Quando esse assunto surgiu aqui da outra vez, eu defendi que é um rótulo tão arbitrário quanto tantos outros. "Qualidade" é subjetivo, e uma cerveja não precisa ser boa para ser artesanal (e vice-versa). "Objetivo de lucro" toda empresa tem, e o artesão não é uma exceção. "Pesquisa de mercado" é complicado, todo mundo tem uma ideia do que seja o gosto do mercado e produz em relação a isso, independentemente de fazer pesquisa ou não - quando a Colorado lança uma Ithaca, ela sabe que está lançando o que o seu mercado quer. "Paladar exigente" não só é subjetivo como é até elitista (tem alguns paladares melhores do que outros?). "Pequena escala" é muito relativo: num mercado em expansão, qual a fronteira entre o pequeno e o grande? "Métodos tradicionais" são relativos: se for assim, então não se pode experimentar com estilos consagrados e nem se pode modernizar e automatizar a produção. Estilos criados há meio século ou menos podem ser considerados "tradicionais"?
Acho que o "artesanal" é um simples rótulo de nicho de mercado. Serve para enviar ao mercado a mensagem de que vc está se dirigindo a um determinado público consumidor, com demandas determinadas - se vc satisfizer essas demandas, poderá confirmar sua posição nesse mercado; senão, será rejeitado por esse público em lugares como este aqui onde estamos escrevendo. Para muitas cervejarias, é um jeito de cobrar mais caro pelas suas produções. Para outras, é um jeito de tentar atingir um público que deseja experimentação e/ou prestígio.
Por isso tudo, cada vez mais tenho optado por simplesmente falar em "cervejas" - não especiais, nem artesanais, nem gourmet, mas simplesmente no plural, sem hierarquia de valor, para contemplar a variedade de estilos, de propostas, e também de padrões de qualidade. Como disse o Bazzo, não é tudo cerveja? Sim, mas o importante a lembrar é que são cervejas.