As Xyauyu são uma linha de barley wines extremamente potentes e licorosas feitas pela Baladin usando métodos experimentais, tais como a oxidação induzida pela introdução de oxigênio no tanque durante a longa maturação. Como resultado, elas atingem um alto teor alcoólico (14%), perdem toda a sua carbonatação e adquirem o perfil vagamente aproximado de um licor, variando de rótulo para rótulo as particularidades de sua oxidação e a adição de outros ingredientes. No caso desta Xyauyu Argento, trata-se de uma cerveja em que os traços de envelhecimento e oxidação se fazem bastante evidentes e adicionam uma interessante complexidade e equilíbrio ao seu perfil adocicado e licoroso. A coloração é de um bonito amadeirado-caramelado, transparente e com viscosidade visível, sem absolutamente nenhuma carbonatação. O aroma é intenso e marcante, com boa complexidade de características agradáveis de envelhecimento e oxidação: predominam notas condimentadas, meio salgadas, que me remeteram a molho inglês e tomates, quase lembrando um bloody mary, acompanhadas de um sólido e sóbrio amadeirado e de toques caramelados perceptíveis do malte. O lúpulo aromático desapareceu em meio a uma maturação tão estendida e a outros aromas tão intensos. Ao fundo, sentem-se toques frutados e vinificados, com notas de ameixas secas e de vinho do porto. No sabor, é esse perfil mais frutado e vinificado que se acentua e passa a predominar, com as características condimentadas, amadeiradas e carameladas fornecendo uma boa harmonia. É notável a força de características de oxidação agradáveis, sem que se notem características desagradáveis relevantes - para o meu gosto, pelo menos. No paladar, predomina a doçura licorosa, mas de uma forma equilibrada por uam acidez relevante, um amargor mediano e um toque meio salgado e "carnudo" de umami. A entrada é doce e ácida em equilíbrio, conduzindo a uma finalização em que o amargor equilibra a doçura e a um longo final que tende progressivamente ao doce, com retrogosto de ameixas secas e madeira. Tem um certo desequilíbrio, é verdade, mas bem mais atenuado do que na Xyauyu Oro, na minha opinião. Os 14% de álcool são evidentes, mas não incomodam, pois estão bem-inseridos e ajudam a quebrar o doce, como num licor. Ela mostra-se encorpada, com textura licorosa acentuada pela ausência completa de carbonatação. Uma cerveja realmente bastante peculiar, que ganha seu interesse pelas fortes e claras características advindas de seu envelhecimento com oxidação induzida. A meu ver, sua grande virtude é conseguir fazer com que essas características mostrem-se de maneira evidente, com boa complexidade, sem que ela tenha traços desagradáveis de oxidação e/ou contaminação. Estou ciente de que esta provavelmente não é uma cerveja que irá agradar a todos, mas eu a achei bastante interessante apesar de seus pontos menos altos, como a doçura um tanto excessiva. Trata-se de uma cerveja que guarda muitas características em comum com a Xyauyu Oro, mas que me pareceu ter uma acidez e um condimentado mais acentuados que lhe deram mais interesse e equilíbrio. Vendida em pequenas doses, o que atenua o problema do preço, torna-se uma interessante experiência para quem gosta do estilo e de cervejas envelhecidas em geral (é o meu caso). Até porque não me parece ter drinkability suficiente para encarar uma garrafa inteira na boa, talvez nem mesmo dividindo com alguém.