Mega cervejarias adquirindo cervejarias artesanais

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14 anos 6 meses atrás #19586 por Alexandre Mendes
Mega cervejarias adquirindo cervejarias artesanais, isso é bom ou ruim??

Alguém teve a oportunidade de degustar a antiga Xingu, do rótulo preto?
Bem, essa cerveja representa muito na minha vida, ela me fez gostar e iniciar em cervejas artesanais, ainda no tempo em que era muito difícil encontrar coisa boa com preço acessível. A partir daí, procurei mais opções do estilo stout e descobri a Guinness pelo qual sou fã numero um.
Mas meus amigos confrades, hoje em dia, quem consegue tomar a Xingu numa boa? Se tiver alguém que goste, me desculpe! respeito porque gosto não se discute porem, os amigos não devem ter apreciado a versão antiga. Não sou economista, mas creio que isso se deve as apertadíssimas margens pelo qual as mega cervejarias trabalham e são obrigadas a conviver, o pessoal do departamento comercial obrigam o pessoal de desenvolvimento a elaborar algo bom e barato, o pessoal do desenvolvimento tenta fazer milagre a acaba alterando algum ingrediente que no final das contas altera o gosto final e a maioria da população não percebe, ou até gosta!
Isso me faz pensar no futuro da nossa amada, brasileiríssima e honesta Eisenbahn.
Não acredito que com o controle da Eisenbahn a Schincariol não queira meter o bedelho no processo de fabricação para tentar baratear a cerveja e assim tentar disputar melhor o mercado cervejeiro artesanal, essas empresas são assim, o lucro em primeiro lugar e a qualidade vem depois.

Saúde! Alexandre Mendes

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14 anos 6 meses atrás #19593 por Alexandre Almeida Marcussi
Fala, xará!

Olha, com certeza o processo de consolidação (ou seja, de concentração de capitais) foi um dos maiores fatores responsáveis pela padronização "por baixo" das cervejas ao longo do século XX. Visando a um mercado de massa e procurando vender em quantidades assombrosas, a indústria tendeu a homogeneizar seus produtos de forma a provocarem o menor grau possível de rejeição atingindo os menores custos possíveis de produção. O resultado nós sabemos qual foi: a expansão hegemônica de um estilo criado em fins do século XIX, o American lager, muito frequentemente em versões de qualidade duvidosa.

Mas será que esse processo se repetiria hoje? As condições da economia mundial são muito diferentes do que eram no período do pós-guerra; os economistas falam que hoje vivemos uma economia da "long tail", ou seja, um paradigma comercial que permite a produção e capitalização em cima de produtos direcionados para nichos de consumo, o que antes era impossível devido ao menor desenvolvimento de tecnologias de comunicação e circulação. Ou seja: se antes era impossível obter lucros aceitáveis (do ponto de vista de um grande empreendimento capitalista) com um produto direcionado para um público restrito, hoje isso é possível. Mais que isso: é uma tendência de mercado.

Acho que isso muda um pouco as coisas para as nossas microcervejarias englobadas pelo processo de consolidação. Quando a Eisenbahn e a Baden Baden foram adquiridas pelo grupo Schin, houve muito temor de que as receitas se vulgarizassem e perdessem qualidade. Até o presente momento, eu não vi isso acontecer. Pelo contrário, ambas continuam lançando produtos inovadores e mantendo o padrão das receitas, até onde posso ver. Diferentemente do que ocorria há 10 anos no Brasil, hoje existe um segmento de mercado consolidado para as cervejas artesanais, o consumidor está de fato procurando produtos que se diferenciem das American lagers de sempre. Nesse sentido, acho que o mais lucrativo é justamente manter o padrão "artesanal" dessas cervejarias, e não suavizar os produtos.

Claro, apenas o tempo dirá qual tendência prevalecerá, mas eu acho que o panorama global da consolidação industrial é diferente do que era há 20 ou 30 anos. Seria uma pena muito grande ver a Schin mexer dessa maneira nas receitas de duas marcas tão importantes para o nosso mercado das artesanais.

ocrueomaltado.blogspot.com
Porque cervejas são boas para beber, mas também são boas para pensar
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14 anos 6 meses atrás #19596 por João Gabriel Margutti Amstalden
Concordo com o Marcussi, a coisa mudou muito hoje em dia.

Retirado do Blog do Edu Passarelli:

28 Agosto 2007
Baden Baden x Baden Baden
Desde a aquisição da cervejaria de Campos de Jordão pela Schincariol os fãs da Baden Baden se preocupavam com possíveis alterações na fórmula dos produtos. Esta é uma preocupação bastante plausível, já que o país tem algumas histórias de micro cervejarias adquiridas pelas macro e que tiveram a sua receita alterada, normalmente buscando “abrasileirar” o sabor da cerveja. Sabe-se que produtos com o paladar mais ameno tendem a agradar um maior número de consumidores. A pergunta estava no ar: Será que a Baden Baden, conhecida por suas cervejas de sabor complexo e diferenciado, iria passar por isso? Comunidades no Orkut relacionadas à Baden Baden estão cheias de comentários sobre o assunto, e alguns jurando de pés juntos que a cerveja já é outra.

