Isso me parece puro reflexo de uma realidade de mercado, já que estamos considerando uma cerveja de massa. A Publicidade brasileira é extremamente criativa, das mais destacadas no mundo, mas ainda é relativamente "seletiva" no que toca às questões de gênero e racial. O quanto dessa "seletividade" vem da raiz das próprias agências ou por pressão do contratante, ainda é, para mim, um mistério.
O fato é que, por mais que a situação esteja evoluindo, ainda é forte o conceito de cerveja como bebida associada a ambientes masculinos, infelizmente. Quando o assunto é cerveja artesanal/especial, a coisa já vai tomando rumo bem distinto, e só não enxerga quem não quer que as mulheres estão cada vez mais conquistando espaço nesse segmento.
É fato que o organismo feminino tende a sofrer mais os efeitos do álcool (não faltam fontes sólidas sobre isso). Tanto é que se recomenda às mulheres, como dose diária segura, quantidade menor de álcool do que a indicada aos homens. Mas daí a crer que isso tenha a ver com a sensibilidade do paladar feminino em relação a bebidas alcoólicas, penso que não faz sentido. Parece-me, mesmo, que ainda é questão muito mais cultural do que fisiológica.
Aqui no site mesmo, nas avaliações, não é incomum encontrar comentários do tipo "cerveja muito leve, fraquinha, boa para mulheres". E muitos escrevem isso com naturalidade, sem se dar conta de que estão repassando um machismo cultural. É por isso que, nesses casos, sempre tomo o cuidado de escrever algo como "cerveja leve, boa para paladares mais sensíveis". Conheço pelo menos dois casais cujo marido às vezes acha forte certas cervejas de trigo, enquanto a esposa encara na boa uma Imperial Stout.
Agora, em pleno século 21, se algum homem ainda se sente incomodado com a possibilidade de ser mais "sensível" ao álcool do que uma mulher, tem algo de errado aí. Mas, com certeza, nada que um bom psicoterapeuta não ajude a resolver...