A mais mítica e inacessível entre as trapistas é uma Belgian dark strong ale potente, muito aromática, seca, com um amargor assertivo que representa bem o jeito trapista de fazer cervejas belgas. No copo, mostra bela cor de mogno, boa transparência e espuma impecável. O aroma é um festival de complexidade, destacando-se as frutas e especiarias trazidas pela levedura (a cervejaria usa a mesma da Westmalle). Maçãs vermelhas e pimenta-do-reino são evidentes, reforçadas por sensações de uvas passas, vinho tinto, mamão papaya, leve acetona e toques sutis de cravo, alcaçuz e sementes de coentro. O lúpulo aromático contribui com toques sensíveis de ervas finas, e o caramelo típico do estilo é mais suave do que em outras interpretações. Mel, rosas e algum plástico fecham sua enorme complexidade. Na boca, a entrada mostra a doçura que é típica do estilo, mas ela logo evolui para um final caracteristicamente amargo e seco, austero como os monges da abadia de São Sisto, com uma forte e gostosa sensação de picância fenólica que traz à tona de forma interessante o aquecimento alcoólico. A Westvleteren 12 é a mais lupulada das dark strong ales trapistas, com potentes 38 IBUs, o que explica essa sensação. O corpo é médio para alto, licoroso mas razoavelmente seco se considerarmos o estilo. Uma cerveja carregada de tanta aura mítica é difícil de se avaliar objetivamente: normalmente a alta expectativa contribui para que a valorizemos ainda mais. No entanto, é forçoso reconhecer que realmente se trata de um grande exemplo de dark strong ale, puxando para o lado mais austero, rústico e "masculino" do estilo mas sem abdicar de complexidade e sofisticação aromática.