Surgida em 2014, o "Social Beers" é a primeira empresa brasileira a trabalhar com o sistema de financiamento coletivo (crowdfunding) voltado para o mercado cervejeiro. Nesta modalidade de negócio é oferecido ao público algum tipo de projeto que só será executado caso exista uma demanda mínima. No caso da Social Beers é necessário que se atinja uma meta de mil litros previamente vendidos através de cotas para que o projeto vire realidade. Caso não se atinja a meta mínima os investidores recebem seu dinheiro de volta ou podem ainda transferir o investimento para outro projeto. As cotas partem de preços mais baixos, oferecendo apenas uma unidade do produto, e vão sendo escalonadas até valores mais altos, gradualmente agregando mais produtos e brindes como copos, abridor de garrafa, camisetas e até mesmo o direito de acompanhar a produção in loco no dia da brassagem. Nome, estilo, rótulo e outras características de cada projeto também podem ser votados pelos compradores no site.
O primeiro projeto, cuja captação de recursos durou cerca de 23 dias, foi uma cerveja do estilo 'Imperial IPA" feita colaborativamente pelos mestres cervejeiros Shane Welch e Rodrigo Silveira, respectivamente da cervejaria americana sediada em Nova Iorque "Sixpoint" e a paulista de Ribeirão Preto "Invicta". O rótulo batizado de "Sexta-Feira" foi produzido por ambos os mestres em Ribeirão Preto sendo posteriormente distribuído com exclusividade aos investidores e parceiros na logística de distribuição, no formato de garrafas e limitados barris de chope. Resultado de brassagem única, os criadores garantem que o rótulo nunca mais será produzido.
Na composição da cerveja foram utilizado maltes Pale Ale, Carapils, Caramunich I, Crystal e Pilsen; lúpulos Amarillo, Centennial, Simcoe e Magnum. Segundo Shane Welch, um pouco de rapadura também foi incluída para turbinar o processo fermentativo.
Líquido translúcido de coloração amarelo ovo. Espesso depósito de partículas de lúpulo (devido ao 'dry-hopping') e leveduras acumulam-se no fundo da garrafa. No copo mostra abundante formação de colarinho denso amarelado com boa consistência e persistência.
Tendo em vista os tipos de lúpulo utilizados, a expectativa por um buquê vívido era enorme. Surpreendentemente, porém, o que se constata aqui é exatamente o contrário: um aroma fraco de pouca expressividade e que apesar de não ser ruim, frustra narizes mais ávidos. Componentes cítricos/frutados vêm em primeiro plano remetendo à tangerina, mouse de maracujá, compota de laranja e um tiquinho de doce de mamão. Nuances carameladas indicam boa carga de malte e açucares residuais.
Felizmente a vivacidade que falta ao aroma recai no sabor. Ondas de malte e açúcar engendram toques de compota de frutas cítricas como laranja e tangerina além de doce de mamão e maracujá maduro. Significativa resina de lúpulo se projeta no palato com leve adstringência e moderado amargor. O corpo médio/alto aveludado de média crocância e álcool bem inserido acaricia as mucosas em pinceladas lânguidas de pura suculência. O final equilibrado sintetiza todas as nuances anteriores que se esticam até o retrogosto cítrico e resinoso. Fácil de beber, é preciso ter bom senso de auto policiamento para não entornar o copo inteiro de uma só vez.
O resultado final é uma cerveja extremamente saborosa, ainda que não tão aromática. Cervejarias Invicta e Sixpoint estão de parabéns. Bola dentro também do Social Beers que arranjou o encontro dos países e proporcionou aos investidores uma ótima cerveja. Apesar de alguns sérios problemas de comunicação, envio e prazo de entrega, a primeira iniciativa de 'crowdfunding' cervejeiro do país mais acerta do que erra. Que venham as próximas.
Como não poderia deixar de ser, minha expectativa era bastante alta para conhecer a Sexta Feira. No entanto, de alguma forma, acabei me decepcionando. Esta não é uma cerveja impressionante, o que não significa que não seja honesta. Acredito que a cerveja melhoraria muito se a Invicta resolvesse um problema que acaba com a alta qualidade de suas receitas: a grande quantidade de fermento que vai pras garrafas. É a quarta Invicta em que notei esse defeito... Vamos à cerveja.
Aparência: espetacular! Baixa formação de um creme muito denso, muito fofo, branco, que vai ficando pelas bordas do copo mas não acaba nunca! Corpo amarelo-alaranjado, como uma boa IPA deve ser. Turbidez baixa-média.
Aroma: suave. Os lúpulos aparecem muito de leve, é uma pena terem economizado no late e dry hopping. Pequena sugestão de um doce abacaxi. Sinto também fermento no aroma.
Sabor: saborosa, mas defeituosa. Entrada brevemente maltada, com imediata bancada de um amargor unidimensional, direto, intenso, mas não excessivo. A última sensação deixada pelo líquido, antes do retrogosto, é de pura levedura (o que é horrível, por que confere um amargor desagradável, além de sabor muito ruim). Retrogosto amargo, com suave sensação de lúpulo de sabor encoberto pelo fermento. Nenhuma sugestão de álcool.
Sensação: corpo leve, refrescante e, ao mesmo tempo, assertivo, direto. O amargor do fermento incomoda. O álcool mal aparece, o que é ótimo.
Total: uma IIPA razoável, mas com defeitos óbvios e pouco lúpulo de sabor/aroma.