Uma das coisas mais legais no universo das cervejas artesanais é quando duas cervejarias se juntam na criação de um rótulo inédito colaborativo. É o caso da Vanilla Hoppy Cookie, fruto da parceria entre os paranaenses da WayBeer com os mineiros da Wäls. Por não obedecer critérios que a enquadrem num determinado estilo, seus criadores a consideram uma "invencionice" apelidada de "Imperial Brown Ale". A receita (que inclui cinco tipos de malte alemão que procuram remeter à biscoito tipo "cookie" e lúpulo "polaris" que eleva seu amargor a casa dos 90 IBU) leva ainda favas de baunilha durante a maturação.
Líquido castanho escuro parcamente translúcido. Na taça exibe colarinho bege de baixa formação e retenção.
Ao olfato chama a atenção o forte cheiro de álcool que traz em seu bojo reminiscências de cachaça. Totalmente dominante, acaba ofuscando outras nuances aromáticas como notas de malte tostado, caramelo, rosquinha e baunilha. Uma pena.
Na boca mostra corpo pesado e licoroso de baixíssima carbonatação. Predominantemente adocicado, o sabor traz muito malte tostado, caramelo e suave torrado que junto a baunilha chega a lembrar massa de bomba de chocolate e carolina. Moderado amargor de lúpulo insinua-se ao fundo meio a notas cítricas de 'grapefruit' e casca de laranja. Apesar dos 13 % ABV o álcool é relativamente bem inserido proporcionando confortante aquecimento das mucosas com leve ardência. Intensa percepção de malte recai sobre o final doce, tostado e resinoso de razoável amargor e ligeira adstringência. Traços de lúpulo cítrico e bastante tostado perfazem o retrogosto de média persistência.
Cerveja "gorda" que consegue transmitir a sensação de conter alta carga de insumos, mas que falha em contextualizá-los dentro de um conjunto coeso. Fica a lição de que não basta uma profusão de bons ingredientes e ousadia se não houver harmonia. Ruim ela não é, porém lamento imaginar como poderia ser melhor.