A Witkap Pater Tripel é do estilo Belgian Strong Ale, sub-estilo Belgian Tripel, este por certo o mais clássico grupo e que caracteriza cervejas belgas de alta fermentação, claras ou escuras, creme destacado com o esperado 'belgian lace', equilibradas e complexas. O perfil é maltado, seja pela lupulagem coadjuvante seja pela adição de candi sugar. Aroma e sabor apresentam, graças à levedura belga, um frutado cítrico, bom condimentado e álcool que pode chegar aos 12% ABV. Em linhas gerais pode-se dizer que na receita de uma Tripel se utiliza algo como 3 vezes a quantidade habitual de malte. Com mais "alimento" as leveduras permanecem em ação por mais tempo e o resultado é uma gama maior de aromas, sabores e álcool do que numa dubbel, por exemplo, e menor do que numa quadruppel em regra.
É produzida pela 'Brewery Slaghmuylder', fundada em 1860 por Emmanuel Slaghmuylder que era um comerciante de grãos (a última parte do nome Slayhmulder refere-se ao nome de um moleiro - Muylder). A curiosidade é que a partir de 1979 a cervejaria encampou a marca das cervejas Witkap Pater - algo como pai do boné branco, numa alusão aos gorros brancos usados pelos monges na igreja durante os cultos. A linha Witkap até então era produzida pela cervejaria belga De Drie Linden que encerrou as atividades no aludido ano. A cervejaria Slaghmuylder está instalada na cidade belga de Ninove e é uma empresa familiar há mais de 150 anos e no local pode-se fazer uma visita guiada e admirar um museu que guarda ferramentas, publicidade de cerveja e um gerador movido a vapor fabricado em 1910. O portfólio é bem servido, mas as cervejas de maior destaque são as Witkap Pater Single, Dubbel e esta Tripel.
É interessante como a tradição cervejeira está tão intimamente ligada aos monastérios católicos na Bélgica (vide a quantidade de rótulos com ilustrações religiosas). E, de fato, ao longo dos séculos a produção de cerveja serviu principalmente como pão líquido aos monges que passavam os dias orando e trabalhando.
Validade dezembro/2013 - a garrafa é de 330 ml, cor marrom, e ostenta um belo e colorido rótulo ornado com a gravura de um senhor de hábito marrom e capuz branco, assim como sua barba, segurando uma caneca de cerveja. Nas laterais do rótulo se pode encontrar menção aos ingredientes, à validade, à refermentação na garrafa e a distinção entre as cervejas Stimulo, Special, Dubbel e Tripel pela graduação alcóolica. A tampa se apresenta nas cores verde e branco e repete o desenho estampado no rótulo.
Vertida na taça revelou um líquido de coloração dourada com turbidez mediana. A espuma branca formou-se de maneira exuberante e se apresentou consistente e volumosa, com manutenção que não decepcionou as expectativas em torno do estilo. Também estavam lá as igualmente esperadas rendas belgas a deslizar taça abaixo. Perlage perceptível - bolhas pequeninas.
O aroma é bastante complexo e aromático, tendo apresentado destacadas notas de malte caramelo, ésteres de banana e frutado cítrico de laranja, além de um condimentado de cravo, fermento e lúpulo floral.
O sabor é igualmente complexo, próprio das tradicionais receitas belgas. No paladar o líquido apresentou-se aveludado e ostentou notas maltadas, panificação, candi sugar, fermento, frutas cítricas (laranja e raspa de limão), ésteres de banana, especiarias (cravo) e um amargor discreto de lúpulo floral. O álcool de 7,5% ABV não é agressivo e harmoniza o conjunto. O final se mostrou seco e o retrogosto levemente amargo. Corpo médio e carbonatação suave. A palatabilidade (drinkability) se revelou excelente!
A mim o conjunto restou harmonioso, saboroso e refrescante, tendo ilustrado muitíssimo bem um estilo bastante tradicional.