Veja Comer&Beber

Acabo de voltar da banca com a edição de 2009/2010 do guia Comer&Beber da Veja São Paulo. Passei os olhos pelo ranking e pude perceber algumas coisas no tocante às cervejas especiais.

Em primeiro lugar, a concorrida votação na categoria "Carta de cervejas" (que deu vitória ao Melograno, estabelecimento do Edu Passerelli, vencendo pela primeira vez o Frangó) mostra o dinamismo do mercado e a atenção que ele está começando a receber da mídia especializada. Passando os olhos pelo guia, pude notar vários bares onde cartas extensas de cerveja (50 ou mais rótulos) são uma das atrações indicadas. Por outro lado, a disparidade de "status" entre vinhos e cervejas ainda é absolutamente gritante: o guia traz uma seção exclusiva para adegas e empórios de vinho, mas não para cervejas. O quesito "carta de cervejas" fica na seção de bares; enquanto o quesito "carta de vinhos" fica na seção restaurantes, o que mostra o maior respeito que é conferido ao vinho dentro do universo gastronômico. Como considero a Veja uma espécie de termômetro do senso comum, penso que ela reflete bem a sensibilidade vigente.

O que vcs acharam disso (e da Comer&Beber em geral)? O que acharam da eleição do Melograno como melhor carta de cervejas? Claro que conta a pretensão da Veja em sempre votar as "novidades" e os ambientes mais sofisticados, mas ainda assim é uma disputa interessante. O Frangó traz mais rótulos e destaques exclusivos como os chopes La Trappe. O Melograno traz uma seleção mais restrita, mas mais bem selecionada, de rótulos.

Alexandre, li a Veja agora pela noite e ja achei que foi muito legal ter uma sessao especifica de carta de cervejas, estamos longe ainda, mas creio que o gosto pela cerveja esta se enraizando cada vez mais entre os brasileiros. Reparo sempre na curiosidade das pessoas que passam no supermercado e ficam "divagando" sobre a qualidade da Leffe ou da Hoeegarden.
No mais achei o ranking justo pela novidade, embora tenha ido conhecer o frangó neste final de semana e gostei demais, o melograno é um pouco mais sofisticado, mas o Frangó é show.
Gostei muito de ver o Anhanguera sitado como um dos melhores, agora me falta conhecer o Asterix, que todos falam muito bem.

Bem, como "assinante passivo" da Veja (na verdade é meu pai quem assina) já pude conferir essa nova edição. Como de todos os bares especializados em cerveja de São Paulo o único que ainda não conheço é o Melograno, fica um pouco leviano da minha parte comentar se considero justo ou injusto a sua eleição como "Melhor Carta de Cervejas", mas me permito realizar algumas considerações: Primeiro que, na minha opinião, essa categoria "Carta de Cervejas" deveria privilegiar o bar que possui a maior carta de cervejas, que invariavelmente será a melhor também. Ora, nas próprias resenhas escritas pelos redatores de Veja São Paulo, fica claro que, enquanto o Melograno possui 150 rótulos, o Frangó tem 300 deles. Deste modo, fica difícil imaginar, ainda mais para o paulistano que, como eu, conhece a história do Frangó, que dentre estes 300 rótulos, além da quantidade, não exista também a qualidade. Assim, fico com a interpretação do Alexandre que entende a eleição do Melograno como um "ode" à novidade (na verdade, factualmente, o Frangó deveria vencer de novo). Segundo que gostei de ver, dentre as votações para a "Melhor Carta de Cervejas", o Bar Anhanguera, com seu voto indicado por um dos juízes. Considero que, o Anhanguera, apesar de possuir uma carta mais enxuta do que a dos seus dois rivais finalistas (Melograno e Frangó), opta pelo segmento das artesanais brasileiras e, dentro deste segmento, consegue apresentar "raridades" que nenhum dos seus concorrentes possui. Assim, de certo modo, se o Anhanguera hipoteticamente vencesse nessa categoria, de acordo com a minha opinião, talvez fosse mais justo do que a eleição do Melograno, que no mesmo universo do Frangó, não consegue superá-lo em número. O Anhanguera, ao menos, trabalha num universo paralelo ao deles. Por fim, vale frisar, não tenho nada contra o Melograno que, diga-se de passagem, pretendo conhecer em breve.

Sem dúvida o prestígio das cervejas aumenta a olhos vistos, mas só comentei que a Veja é um bom termômetro para mostrar a disparidade que ainda existe entre cervejas e vinhos.

O Anhanguera mereceu a menção pelo pioneirismo e pelo suporte dado às marcas nacionais, mas entendo que seria inadequado que ele levasse a melhor carta de cervejas, porque tem limitações inerentes à proposta do bar (não tem cervejas importadas). Já o Asterix é interessante, mas segue mais a linha do Frangó, só que com menos rótulos, menos espaço e menos charme, apenas mais bem localizado. Drake's não recebeu indicações, graças a Deus, porque é elitizado, caro e não prestigia as nacionais. Acho que a briga ficaria mesmo entre Frangó e Melograno. Eu sou mais o Frangó, mas por uma questão de gosto pessoal. Adoro o clima do Frangó, as paredes decoradas com itens de cerveja; além disso, as comidas são ótimas. Além, é claro, da oportunidade de tomar chope La Trappe!

Acho que o Melograno é um pouco elitizado demais para o meu gosto (e não gostei muito dos sanduíches de forno quando comi lá), embora entenda que o Passarelli está tentando abocanhar um mercado crescente de elitização da cerveja - e, localizado como está na Vila Madalena, não poderia descuidar do ambiente. Não se pode negar que a carta, embora não seja a mais extensa (como o Mauro apontou), é extremamente bem selecionada, e o empório é legal para comprar e levar para casa, pois oferece descontos para quem não vai consumir no local. Eu mesmo compro lá às vezes, quando estou tendo dificuldade para encontrar uma cerveja em outros lugares. Além disso, o cardápio é muito bem organizado e didático, e há ainda a presença de uma sommelier que ajuda os consumidores na hora de escolher a cerveja. Por isso tudo, embora eu goste mais do Frangó, entendo que o resultado final é justo. Mauro, encare a carta do Melograno como uma versão mais "enxuta", cuidadosamente selecionada, que concentra as cervejas que mais se destacam, diferentemente da carta do Frangó, que faz menos seleções. A ideia do Passarelli é que o leigo em cervejas pode sentar e pedir qualquer uma, e beberá uma boa cerveja. Por isso ele tirou a "gordura" da carta. Seria necessário sentar e comparar os cardápios para saber se o Melograno tem rótulos que o Frangó não tem: salvo engano, até pouco tempo atrás, era o único lugar onde se podia encontrar as garrafinhas das Meantime Raspberry Porter e Coffee Porter na cidade.