Quando os biólogos Jean-François Gravel e Stephane Ostiguy se encontraram no laboratório de uma universidade em Montreal, Canadá, mal sabiam que a parceria ali surgida extrapolaria os limites da pesquisa científica. Apreciadores de boas cervejas e interessados nos processos fermentativos da bebida, decidiram juntos abrir um 'brewpub'. Foi assim que em 1998 nasceu a Dieu du Ciel (ou "Deus do Céu!") - interjeição que pretende traduzir o sentimento de quem prova suas cervejas.
Os anos seguintes trouxeram aumento de demanda, o que fez a cervejaria transferir sua sede para um lugar maior na cidade de St-Jerome - região metropolitana de Montreal. Além de concentrar toda a linha de produção e engarrafamento, o local conta também com restaurante e 'tasting-room'. Para a felicidade dos saudosistas, contudo, é bom lembrar que o pub original continua funcionando normalmente.
SOLSTICE D'HIVER
Solstice d’Hiver (ou "solstício de inverno") é uma 'Barleywine' de tiragem sazonal feita uma vez por ano, em meados de julho, e lançada após meses de maturação (incluindo tanque, garrafa/barril) em dezembro, à partir do solstício de inverno. Entre os ingredientes estão malte de cevada, açúcar, trigo e lúpulo.
* Unidade envasada em 25/09/2015
Líquido âmbar escuro, meio acastanhado. Servido, apresenta creme bege de baixa formação que se estabiliza numa fina camada.
No nariz, notas de 'blueberry', tamarindo e álcool se destacam fazendo lembrar um licor. Malte caramelizado, lúpulo herbáceo/condimentado e traços de oxidação ficam ao fundo.
O paladar mostra uma cerveja encorpada, de carbonatação reduzida e textura sedosa. Reminiscências de mirtilo, uva roxa e tamarindo despontam sobre uma base moderadamente doce de malte caramelizado e tostado. Pronunciado amargor surge em seguida, para exercer o contraponto. Ao contrário do aroma, nuances picantes de álcool e certo sinal de oxidação acomodam-se bem no contexto do sabor. Toques herbáceos e condimentados de lúpulo penetram o final longo, maltado e tostado, deixando um amargor persistente invadir o retrogosto.
Fica a impressão de uma cerveja que extrapola os parâmetros de uma 'English Barleywine', dando a ela o amargor forte de uma 'American Barleywine', mas sem o perfil cítrico/resinoso dos lúpulos americanos.
Já quanto a oxidação que prejudicou o aroma, talvez esta tenha sido agravada pela garrafa com sistema de tampa rosqueada; algo que - ao meu ver - não deveria ser empregado em cervejas com potencial de guarda.