NOVA AVALIAÇÃO DA CERVEJA ENVELHECIDA POR 11 ANOS.
Localizado ao norte da Áustria, povoado de Vorchdorf, entre as cidades de Salzburgo e Linz, o Castelo de Eggenberg (Schloss Eggenberg) tem origem no século XII, vindo a produzir cerveja desde meados do século XIV. Entretanto, só em 1681 (quando a propriedade, então pertencente a um Monastério, foi vendida) é que a produção passou a ser comercializada. Em 1803 a família Forstinger-Stöhr tornou-se responsável pela cervejaria do castelo e hoje, em sua sétima geração, segue comandando os negócios.
A Samichlaus ("São Nicolau", no dialeto suiço-germâncio - "Papai Noel" no Brasil) é uma cerveja de produção limitada, fabricada anualmente apenas no dia 6 de dezembro (Dia de São Nicolau). Se fôssemos enquadrá-la em um estilo, ela seria uma espécie de "Triple Bock", pois é ainda mais forte do que uma Doppelbock. Durante muitos anos, inclusive, carregou a fama de ser a lager mais alcoólica do mundo. Sua produção envolve duas fermentações (a primeira até atingir 9% e depois recebe uma segunda levedura para atingir os 14%). Além disso, envelhece em tanques por 10 meses antes de ser engarrafada.
Vale ainda lembrar que a Samichlaus é um exemplo de cerveja que já foi extinta e depois ressurgiu. Lançada no fim de 1980, teve sua produção descontinuada em 1997 - ano em que a Hürlimann, a cervejaria suíça que originalmente a desenvolveu, encerrou as atividades.
Felizmente, em 2000, por iniciativa da Schloss Eggenberg, que adquiriu os direitos da marca, voltou a ser fabricada. Para isso foram contratados mestres cervejeiros da antiga cervejaria Hürlimann, de modo que a receita original fosse preservada.
*Exemplar engarrafado em 2011, o que indica que a cerveja foi produzida em 6 de dezembro de 2010 - há quase 12 anos. Particularmente, venho mantendo esta garrafa em "adega" desde junho de 2013.
De coloração marrom avermelhada, forma espuma bege estreita, de baixa retenção.
No nariz, chama a atenção seu caráter frutado passando por ameixa seca, uva passa e cereja. Notas de castanhas, marrom-glacé e até leve chocolate também se apresentam. Certa lembrança de vinho Madeira, com aquela oxidação típica, vem em seguida.
Na boca se mostra extremamente doce, densa, viscosa. O perfil maltado, rico em melanoidinas, acaricia a língua. Sugestões de calda de ameixa, marrasquino, marrom-glacé e chocolate ao leite complementam. Calor etílico na medida certa. Com carbonatação quase inexistente, fica reforçada a sensação de vinho fortificado. O final segue longo, doce, quase melado, um pouco frutado. Melanoidina e ameixa persistem bastante no retrogosto.
Cerveja verdadeiramente especial, daquelas pra se bebericar em pequenos goles, praticamente um digestivo.
Já quanto ao seu envelhecimento, considero um sucesso. Sinto que aguentaria ainda mais uns bons anos de boa. Recomendo a todos que conheçam este clássico e também - se puderem - que separem uma garrafa ou outra para apreciação futura.