que corresponde a uma pequena parcela dos consumidores.
No mais, é ilusório achar que você vai "pegar" as diferenças entre a cerveja X e a cerveja Y numa única degustação. Se tem todos aqueles caras lá na Holanda fazendo provas de cerveja a cada lote, é porque elas variam de lote para lote, dentro da mesma fábrica. Uma única degustação nunca vai te mostrar "a verdade": o que vale para esse lote pode não valer para o próximo. É preciso tomar cuidado com essa ideia de que só porque a gente sentiu X ou Y numa ocasião, sabemos "a real". Para mim, ao beber cerveja, é essencial estar pronto para ser surpreendido.
Em suma, a padronização é um horizonte. Mas é um horizonte que a Heineken faz questão de perseguir com bastante afinco. Eu não me preocuparia com a transferência da produção para o Brasil (mesmo que eu consumisse a Heineken frequentemente).