Como suas deliciosas irmãs, a tripel da Urthel é uma cerveja intensa e marcante, com bastante personalidade, difícil de se ficar indiferente. Destacam-se a refrescante secura do conjunto e a harmonia dos ingredientes, tendendo todos ao cítrico, criando um interessante efeito de convergência na receita (e não de contraste, como ocorre na strong golden ale da marca). Cor amarela luminosa, turbidez mediana e espuma que poderia ter tido um pouco mais de retenção. Os aromas puxam para o cítrico: um frutado delicado trazendo damascos secos, polpa de maçã e laranjas, presença bem destacada de sementes de coentro (que me lembram um mistura de pimenta do reino e tangerina - recomendo a todos provarem os grãos) e lúpulo com notas florais e cítricas suaves (tangerina), criando bela harmonia. Na boca, as notas se repetem, e o malte fica em segundo plano diante das características cítricas e condimentadas. O paladar traz equilíbrio entre a acidez e o amargor sólidos, com doçura correta para balancear. Interessante evolução na boca: acidez marcante de entrada, leve doçura, amargor sólido de fundo e final seco e amargo, com acidez residual e retrogosto de maçãs, sementes de coentro e floral. O corpo é leve e frisante, com a generosa carbonatação preenchendo a boca, e com sensação seca e refrescante. Como os 9% de álcool não são tão agressivos assim, a refrescância faz com que desça perigosamente bem.
No conjunto, traz presença pouco destacada do malte, valorizando a levedura, as especiarias e os lúpulos, que convergem para criar um interessante efeito cítrico, ácido e seco, criando uma cerveja ao mesmo tempo intensa, marcante e com uma leveza e delicadeza peculiares. Com esta tripel, tive a oportunidade de conhecer todos os estilos da cervejaria que nos chegam ao Brasil - e assim como com suas irmãs, pretendo repetir a dose quando oportuno!