Não escondo aqui a emoção de ter tido o privilégio de degustar esta lenda, este mito.
Na companhia de meu irmão experimentamos esta iguaria trapista numa tarde de sol nos jardins de Westvleteren, Abadia de Sin-Sixtus.
A aura mística e o ritual com que é servida fazem dela ainda algo mais especial.
A garrafinha você não pode levar.
Tampada você não pode nem pegar nas mãos.
O garçom abre na sua frente e serve em seu cálice.
Começamos pela West 12.
Cor escura, espuma amarronzada.
Linda.
Aroma frutado.
Frutas em compota e melão. Sim,melão.
Seu equilíbrio é incrível.
O álcool até então imperceptível vai aparecer no aquecimento delicioso na garganta.
Sem dúvida uma cerveja que vale uma viagem.
Inesquecível.
Quase fui às lágrimas...
De quebra ainda tivemos a honra de sermos conduzidos por um dos monge até a igreja de dentro do mosteiro para uma breve oração.
Tínhamos muito a agradecer.
A mais mítica e inacessível entre as trapistas é uma Belgian dark strong ale potente, muito aromática, seca, com um amargor assertivo que representa bem o jeito trapista de fazer cervejas belgas. No copo, mostra bela cor de mogno, boa transparência e espuma impecável. O aroma é um festival de complexidade, destacando-se as frutas e especiarias trazidas pela levedura (a cervejaria usa a mesma da Westmalle). Maçãs vermelhas e pimenta-do-reino são evidentes, reforçadas por sensações de uvas passas, vinho tinto, mamão papaya, leve acetona e toques sutis de cravo, alcaçuz e sementes de coentro. O lúpulo aromático contribui com toques sensíveis de ervas finas, e o caramelo típico do estilo é mais suave do que em outras interpretações. Mel, rosas e algum plástico fecham sua enorme complexidade. Na boca, a entrada mostra a doçura que é típica do estilo, mas ela logo evolui para um final caracteristicamente amargo e seco, austero como os monges da abadia de São Sisto, com uma forte e gostosa sensação de picância fenólica que traz à tona de forma interessante o aquecimento alcoólico. A Westvleteren 12 é a mais lupulada das dark strong ales trapistas, com potentes 38 IBUs, o que explica essa sensação. O corpo é médio para alto, licoroso mas razoavelmente seco se considerarmos o estilo. Uma cerveja carregada de tanta aura mítica é difícil de se avaliar objetivamente: normalmente a alta expectativa contribui para que a valorizemos ainda mais. No entanto, é forçoso reconhecer que realmente se trata de um grande exemplo de dark strong ale, puxando para o lado mais austero, rústico e "masculino" do estilo mas sem abdicar de complexidade e sofisticação aromática.
Trazida na "mala amiga", comprada em Amsterdam.
Coloração acastanhada escura, algo avermelhada, com espuma de grande formação, matizes bege, persistindo por um tempo prolongado. Aroma e sabor são extraordinariamente complexos, destacando-se frutas secas, madeira, pão escuro, caramelo, condimentos, baunilha. Grande corpo, licorosa. Final predominantemente adocicado (às vezes perigosamente excessivo), com amargor discreto equilibrando o açúcar. Espetacular. Vale ao menos uma hora de degustação.
O que tinha pra ser falado dessa cerveja já foi falado. Não é só a exclusividade que a faz famosa, mas sim sua perfeição! Visual, aroma, sabor, corpo, aftertaste, tudo é de um impacto tremendo, não tem como negar. Tomá-la dentro do In De Vrede, ao lado da Abadia de Saint Sixtus foi um grande prazer!
Sendo a Rochefort 10, minha breja preferida, a fama da Westy 12 é totalmente justificável. Uma cerveja para ser guardada na memória por muito tempo.
Coloração rubi, puxado para o marrom, creme bege e denso, formando o famoso Belgian Lace durante a degustação. Quando abri a garrafa, na verdade, parecia que estava abrindo algum tipo de perfume, tamanha é a complexidade e o vigor de seus aromas. Alguma coisa puxado para o caramelo e frutas secas. No sabor, mais complexidade, um pouco de álcool, mas, que, não atrapalha em nada o conjunto, um equilíbrio enorme entre o amargor e o dulçor. Maltada, frutada, com torrefação e licorosa. Parafraseando o professor Mauricio Beltramelli: "é uma experiência pra nunca mais esquecer. Quer você goste muito ou nem tanto assim, não dá pra ficar indiferente depois de tomar uma Westvleteren 12."