Clésio Gomes Mariano escreveu: Já ouvi que as wild ales da Russian River são excelentes, seria esse um dos exemplos?
Sim, esse talvez seja um dos exemplos mais lisonjeiros para os americanos. Eu bebi três wild ales da Russian River: a Temptation, a Supplication e a Consecration (sendo a última a melhor delas, para mim). São boas cervejas, mas, para mim pelo menos, elas têm acidez de mais e elegância e complexidade de menos, se comparadas às melhores cervejas selvagens belgas. Em primeiro lugar, essas Russian River são inoculadas, e não fermentadas espontaneamente. Em segundo lugar, elas passam entre 9 e 15 meses em barris. Não tem como ter a complexidade de uma oude gueuze belga, que tem uma parte que passa pelo menos 3 anos no barril. Acho que os americanos estão no caminho, mas ainda não sei se eles produzem cervejas selvagens do porte de cervejarias como a Cantillon ou a Girardin. Mas outro dia bebi uma ótima no estilo Flanders red ale, a The Bruery Oude Tart. Muito diferente das belgas (oxidação bem mais evidente), mas muito agradável e surpreendente. Parecia um cruzamento entre uma old ale e uma Flanders red.
No caso das cervejas "de abadia", também ainda não tomei uma americana tão complexa e misteriosa quanto as clássicas belgas. Um dos motivos que o Stan Hieronymus, autor de
Brew Like a Monk, elenca para isso é que muitas cervejarias americanas ainda não conseguem aceitar tranquilamente a enorme proporção de adjuntos que os belgas usam, e preferem fazer receitas puro-malte que acabam não tendo o mesmo caráter. Acho que os americanos se destacam mais quando eles pegam esses estilos belgas e inventam algo novo em cima, e não quando eles tentam reproduzir fielmente os modelos belgas. Mas também não posso falar muito, pois conheço apenas uma pequena parte das cervejas americanas de inspiração belga. É só que, até agora, elas ainda não me fisgaram.