Curiosos com a possível “Nova Baden”, eu e o Roberto Fonseca resolvemos tirar a prova dos nove. Buscamos em nossas adegas versões da Celebration Inverno 2006 e Red Ale, ambas produzidas antes da venda da cervejaria, e colocamos frente a frente com as Celebration Inverno 2007 e Red Ale, ambas produzidas pós venda. Escolhemos o bar FrangÓ como local para a degustação, e reunimos mais alguns especialistas em cervejas para nos acompanhar. O time formado tinha a minha presença, Roberto Fonseca (Latinhas do Bob), André Clemente (Prazeres da Mesa), Cilene Saorin (Mestre Cervejeira e Beer Sommelier) e Cássio Piccolo (FrangÓ).

A degustação ocorreu às cegas, ou seja, apenas sabíamos o estilo de cerveja que estava sendo servido, mas não qual era o ano de sua produção. Iniciamos com a Celebration Inverno, e depois partimos para Red Ale. As amostras foram servidas pelo beer sommelier do FrangÓ, Fabiano Bellucci.
Apesar de algumas diferenças notadas entre as safras, como maior ou menor amargor, licorosidade, toques adocicados, entre outros, foi consenso geral que aparentemente não existem alterações na fórmula, e que as diferenças encontradas foram provocadas pela ação do tempo de guarda das cervejas. As cervejas da safra anterior, mesmo com a data de validade vencida, ainda se encontravam em perfeitas condições para o consumo. Portanto, até o momento, acreditamos que as cervejas mantêm a mesma formulação.

Após esta degustação, o Cássio ainda nos proporcionou uma degustação de Lagers estilos Pilsen e Dunkel, holandesas, trazidas há um pouco mais de 1 ano. Nestas foram encontrados alguns defeitos, totalmente esperados, já que cervejas delicadas como do estilo Pilsen dificilmente mantêm suas características originais após a data de validade. Porém também encontramos algumas boas surpresas, e claro, adquirimos mais experiência em degustações!

Gastronomia com cerveja > www.panelademalte.blogspot.com
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14 anos 6 meses atrás #19600 por Marcelo Vodovoz
eu também não vi problema nas receitas da baden e da eisenbahn. Mas a estratégia mudou bem, em vez de produzirem a Weinachts Ale e outras sazonais investiram na Devassa Bem Loura.
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14 anos 6 meses atrás #19607 por Alexandre Almeida Marcussi
Acho que há um posicionamento implícito na colocação de mercado da Schin para as três artesanais que ela adquiriu:

1. A Devassa ficou como uma espécie de "segunda linha artesanal" mais popular, com receitas mais suaves e preços menores, me parece que visando a um público mais amplo. Acabou se aproximando de uma opção da Schin no segmento premium. O lançamento da "Devassa Bem Loura" meio que confirmou essa tendência.
2. A Eisenbahn manteve o padrão de qualidade e continua investindo em receitas inovadoras, agora sobretudo por meio do Concurso Mestre Cervejeiro. Me parece que se tornou uma opção "de combate" das artesanais, uma linha acessível e de ampla distribuição.
3. A Baden-Baden foi envolta em uma aura mais "gatronômica", com preços um pouco mais elevados que a Eisenbahn e sendo divulgada em eventos como o São Paulo Restaurant Week.

Posso estar errado, mas acho que a Schin não faria com a Eisenbahn e com a Baden o que fez com a Devassa, porque parecem existir estratégias de posicionamento de mercado um pouco diferentes para essas duas marcas. Acho que os papeis da Eisenbahn e da Baden Baden ainda se sobrepõem em muitos apectos (a Eisenbahn tem uma linha mais barata, mas ao mesmo tempo faz cervejas comemorativas bem caras e tem a linha Lust), o que de certa forma é bom, mas talvez venha a mudar a médio prazo.

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Porque cervejas são boas para beber, mas também são boas para pensar
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14 anos 6 meses atrás #19650 por Alexandre Mendes
Valeu Marcussi, por responder o post!

Até o presente momento, as cervejas não mudaram mesmo, pelo menos eu não percebi. Eles estão mesmo desenvolvendo novos projetos e lançando coisas bem boas, porém, até quando né? Não sei se você teve a oportunidade de ouvir, na radio Band News FM, esta semana eles estão fazendo uma entrevista com o cabeça da Schin e ele comentou que as margens para as cervejas artesanais não são lá essas coisas.
Resta saber até quando eles vão manter os mesmos padrões. Na boa, acho difícil!

Saúde! Alexandre Mendes
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