Santa coincidência, Batman! Nesse final de semana que passou, nós da Confraria Cervejeira Campineira fizemos uma degustação comparada de IPAs (misturando English IPA e American IPA), com uma seleção que incluía a Colorado e a Anderson Valley, então acho que podemos tentar enriquecer essa comparação que vc fez.
Em primeiro lugar, a adição da rapadura não confere mais corpo à Colorado; pelo contrário, ela o atenua. A adição de açúcares sempre tem o efeito de deixar a cerveja mais seca e o corpo mais leve (ao contrário do que pode parecer intuitivamente), pois os açúcares adicionados são mais plenamente fermentados e deixam menos carboidratos residuais no produto final. As IPAs americanas não costumam levar açúcar, mas as temperaturas de preparação do mosto favorecem um residual de carboidratos menor e, portanto, menos doçura e corpo. Mas vamos à comparação.
Em primeiro lugar, cabe indicar a dificuldade de identificar certos rótulos como English ou American IPA. Isso porque algumas fontes (como o BJCP) consideram que as versões americanas são menos torradas, mais leves em corpo, mais amargas e menos adocicadas; enquanto outras fontes (como o Brewer's Association) consideram que o que diferencia os dois subestilos é apenas o perfil aromáticos dos lúpulos: americanos no caso das American IPAs, ingleses no caso das English IPAs. No primeiro caso, levando em conta a torrefação e o amargor, teríamos que enquadrar a Colorado e a Brooklyn entre as English IPAs (a própria Brooklyn enquadra sua IPA no subestilo English). Contudo, levando em conta os lúpulos aromáticos, ambas podem ser consideradas como American IPAs, embora a Brooklyn use uma combinação de lúpulos americanos e ingleses, o que embola ainda mais o meio de campo. Enfim.
Nossa degustação comparada incluiu as seguintes IPAs: Fuller's, Colorado, Meantime, Falke e Anderson Valley. Já bebi a Brooklyn e então posso comparar, mas nunca bebi a Flying Dog e, portanto, me abstenho de comentar sobre ela. Para mim, as duas cervejas que mais se destacaram na degustação comparada foram a Colorado e a Meantime, mas a Meantime tem um perfil de lúpulos obviamente europeu e, portanto, se diferencia muito das American IPAs. Para mim, a Anderson Valley deixou bastante a desejar tanto em equilíbrio quanto em harmonia, porque seu amargor se destaca demais a ponto de dar uma sensação de aspereza na garganta (que o BJCP condena), e porque os aromas herbais de "mato seco" provenientes do dry-hopping, para mim, acabam mascarando a complexidade frutada, cítrica e floral do Cascade. Portanto, para mim, ela perdeu em paladar e em aroma se comparada com a Colorado, que mostrou um perfil cítrico e frutado mais limpo de aromas lupulados. Já a Brooklyn eu considerei uma cerveja extremamente agradável e balanceada, cujo amargor não raspa na garganta, e cujo aroma se mostra complexo e intrigante graças à cuidadosa combinação de lúpulos aromáticos misturando notas cítricas, herbais perfumadas e florais destacadas, mais refinado do que o forte caráter de "grama seca" que encontrei na Anderson Valley. Por isso tudo, entre as três, eu apontaria a Brooklyn como a minha favorita.