Brasileiros muito exigentes com cervejas nacionais

Será que os brasileiros não estão sendo muito exigentes nas avaliações das cervejas nacionais?

Estou levantando esta questão porque participo já há algum tempo considerável de 2 outros sites internacionais, entre eles o beeradvocate, maior ranking de cervejas do mundo. Comparando algumas notas, vejo que as cervejas importadas possuem notas parecidas entre os sites, porém quando se fala em artesanais tupiniquins, os confrades gringos tem dado ótimas notas para nossas boas cervejas mais comerciais, tal como as Baden Baden, Eisenbahn, Colorado,...

Vou dar um exemplo de uma cerveja que aprecio muito, nossa única no estilo inglês de qualidade, a Baden Baden 1999. No beeradvocate sua média é A, algo em torno de 4,25 a 4,5; já aqui no Brejas ela tem nota do site de 2,5 e de 3,2 dos demais. Não pára por aí, vocês podem fazer essa comparação que praticamente todas as nossas cervejas são melhores vistas pelos gringos.

E já aconteceu de eu falar muito bem de uma cerveja nacional dar nota acima da média do Brejas e depois vir "nêgo" e dar avaliação "não útil" a "rodo". Eu era iniciante no site e me senti intimidado na época por esta ferramenta, chegando ao ponto de mudar a avaliação pra agradar os outros. Hoje não ligo mais pra isso, mas no início me sentia o leigo idiota. Taí mais um motivo sólido para que essa ferramenta seja retirada, mas isso já é conversa de outro tópico.

Retomando o foco:

Não estamos sendo muito exigentes?

Para mim, tem dois fatores agindo simultaneamente aí, Jean. Sim, existe uma certa subestimação das cervejas nacionais mais "comuns", mas também existe uma certa mistificação em torno de cervejas mais caras ou mais difíceis de se obter, entre as quais muitas importadas. A impressão que tenho é que, quando a cerveja é facilmente disponível e acessível, ela acaba perdendo o "charme da conquista".

As avaliações do ranking não seguem critérios técnicos, elas tendem a seguir mais critérios ditos "hedônicos", ligados ao prazer do momento de beber. Nesse caso, o "charme da conquista" de uma cerveja de difícil acesso acaba aumentando esse prazer do momento e, em consequência, a nota. Muitos confrades tendem a reservar as notas altas para cervejas raras, caras, difíceis de achar ou de alguma forma envolta em uma certa mística. Isso gera uma distorção global nas notas que empurra as mais comuns para baixo. Isso também ocorre nos EUA, diga-se de passagem, onde cervejas de produção super-limitada tendem sempre a ter notas mais altas.

Concordo com os comentários do Alexandre, acho que sempre que você encontra a cerveja facilmente, com preços acessíveis, parece que esta cerveja é inferior a outras mais caras/difíceis, o que nem sempre é o caso, o que acaba influenciando nas notas. Entretanto, não vejo mal nenhum nisto, afinal este ranking é muito mais um exercício lúdico, de diversão entre os confrades, que deixam suas notas como forma de compartilhar suas impressões. Por este motivo, inclusive, concordo com o Jean sobre considerar um comentário "não util". Acho esta ferramenta de pouca valia, e devia ser retirada.

sim, e isto nao acontece só conosco, os gringos quando bebem brejas artesanais brasileiras ficam surpresos com algumas delas e dao notas altíssimas. nós tambem quando bebemos brejas chilenas ou argentinas ou de outros lugares damos uma "chance" a mais, enquanto que com o nosso mercado somos mais exigentes, acho que isto se deve a dois motivos: 1-conhecemos outros exemplares do estilo na industria nacional e mensuramos pela comparação. 2-queremos ver nosso mercado atingir um dia o nivel de qualidade de e.u.a., bélgica e alemanha.

fernando pereira frassetto escreveu:

parece que esta cerveja é inferior a outras mais caras/difíceis, o que nem sempre é o caso, o que acaba influenciando nas notas. Entretanto, não vejo mal nenhum nisto

Eu vejo um só problema, relacionado a esse mesmo fenômeno do "charme da conquista": algumas cervejarias e importadoras, que não são bobas nem nada, já entenderam esse padrão e sabem que não podem cobrar barato se quiserem que seus produtos sejam comentados, ganhem cobertura e divulgação na imprensa e virem "moda" e objeto de desejo.

Mesma coisa nos EUA: algumas cervejarias gringas sabem que a forma mais segura de chamar atenção sobre um novo lançamento é afirmar que a produção será limitada a 1000 litros e que ela só será vendida na pressão numa data específica. Subitamente, ela vira um hit, todo mundo que conseguiu bebê-la diz que ela é incrível e a cervejaria ganha nome.

Como sempre, também há empresas sérias que preferem investir em melhoramentos na receita e na técnica produtiva, sem alardear.

Jean, eu não vejo com clareza este problema.

Acabei de dar uma olhada nas avaliações de cervejarias como Baden-Baden,Bamberg e Eisenbahn e acho que elas são avaliações, em geral, bastante aceitáveis. As notas estão acima de 3 para a maior parte das cervejas.

Por exemplo, a Weizenbock da Eisenbahn tem a mesma nota que uma belga famosa (e cara por aqui) como a Duvel; ou em uma comparação com o mesmo estilo, a Aventinus tem apenas 0.1 a mais.

No gênero bitter ale em que está a 1999, você pega uma referência no estilo, a London Pride da Fullers, e a avaliação é 0.3 pontos maior. Não é um absurdo...

Outras comparações: A Colorado Índica tem avaliações mais altas que a Snake Dog IPA, uma importada famosa no mesmo estilo. A Demoiselle (embora não seja lá uma porter, de fato) tem a mesma pontuação que a excelente Porter da Fuller's.

Enfim, é possível que o pessoal de fora seja mais generoso com nossas cervejas , mas aqui no brejas me parecem justas e altas (condizente com a qualidade das cervejas) as avaliações.