Carinhosamente referida como "a oitava trapista do mundo", foi em 2012 que a austríaca "Stift Engelszell" entrou para o seleto grupo de cervejarias comandadas por monges católicos pertencentes à "Ordem dos Cistercienses Reformados de Estrita Observância". Vulgarmente conhecidos como "trapistas", tais religiosos vivem sob o lema "ora et labora", ou seja: oração e trabalho - e que trabalho! Quando se põem a produzir cervejas são capazes de elevá-las a tal nível de qualidade que facilmente as colocam dentre as melhores do mundo.
Localizada em Engelhartszell (cidadela à beira do rio Danúbio, porção superior da Áustria) é na "Abadia de Engelszell" que as cervejas são produzidas. "Engelszell" (que significa "cela dos anjos") surgiu como mosteiro Cisterciense no ano 1293 e assim se manteve até 1786, quando o imperador José II o dissolveu e entregou as dependências para a utilização privada. Somente em 1925 o local foi novamente ocupado por monges católicos - desta vez da ordem trapista - e assim continua até os dias de hoje. Vale lembrar que durante a Segunda Guerra, em 1939, a abadia foi confiscada pela Gestapo (a polícia secreta nazista) e só voltou ao comando dos monges em 1945.
Primeiro rótulo lançado pela Engelszell, a "Gregorius" é uma 'Quadrupel' feita com adição de mel e que presta homenagem ao abade Gregorius Eisvogel - creditado por guiar os monges refugiados da Alsácia até o Monastério, onde permaneceu no comando por cerca de 25 anos, entre 1925 - 1950.
Líquido turvo de coloração castanha escura e tons avermelhados. A espuma marrom clara tem formação e densidade medianas, rapidamente se transformando num fina camada que persiste por tempo razoável.
O aroma tem perfil adocicado e bastante condimentado, pontuado por suave traço de ácido lático que confere um fundinho azedo. Evidente presença de mel emana junto a notas de morango em calda e frutas secas como uva passa, ameixa e muito abacaxi cristalizado. Álcool e fenóis de cravo também são perceptíveis. Em se tratando de nariz, esta trapista se diferencia muito de suas similares. Simplesmente sensacional!
Extremamente encorpada e literalmente cheia de gás, já ao primeiro gole desfila toda sua potência e exuberância. Malte levemente turfado e açúcar queimado se desenvolvem em ondas adocicadas que vêm acompanhadas de bom amargor e intensa esterificação, lembrando abacaxi maduro, geleia de uva e framboesa. Moderada acidez traz ainda sensação que remete à iogurte. Relativamente explícito, o álcool se mostra como uma aresta que poderia ser mais bem aparada. O final longo levemente tânico, salgado e condimentado aquece a garganta com álcool e suave picância - desembocando num retrogosto frutado, tostado e significativamente amargo.
Cheia de personalidade, não se trata de "só" mais uma trapista. A marca é Engelszell e seu nome é Gregorius. Uma experiência única que vale cada centavo.