Detalhe da Avaliação

3.7 56
Brasil
Eduardo Guimarães  Insta @cervascomedu
Eduardo Guimarães Insta @cervascomedu
23 de Julho de 2015 11918
(Atualizado: 22 de Agosto de 2015)
Avaliação Geral
 
3.6
Aroma
 
7/10
Aparência
 
4/5
Sabor
 
14/20
Sensação
 
4/5
Conjunto
 
7/10
Estudos comportamentais comprovam: 100 entre 100 pessoas que descobrem os prazeres da cerveja artesanal passam por uma fase inicial na qual o milho é visto como o maior dos vilões. Durante esse período, o índice de piadas e tiradas sarcásticas envolvendo o pobre grão podem atingir concentrações estratosféricas. É como se todos os anos que o indivíduo passou sendo "enganado" pela grande indústria tivessem de ser expiados através do escárnio.

Evidentemente, toda essa revolta é passível de compreensão. Afinal, cervejas da grande indústria chegam a ter um índice de 45% de cereais não maltados (geralmente milho e arroz) para baratear os custos e também para alcançar um sabor o mais neutro possível. Mas o fato é que milho e outros adjuntos estão longe de ser o diabo que tanto falam. Na verdade, quando bem utilizados, podem até acrescentar características desejáveis na cerveja. Milho e arroz, por exemplo, podem ajudar na obtenção de álcool sem fazer pesar o corpo - um artifício usado até mesmo por diversas cervejas belgas consagradas. Claro que tudo depende da proporção e de como o adjunto (que também pode ser trigo, aveia, mel, etc) vai encaixar na receita.

Voltando ao assunto inicial, é chegada a hora de identificar o grande Satanás que está na ponta da língua dos "revoltados do milho"- e seu nome é AMBEV. Provavelmente devido a seu grande domínio de mercado, ela acaba sendo a personificação do mal no imaginário coletivo. Quando a AMBEV comprou a cervejaria artesanal Wäls, de Belo Horizonte (MG), o meio cervejeiro caiu de espanto. Foi como se Luke Skywalker tivesse se voltado ao lado negro da força. Os mineiros - que aparentemente perdem amigos, mas não perdem a piada (e nem dinheiro!) - resolveram provocar e lançaram em julho último uma cerveja com milho.

HOP CORN IPA

Anunciada como uma 'American IPA' com milho, a Hop Corn brinca com a palavra em inglês para "pipoca" (popcorn) num trocadinho que, em português, significaria algo como "pipoca de lúpulo" (hopcorn) - sendo que "hop" é "lúpulo" e "corn" é "milho". Entretanto, uma análise mais técnica indicaria que tudo não passa de marketing; afinal, ao contrário das cervejas industriais de massa, a receita da Wäls não leva flocos de milho. O que ela tem, na verdade, é um tipo de açúcar artificial derivado do milho chamado "High Maltose".

Pode parecer a mesma coisa, mas não é. Diferente do milho, que gera álcool sem acrescentar corpo, a "High Maltose" acrescenta um pouco de corpo, além de gerar álcool. Isso porque ela não é 100% fermentável como os açúcares mais comuns.

Com amargor de 70 IBU, a Hop Corn leva lúpulos "Columbus", "Amarilo" e "Cascade", passando ainda por 'dry-hopping' de "Centennial".

Líquido translúcido de coloração âmbar. No copo apresenta espuma bege clara de média formação e longa duração.

Aroma suave, com singelo sopro de lúpulo sobre o malte levemente caramelizado. Predominantes notas de manga e discreta citricidade ganham destaque. Apesar de bom, sua expressão é muito apagada.

Na boca revela corpo médio-baixo e carbonatação intermediária. O ataque, de moderada doçura caramelizada, é rapidamente deposto por um amargor firme e cortante. Reminiscências de manga, 'grapefruit', boldo e eucalipto ensejam o final lupulado, mas não não totalmente seco. Persistente amargor instala-se no retrogosto. Boa 'drinkablity'.

Cerveja agradável, amarga e relativamente leve em vista do teor alcoólico para o estilo. Custasse algo na faixa dos 13 reais, teríamos uma bela pedida para o dia-a-dia.

Dessa vez o milho (ou seria o marketing?) se deu bem.

Detalhes

Degustada em
21/Agosto/2015
Envasamento
Volume em ml
600 ml
Onde comprou
Empório da Cerveja
Preço
R$11,13 - promoção
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Comentários

2 resultados - mostrando 1 - 2
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01 de Setembro de 2015
Muito boa sua análise. Me pergunto se o grande problema das "de massa" não seria a falta de lúpulo e não os cereais não mateados. Em todo caso, me pareceu mais marketing orquestrado entre a Ambev e a Wals do que uma opção pela high maltose, no que sigo sua análise. A cerva é boa, by the way.
(Atualizado: 01 de Setembro de 2015) 01 de Setembro de 2015
Em resposta a earlier comment

Certamente uma boa dose de lúpulo as tornarias mais tragáveis. Quanto ao marketing, também estou de acordo. Inclusive peso que ele é o grande trunfo do rótulo - que também traz uma boa cerveja.

Obrigado pelo comentário!
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