Tom, cervejas de fermentação espontânea ou com presença de leveduras do tipo Brettanomyces realmente possuem características vinificadas acentuadas, lembrando muito espumantes. A sua acidez característica contribui muito com essa impressão. O malte deve estar suavemente presente, com uma doçura que corta a acidez, mas o lúpulo normalmente é pouco identificável - inclusive, é comum que os produtores de lambics usem lúpulos extraídos há tanto tempo que já perderam suas características de aroma, porque só interessam as suas propriedades conservantes.
Mas é um estilo de cerveja, sim, e vale lembrar que, um dia no passado remoto, todas as cervejas foram mais ou menos assim. Mas também é inegável que, numa primeira experiência, lembra muito pouco uma cerveja. A minha primeira experiência entre lambics e sour ales foi uma Boon Kriek, e eu me lembro de ter gostado muito (tanto que pontuei bem no ranking), mas realmente não achei nela características de cervejas tais como eu as conhecia então. Como foi comentado aqui, de fato vale conhecer as lambics sem adição de frutas para saber o que se pode esperar das fruit lambics. Há poucos exemplos no Brasil, mas a Boon Gueuze Mariage Parfait é um deles. Outras sour ales também fornecem uma boa base de comparação. Tenho que admitir que, ultimamente, tenho gostado cada vez mais delas.
Para avaliar, acho que vale considerar as características do estilo: justamente suas características vinificadas, o equilíbrio entre a acidez e a doçura e/ou o amargor tânico característico, os aromas típicos de Brettanomyces (que vc com certeza vai saber identificar quando tomar sua segunda cerveja com esse tipo de levedura, porque é bem característico), eventualmente as características agradáveis de oxidação que podem ser percebidas em lambics (como notas de amêndoas cruas, marzipan ou terrosas) e, claro, a harmonia com que o sabor da fruta se mistura a isso tudo.
Sobre a coisa das sour ales x cervejas de fermentação espontânea, existem diferenças. As sour ales passam por uma fermentação primária com levedura do tipo ale, e só depois são expostas ("contaminadas") por bactérias ou leveduras do tipo Brettanomyces através de adição na maturação ou de uma maturação prolongada, normalmente em barris de madeira. Alguns exemplos são a Petrus Aged Pale, as Flanders red ales, as oud bruin e as saison, e mesmo a Orval. Outra coisa são as cervejas que não têm adição de levedura ale, e que são inteiramente fermentadas por bactérias (várias espécies diferentes) e por leveduras do tipo Brettanomyces. As lambics (incluindo fruit lambics) se enquadram nessa segunda categoria, e exibem ainda menos características de cervejas ale.