Lucas F. Zurwellen escreveu:Pelo o que o livro me apresentou o Malte é o doce da cerveja que so em uma certa época dos tempos antigos ganhou a adição do lupulo que é responsável pelo amargo e pelas sensações florais da cerveja.
O problema é que não chega a ser tão simples assim. As sensações de uma breja podem ser divididas basicamente em sensações de paladar, de olfato e de tato, e um mesmo ingrediente pode contribuir diferentemente com os três tipos de sensações. Sensações de paladar são os
gostos básicos: doce, amargo, ácido, salgado (e, em algumas cervejas envelhecidas, umami, que é uma sensação meio "carnuda" que parece que ntem a ver com a presença de proteínas na língua). Sensações olfativas são aquilo que nós normalmente chamamos de "gosto", mas que na verdade é sempre olfato, mesmo quando sentimos aparentemente na boca. Floral, cereais, herbal, pão, frutas, chocolate, isso tudo é basicamente olfativo, embora um tipo de sensação de paladar possa reforçar as sensações olfativas (por exemplo, um paladar adocicado pode reforçar aromas frutados). Por fim, sensações táteis têm a ver com a sensação na boca e na língua e com a textura do líquido: se ele é grosso, se têm muitas partículas, se tem viscosidade, se é aguado, se é "picante" por causa da carbonatação, se é adstringente etc.
O
malte contribui com sensações de paladar, de olfato e de tato. No paladar, ele normalmente dá o gosto doce à cerveja, mas nem sempre. Maltes muito torrados podem contribuir com amargor. Maltes defumados podem adicionar sensações salgadas. No quesito dos aromas, os maltes podem apresentar muitos aromas, dependendo do seu grau e método de torrefação: pão, cereais, mel, frutos secos, caramelo, chocolate, café, queimado etc. Maltes defumados apresentam aromas de fumaça (que, no entanto, também podem vir por causa de subprodutos da levedura). Maltes do tipo cristal normalmente apresentam aromas de frutas secas, como uvas passas ou ameixas. Por fim, o malte pode contribuir para tornar a textura mais "encorpada" (normalmente pelas proteínas em suspensão), mas certos tipos de malte podem também trazem uma certa sensação de secura. O problema, que torna a coisa mais complicada mas também muito mais divertida, é esse:
tudo isso pode ser malte.
O mesmo ocorre com o
lúpulo. No quesito das sensações de paladar, a principal contribuição do lúpulo é realmente o amargor, que advém da isomerização dos ácidos alfa durante a fervura do mosto. Mas pode haver uma certa sensação de acidez cítrica associada. Nos aromas, cada variedade de lúpulo possui um aroma específico. Tudo mais ou menos remete a "cheiro de planta" (o que talvez seja a forma mais genérica de descrever o aroma do lúpulo), mas os aromas podem ser divididos de forma meio esquemática em florais (aromas de flores), herbais (aromas que remetem a pinho, menta ou folhas verdes), resinosas (aromas que remetem a resina ou madeira), cítricos (aromas que remetem a limão, laranja, grapefruit), frutados (laranja, grapefruit, frutas vermelhas, às vezes nuances de maracujá) e condimentados (ervas finas, temperos, um certo apimentado etc.). Depende da variedade e também do solo onde ela foi cultivada (por isso, os fatores de terrier se manifestam principalmente nos lúpulos). No quesito das sensações táteis, o lúpulo pode (especialmente se usado em excesso) dar uma certa sensação adstringente um pouco "dura" ou "áspera" na boca. Assim como com o malte,
tudo isso pode vir do lúpulo.
Esses são sabores primários (vindos do malte ou dos lúpulos). As sensações secundárias normalmente estão associadas às atividades da levedura e a eventuais adições na receita como especiarias, frutas ou ervas. Os aromas da levedura são os mais variados possíveis: podem ser aromas de fermento de pão, podem ser aromas frutados, podem ser aromas de especiarias (como cravo, principalmente, mas às vezes sensações de pimenta ou anis também), podem ser aromas animais (couro, cabra, cavalo), e podem também ser uma série de off-flavors mais ou menos indesejáveis dependendo do estilo. Tem um monte de coisas associadas à levedura. E há sensações de paladar, como os vários ácidos produzidos pela levedura, bem como sensações táteis como a do álcool (o principal produto das atividades da levedura).
Essa complexidade é o que, para mim, torna as cervejas tão interessantes. Esses são apenas algumas das sensações que eu conheço (e consigo identificar), mas tenho certeza de que existem muito mais nuances a explorar, e é isso que torna tudo tão envolvente no mundo das cervejas.