Também acho que o fator crucial, nesse caso, é a temperatura. É bom lembrar que, sobretudo no caso das ales, os aromas que tendemos a considerar mais agradáveis e aromáticos - os fenóis (sobretudo cravo) e os ésteres (frutado da levedura) - são substâncias químicas relativamente mais estáveis e menos voláteis. Por conta disso, eles tendem a se volatilizar melhor a temperaturas mais altas. Por isso, esses aromas ficam mais intensos quando a cerveja esquenta no copo. Quem fabrica uma cerveja que tem boa quantidade de ésteres e fenóis vai obviamente indicar uma temperatura de consumo em que essas substâncias estejam no auge desua volatização. Mas eu gosto de observar essa "evolução", às vezesé legal servir gelada e observar o que acontece com o tempo.
E a cerveja também esquenta na própria língua, e com isso libera aromas antes "escondidos". Por isso, principalmente quando ela está gelada, às vezes sentimos ésteres e fenóis melhor na boca do que no aroma. Isso tudo deve ser levado em consideração. Tive a mesma sensação com a Maudite, que as notas de cravo foram ficando cada vez mais fortes. Mas, para mim, elas estavam mais bem equilibradas no começo, depois, começaram a ficar intensas demais, tornando-a um pouco enjoativa (para o meu gosto, claro). Eu gostei mais dela um pouco mais gelada - por isso acho legal olhar a evolução.
Mas há também outros aromas especialmente voláteis, que se destacam mais quando ela está gelada e não estão "concorrendo" com outros aromas mais estáveis. Na minha experiência, tendo a perceber razoavemente bem alguns aromas lupulados a baixas temperaturas, bem como alguns sinais de oxidação. Com o tempo, vamos nos "acostumando" a eles, e eles começam a ser equilibrados com outros aromas que aparecem com o tempo. Um bom exemplo é a Eisenbahn 5, que começa a exalar um agradável caramelo com o tempo, equilibrando os lúpulos.